Pe. Gilberto Kasper *
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No Dia do Trabalho partilho alguns pensamentos contundentes e coincidentes aos meus, de um querido amigo no Sacerdócio, o Padre João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu, da Diocese de São João da Boa Vista. Sei que os leitores se identificarão com as reflexões que seguem e tentam enriquecer nossa cidadania e dignidade!
As pessoas já não buscam trabalho digno, que as realize, porque a Cultura da Sobrevivência as obriga a contentarem-se com qualquer emprego, que lhes garanta o mínimo para sobreviverem, alimentando assim, suas famílias! Na Alemanha vive-se para o trabalho, já no Brasil trabalha-se para viver! A mão de obra está cada dia mais deficiente. As perguntas nas entrevistas são: quanto vou ganhar, quando vou folgar e no final, o que deverei fazer por esse salário. Os direitos não dão as mãos aos deveres. Se sobrepõem a eles. Muitos ainda preferem viver das “bolsas daqui e de lá”! Por que trabalhar, se posso ganhar sem nenhum esforço? Que dó ter de ser assim!
As notícias veiculadas em rede nacional, continuam falando diariamente de corrupção, propina, delação premiada, formação de quadrilha, cartéis… Parece um curso de bandidagem gratuito e à distância. Quando escuto os bilhões de dinheiro ilegal, desviado ou dado em propina, as propriedades que aqueles senhores ajuntaram e a vida que levavam até serem descobertos, vejo o desrespeito com que é tratado o povo brasileiro e as empresas públicas. As pessoas querem dinheiro fácil, rápido e a qualquer custo, jogando no lixo a honestidade e a retidão moral.
O “apego ao dinheiro” é a raiz de todos os males, já ensinava São Paulo na carta que escreveu a seu discípulo Timóteo (cf. 1Tm 6,10). Tal apego se transforma em idolatria desavergonhada em que “ter” dinheiro se torna a coisa mais importante na vida; tudo depende do tamanho do saldo da conta bancária. Dinheiro também responde por uma parte da afetividade, pois alguns entendem que serão notados conforme a etiqueta da roupa, a marca do sapato, o restaurante e o perfume que mostram um certo “poder” aparecer ou acumular certas amizades influentes.
O apego ao dinheiro esfria o amor e acende a idolatria que, de certa forma, mata o que é moral e correto. O desejo de ganhar muito dinheiro e sem muito esforço faz com que situações aparentemente simples, se tornem o início de grandes golpes futuros. A corrupção grande e badalada começa quando não devolvemos a moeda que recebemos “a mais” no troco; ou quando, em lugar do troco, recebemos uma balinha; a corrupção grande começa na pequena esperteza que, quando chega a golpes grandes leva os seus autores à pena de morte.
“A corrupção fede”, afirmava o Papa Francisco numa visita pastoral que fazia na Itália. O dinheiro que alimenta a corrupção é aquele que faz falta na educação, na saúde, nos hospitais; é o dinheiro que falta nos financiamentos escolares, que atrasa as pesquisas científicas e que clama aos céus por justiça. É o dinheiro que poderia ser revertido aos nossos Projetos Sociais, como os do FAC – Fraterno Auxílio Cristão, que muitas vezes, por falta de recursos necessários é remetido à UTI em coma induzido. Dinheiro de corrupção é dinheiro injusto conseguido com o sacrifício dos pobres que carregam e suportam a pesada carga de impostos do nosso País.
Acabar com a corrupção é o sonho e o desejo que invade o coração dos que alimentam a esperança na “verdade que liberta” (cf. Jo 8,32); extirpar esse mal que varre parte da vida humana é resgatar o valor do que seja “bem comum”, que é para todas as pessoas e é muito mais amplo que “bem estar pessoal”. E para que isso aconteça serão necessárias muitas batalhas em favor dos valores que fazem crescer o Reino de Deus entre nós. Não basta só constatar a corrupção e ficar indignados com ela. É preciso agir para que esse “câncer” social não destrua as boas ações em favor da restauração da sociedade. A omissão e o descaso são tão graves quanto o veneno anestésico das câmaras de gás dos campos de concentração.
Uma ação permanente e organizada no bem e nas virtudes do Evangelho servem como itinerário para a conversão pessoal e social desse mundo em que vivemos. Afinal, depois de mortos só levaremos o que couber em nossa pequena condução. E que São José, Operário, o Protetor dos Trabalhadores e Intercessor de uma “boa morte” nos inspire e ajude muito!
* Teólogo, reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres; pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila, presidente do Fraterno Auxílio Cristão de Ribeirão Preto e jornalista