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Tom Jobim e o galo do presidente

Nos anos de 1950, quando o presidente Juscelino Kubitschek começou a construir Brasília, construiu também o Catetinho, que usava para se acomodar e despachar quando ia checar o andamento das obras, ele ainda é preservado. Catetinho foi cons­truído em lugar estratégico, de maneira que pudesse ver surgir no meio do serrado, a nova capital brasileira.

Juscelino no Rio de Janeiro, boêmio que era, amante da boa música, gozava da amizade de grandes músicos e poetas como Tom Jobim e Vinicius de Moraes e numa noite de grandes conversas, Juscelino convidou Tom para passar alguns dias no Catetinho, e conhecer onde seria a nova capital do país que ga­nhava as formas inconfundíveis de Oscar Niemeyer e quem sabe ali a inspiração o visitasse e assim pudesse compor a Sinfonia de Brasília, Tom topou na hora.

Dias depois desembarcou em Brasília. Contou ele numa en­trevista que levar seu piano de avião deu o maior trampo e pra ele passar na porta do palácio que era estreita, foi a maior loucura, levou também seu violão, instrumento que pode ser levado com facilida­de. Já instalado, a boemia só mudou de endereço, Tom gostava de compor de madrugada e assim seus dias foram passando e ficaram mais alegres com a chegada de Vinicius de Moraes.

Juscelino disse a eles que na mata atrás do Catetinho, havia uma trilha que poderia levá-los a uma magistral bica d’água. Na ma­nhã seguinte foram beber água da fonte, ficaram encantados com aquele presente, que a natureza dava pra humanidade, aquela água geladinha que brotava da terra. A veia poética bateu forte e eles até compuseram o belo samba “Água de beber camará”.

Tom e Vinicius, quebraram a cabeça pra atender o pedido do presidente, afinal compor uma sinfonia, requer detalhes dentro da harmonia e melodia que só compositores sabem como a coisa é complicada, fico imaginando, o autor fazendo arranjos para cada instrumento e olha que são dezenas, só sei que demorou mas desa­brochou, eles conseguiram compor a Sinfonia de Brasília.
O presidente Juscelino como bom mineiro, mantinha atrás do Catetinho, um belo galinheiro pra de vez em quando comer seu franguinho caipira com quiabo.

Os dias presidenciais foram seguindo musicalmente no pequeno palácio, as madrugadas eram enfeitadas por belíssimas melodias ao som do piano ou violão, quem andou pelas ma­drugadas, quem já participou de uma serenata, sabe o quanto é lindo o som de um violão naquele silêncio recheado de roman­tismo. Ah! Que saudades das minhas serenatas com inesquecí­veis amigos.

Voltando ao Tom e o galinheiro, numa madrugada, bateu-lhe inspiração e ele no piano danou a compor uma música, quem sabe “Água de beber camará”? Lá no seu poleiro, o galo ouvindo as notas musicais vindas do piano, também se inspirou e resol­veu mostrar o seu canto, estufou o peito e mandou ver aquele manjado cantar, seu canto ecoava madrugada a fora, entrando com tudo no ouvido do compositor, ao ponto de fazê-lo anotar notas erradas na partitura, e o seresteiro do galinheiro só canta­va, cantava e cantava. Tom não suportando mais e num ato de nervosismo momentâneo, deixou o piano, passou a mão numa vassoura e cismou de dar um fim no seresteiro do galinheiro.

Ao sair do palácio, foi indagado pelo sentinela… “Onde o senhor vai seu Tom”? E ele respondeu… “Vou matar esse galo fdp que está quase me enfartando”, assustado o sentinela retrucou no ato… “Seu Tom!!!… Esse não seu Tom, esse é o galo preferido do presidente…” Tom se acalmou na hora, deu meia volta e cama.

Essa história não virou música, mas uma coisa é certa…O galo do presidente, pra panela não foi (hehehe)…

Sexta conto mais.

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