Por Maurílio Biagi Filho, empresário
Ouso discordar da célebre frase “toda unanimidade é burra”, do genial Nelson Rodrigues. Tomo o Centro de Ribeirão Preto como exemplo: em boas décadas de vida, nunca encontrei um morador, independentemente da classe e papel social, contrário à sua revitalização. Trata-se, neste caso, de um sábio consenso.
Em uma cidade que saiu dividida das urnas no ano passado, na disputa mais acirrada desde a redemocratização, o Centro é um caminho pavimentado para a união. Quem ousará se opor a uma Avenida 9 de Julho novamente pujante, com lojas e restaurantes, revitalizada com a esperada conclusão das necessárias obras iniciadas pelo governo anterior?
Simbólico que a solenidade de posse dos integrantes do Executivo e do Legislativo, no primeiro dia de 2025, tenha se iniciado na Catedral. Um dos cartões-postais de nossa cidade, ela foi construída e mantida graças a movimentos que uniram a sociedade. Apesar disso, até hoje sua existência está em xeque, demandando recorrentes campanhas pela sua preservação – inclusive a intitulada “Salve a Catedral”, em prol do seu restauro, da qual orgulhosamente sou apoiador.
É o melhor exemplo de como todo o quadrilátero central requer cuidados permanentes, que vão muito além da rotineira zeladoria. São necessárias ações que favoreçam a sua vibrante vocação comercial, cultural, gastronômica – entre tantas outras. Se todos os caminhos levavam à Roma, em Ribeirão Preto eles desaguam no Centro: do chopp no Pinguim aos espetáculos no Theatro Pedro II, da Feira do Livro à Biblioteca Sinhá Junqueira, do Mercadão aos palacetes.
Governantes imprimiram os seus legados para o Centro, como a reforma do piso do Calçadão e as obras de mobilidade urbana. Essas intervenções na rotina de moradores, comerciantes e frequentadores renderam reconhecimentos e desgastes. Essencial que a nova gestão replique os acertos e previna os equívocos de seus antecessores. Mas que, igualmente, imprima o seu legado. A inércia, nesse contexto, será um retrocesso.
Não podemos abrir mão dos desejos de uma Praça XV rejuvenescida, de um Calçadão com mobiliário urbano que o torne ainda mais atrativo, do Edifício Diederichsen reaberto, da transformação em passeio público do trecho da rua Florêncio de Abreu defronte à Catedral, unindo as duas praças.
O Centro é quem melhor proporciona a convivência e a interação socioeconômica, sendo alicerce da nossa identidade ribeirão-pretana. Justamente por isso, é uma das raras unanimidades em nossa cidade. E, reforço, uma unanimidade sábia.
Sabiamente, aliás, o prefeito Ricardo Silva, com sua característica energia, já manifestou que o Centro terá destaque em sua administração. Assumiu com caminhos abertos para realizar um trabalho exemplar. Com políticas públicas eficientes e democráticas, ouvindo a população e entidades representativas, certamente o governo receberá uníssonos aplausos.
Afinal, Ribeirão Preto sonha com um Centro revitalizado, à altura da história e importância de uma das maiores cidades brasileiras, com um projeto de longo prazo que seja referência internacional. Se discordo de Nelson Rodrigues, esperançoso concordo com Milton Nascimento: os sonhos não envelhecem.
São muitas pessoas, movimentos e instituições que, além de sonhadores, atuam efetivamente na transformação da região central. Como seria inviável nominar cada um, os reúno na figura do padre Chico, da Isabel de Farias e de Renato Aguiar, trio que tanto nos inspira e é merecedor de nossos aplausos à frente da Campanha “Salve a Catedral”, que a cada dia ganha mais corpo, mas que ainda precisa de muito mais para ter seu objetivo alcançado. Revitalizar o centro é preservar a história e construir um futuro vibrante. Ribeirão Preto merece um coração pulsante—junte-se a nós e faça parte dessa transformação. Salve a Catedral, salve nossa identidade e viva o Centro!