A Igreja Santo Antoninho Pão dos Pobres, localizada na avenida Saudade nº 202, no bairro Campos Elíseos, na Zona Norte de Ribeirão Preto, passou por uma operação especial na manhã desta terça-feira, 23 de março. Um guindaste foi utilizado para retirar arbustos da torre.
A igreja é uma das mais antigas em atividade em Ribeirão Preto, fundada em 1903. A operação de limpeza do campanário contou com o apoio do 9º Grupamento do Corpo de Bombeiros e do engenheiro José Roberto Montero. A Mamute Guindaste foi contratada pelo reitor padre Gilberto Kasper, graças à doação de alguns devotos.
O guindaste entrou na área da igreja pela rua Rio de Janeiro, entre a avenida Saudade e a rua São Paulo. Os bombeiros e a Polícia Militar interditaram o trecho para operação de entrada e saída da parte de trás do prédio. Não foi necessário interditar a Saudade. O trabalho teve início por volta das 7h30 e só terminou no início da tarde, por volta das 13 horas.
Cinco funcionários da Mamute Guindaste trabalharam na operação, dois em cima da torre. Segundo o engenheiro José Roberto Romero, que foi secretário municipal de Infraestrutura por cinco meses na gestão da ex-prefeita Dárcy Vera, a obra está comprometida e pedaços da torre correm o risco de desabar.
“A alvenaria está toda comprometida, balaústres soltos… O perigo de cair pedaços é muito grande, os arbustos estavam até colaborando para uma estabilidade da estrutura”, diz Romero. Ele diz que deve enviar um documento para a Defesa Civil de Ribeirão Preto relatando os problemas que podem ocorrer.
“A torre da igreja precisa de um trabalho complexo de restauração”, emenda Para que isso aconteça, a reitoria da igreja, na figura do padre Gilberto Kasper, terá de relatar o caso para a Arquidiocese de Ribeirão Preto e acionar o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac).
A Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres foi tombada pelo Conppac em 9 de dezembro de 2009. Qualquer projeto de restauração precisa da aprovação do conselho. Segundo a obra “Igreja de Santo Antônio, Pão dos Pobres – 1903”, do arquiteto e urbanista Anderson Abe, o templo católico começou a ser construído no século XIX, entre 1892 e 1898, e foi fundado em 1903.
O projeto inicial é do engenheiro César Formenti. A Igreja de Santo Antônio Pão dos Pobres é parte integrante de um conjunto arquitetônico, cuja edificação principal é o casarão denominado “Villa Emília”, ao lado do templo, na avenida Saudade nº 222. O conjunto compreende, além da capela, outras edificações de uso comercial e residencial, como o casarão que sedia a Academia Ribeirão-pretana de letras Jurídicas.
O padre Gilberto Kasper, reitor da Santo Antoninho, disse ao Tribuna que há anos aguarda autorização do Conppac para restaurar a igreja. Além disso, a lei de tombamento do local engloba a casa ao lado, da Academia Ribeirão-pretana de Letras Jurídicas, que desde 7 de setembro de 2019 está em pedaços por causa de um incêndio. O Tribuna não cobnseguiu contato com o Conppac.
“A Arquidiocese de Ribeirão Preto não dispõe de recursos para restaurar a igreja. Nós já teríamos restaurado se as pendências tivessem sido resolvidas: a modificação da lei do tombamento englobando ambos os prédios; a reintegração de posse, já que pessoas residem no antigo Mosteirinho onde se encontra a torre, ocupando 22 metros de corredor, onze metros de fundos e parte da varanda incendiada da casa ao lado”, diz o padre
José Roberto Romero coordena um Grupo de Amigos da Santo Antoninho que antes da pandemia se reunia para estudar o restauro da igreja, com a motivação de arrecadar recursos, mas esses encontros foram suspensos por causa da covid-19. Kasper diz ainda que já pediu inúmeras vezes a “interdição” do Mosteirinho que abriga duas famílias. Cita ainda que “com muito custo conseguimos, graças ao então juiz João Gandini, a adjudicação da igreja da Academia de Letras.”
Anderson Abe elaborou os projetos de restauro que aguardam aprovação do Conppac até hoje. O padre, que está há 13 anos na Santo Antoninho, diz que está “rouco de tanto suplicar pelo restauro. Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Militar e Civil e o próprio engenheiro José Roberto Romero são testemunhas disso”, emenda.
“Nos 13 anos em que lá estou, fomos roubados 24 vezes. No início deste mês estive novamente na Delegacia de Polícia da rua Piracicaba porque roubaram a grade ‘tombada’ que fica sobre o muro que separa a varanda incendiada com o átrio da igreja. Mesmo em meio aos entulhos da casa ao lado consumidores de drogas continuam ocupando o espaço durante a noite. Colocamos alarmes, câmeras, concertinas e mesmo assim continuamos vulneráveis com um paisagismo horroroso pelo abandono do imóvel ao lado”, encerra Kasper.
A Igreja de Santo Antoninho em RP
O fundador da Igreja de Santo Antônio dos Pobres foi Alfredo Vianna Pinto de Souza. Em 27 de novembro de 1902, foi emitida uma provisão pelo bispo de São Paulo, dom Antônio Cândido de Alvarenga, autorizando a benção da Capela de Santo Antônio.
Então, foram autorizadas as celebrações de missas e demais ofícios divinos no local. A benção da capela mor de Santo Antônio, localizada na rua Saldanha Marinho, foi realizada em 10 de maio de 1903, ao meio dia, com a presença do povo de Ribeirão Preto e arredores.
Conforme Escritura de Testamento Público, datada de 19 de abril de 1989, a proprietária da Capela Santo Antônio dos Pobres era a senhora Hilma dos Santos Fonseca Mamede (última herdeira legítima viva na época), que por força de testamento, legou o templo para a Arquidiocese de Ribeirão Preto.
Ainda no mesmo testamento denominou como seu inventariante e testamenteiro o doutor Rubem Cione, advogado da família por longos anos, e contemplou como beneficiário da residência da família Proença da Fonseca o Museu Histórico de Ribeirão Preto, destinado pelo inventariante como Academia Ribeirão-pretana de Letras Jurídicas, em 24 de maio de 1994.
A Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres é dedicada a Santo Antônio de Lisboa. Está localizada na área geográfica da Paróquia Santo Antônio de Pádua, administrada pelos monges beneditinos olivetanos. Por ser uma reitoria, não é considerada paróquia e nem capela. Depende diretamente do arcebispo com vida rópria.
Fernando de Bulhões que assumiu o nome de “Antônio” ao ingressar junto aos frades franciscanos, é o mesmo santo: de Lisboa por ter nascido em Lisboa em Portugal e de Pádua, por ter morrido em Pádua, na Itália no século XIII. A família Proença dos Santos da Fonseca veio de Lisboa, Portugal, trazendo naturalmente sua tradição de fé católica de Santo Antônio de Lisboa.
Para diferenciar a igreja pequena da grande muito próxima geograficamente, passou-se a chamá-la de Santo Antoninho. Também a diferença do tamanho da reitoria e da igreja abacial fez com que se chamasse carinhosamente a igreja de Santo Antoninho, tão logo criada a paróquia com a imensa Igreja Abacial de Santo Antônio de Pádua em 1947.
A origem do atual nome da igreja se deu através da tradicional festa de distribuição de “pão dos pobres”, iniciada em 1919, pelos monges olivetanos, e que teve continuidade pelas mãos das irmãs Proença da Fonseca, uma delas chamada Dona Glorinha.