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‘Tio’ Pedro Omar troca gramados pelo pátio de escola em Ribeirão 

Bola de Prata em 1973, ex-volante, ídolo do América-MG, não olha para trás (Hugo Luque)

Por Hugo Luque 

A manhã se aproxima do fim em uma escola particular na zona Sul de Ribeirão Preto. Pedro Omar, 75 anos, ajuda a organizar o pátio e a conter a gritaria durante o recreio. Uma rotina muito diferente para quem disputou um Fla-Flu no Maracanã lotado. Mas ele não olha para trás. 

Para entender a mudança, é importante voltar no tempo. Pedro Omar, hoje, é ribeirão-pretano. Contudo, de origem, é capixaba. Natural de Castelo (ES), sabe quão difícil é para um jogador de futebol profissional fincar raízes. 

“Comecei no Espírito Santo. Era garoto e fui para o Fluminense aos 16 anos, onde fiquei na base até os 20. Profissionalizei no América-MG, fiquei quatro anos lá. Depois, fui para o Flamengo. Em seguida, Náutico, Ponte Preta, Marília, Comercial e encerrei minha carreira no Paulista, de Jundiaí”, conta. 

Volante de ofício, jogou com grandes nomes, como Zico, Júnior, Dadá Maravilha e Oscar. Sua técnica apurada logo chamou a atenção dos torcedores do América. Ainda jovem, estreou nos gramados profissionais em uma época que o futebol brasileiro passava por mudanças, sobretudo com a criação do Campeonato Nacional de Clubes, o Brasileirão, em 1971. 

O Coelho não fez boa campanha e acabou eliminado na primeira fase, no Grupo B, que tinha equipes como São Paulo, Flamengo, Santos, Grêmio, Botafogo e o campeão Atlético-MG. Mesmo assim, aquele esquadrão ficou eternizado na história. 

Ídolo mineiro 

Em suas várias facetas geográficas, o capixaba de nascença logo se transformou em belo-horizontino. A eliminação precoce não foi suficiente para manchar o ano mágico em que o Campeonato Mineiro voltou a ser pintado de verde. Na época, a torcida lamentava a seca. 

O Coelho não era campeão estadual há 14 anos, desde 1957, quando levantou o último troféu da fase considerada amadora do torneio – o Campeonato Citadino de Belo Horizonte. Cada vez mais dominada por Atlético e Cruzeiro, a competição tomou outros rumos naquele 1971. De forma invicta, o “Abacate Atômico”, liderado por Jair Bala, deixou pelo caminho o Galo de Telê e o Cruzeiro de Tostão e companhia, com 16 vitórias e seis empates em 22 partidas. 

O feito foi tão impressionante que o clube só voltou a levantar o troféu em 1993, mais de duas décadas depois. Pedro Omar fechou aquele ano com um gol marcado, mas o melhor ainda estava por vir. 

Em 1973, veio o auge da carreira do meio-campista. Foram 40 jogos pelos mineiros, com cinco gols marcados, uma quinta colocação na primeira fase do Brasileiro e o prêmio Bola de Prata, dado aos melhores de cada posição no nacional. Naquele ano, Pedro Omar dividiu a seleção do campeonato com craques como Pedro Rocha e Mirandinha, ídolos do São Paulo, Alfredo Mostarda, do Palmeiras, e Zé Maria, ícone da lateral corintiana. 

“Fizemos um Brasileiro muito bom e fui eleito o melhor jogador da minha posição no Brasil, o único jogador do América na história a ganhar uma Bola de Prata”, lembra. 

Chegada ao Comercial 

Após o grande sucesso, o esquadrão americano se desmanchou. Mesmo assim, o reconhecimento perdurou, e uma matéria de 2012, publicada no Lance!, colocou 11 especialistas para montarem o time ideal do centenário América. Pedro Omar recebeu cinco votos e foi eternizado novamente na história do clube. 

Saíram ídolos como Juca Show e Neneca. Pedro Omar foi comprado pelo Flamengo. Logo na estreia, foi titular em um 2 a 2 com o Bonsucesso-RJ, com gols de Zico e Luxemburgo. Depois, ainda entrou em campo diante de 87 mil torcedores, no Maracanã, em um clássico com o Fluminense. 

Pedro Omar, então, defendeu as cores de Náutico – onde reencontrou Neneca –, Ponte Preta e Marília antes de chegar ao Comercial, em 1977. No Palma Travassos, o volante se sentia bem. “Sempre gostei da cidade, sempre gostei do clube. O Comercial tinha outra realidade, um time muito forte. Disputei três paulistas e também a Série B, sempre com boas campanhas.” 

Seu último ano no Leão foi 1980. Depois disso, foi para o Paulista, onde pendurou as chuteiras. “Você tem de saber a hora de parar. Quando eu tinha 35 anos, estava em um time de segunda divisão e, com essa idade, não ia voltar mais para a primeira. Resolvi parar e acho que foi na hora certa, com cabeça boa, para trabalhar em outras atividades”, analisa. 

‘Vô’, cidadão de Ribeirão 

Logo após se aposentar dos gramados, Pedro Omar recebeu uma proposta para ser supervisor no Comercial, em 1984. Quatro anos mais tarde, decidiu se aventurar como treinador. A experiência, todavia, não foi das melhores. 

“Trabalhei no estado de Minas Gerais todinho e em dois times do Espírito Santo. É pior do que ser jogador, principalmente em times menores, de divisões inferiores. Você não joga, só orienta. Qualquer falha, a culpa é sua. É uma carreira ingrata, injusta.” 

Após deixar o banco de reservas, Pedro Omar retornou de vez para solo ribeirão-pretano, onde trabalhou no antigo Iate Clube e no Palestra Itália. Em 2002, iniciou sua nova missão: ajudar a formar jovens. 

Na escola onde trabalha até hoje, o Bola de Prata se vê em casa. As gerações que passam pelo colégio o conhecem por um apelido: vô. É a prova do carinho dos alunos para o mestre, mesmo aqueles mais novos, que não fazem ideia de quão perto vivem da história do futebol nacional. 

“Gosto desta área. Tenho facilidade de comunicação com os jovens, sou respeitado. Temos amizades com a criança de dois anos até o ensino médio, jovens de 14 e 15 anos. São todos conhecidos, amigos, que convivem bem comigo, me respeitam.” 

Sem pretensão de deixar a cidade, Pedro Omar criou laços em Ribeirão. Seja para a família de sangue ou a formada na escola, ele busca passar seu conhecimento. O mais importante, segundo o ex-jogador, é não olhar para trás. “Quando parei de jogar futebol, jamais senti falta. Você tem de se posicionar, esquecer que jogou, porque aquilo não vai te levar a nada. Tem de seguir novos rumos e aprendizados, sempre tocar a vida para frente. Estou aqui hoje, trabalhando no pátio dos garotos. É disciplina, respeito e estudo para ser alguém na vida, então tento passar tudo de bom para eles”, completa. 

 

 

 

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