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Tim Maia e Nelson Motta, quantas histórias…

Estes dois artistas da frase título viveram histórias de tirar o chapéu. Quando meninos, um era da Zona Norte e o outro, da Zona Sul do Rio de Janeiro. Um filho de um homem que para manter a família tocava uma pensão e servia marmitas para a vizinhança, o outro filho de um ricaço de Ipanema. Mas eles tinham algo em comum: gostavam de música e foi a música que fez com que os dois se aproximassem.

Nelson Motta conta que quem entregava as marmitas era o menino Tim, ou Sebastião Maia, nome de batismo que o músico famoso herdou do pai. A molecada o chamava de Tião. Quando o menino Tião conheceu a tal maconha, logo o apelidaram de “Tião Maconheiro”. Ele usava um cabo de vassoura em que dependurava as marmitas. Até parecia com aqueles pescadores chineses carregando seus pescados. O mesmo cabo de vassoura ele usava em suas brigas de rua – Erasmo Carlos que o diga!

Tim, no trajeto para entrega das marmitas, surrupiava misturas e mandava ver, isso quando não parava no campinho para bater uma bola com a meninada. Outro do mesmo pedaço era Erasmo Carlos. Quem ensinou os primeiros acordes de violão para Erasmo foi Tim. Nelson Motta conta que eram apenas três: mi maior, lá maior e si maior. Com esses três acordes eles tocavam muitos sucessos do rock americano, cujas músicas eram executadas com poucas posições no braço de um pinho.

A Jovem Guarda ainda não havia estourado e eles tentavam, com esses acordes, tirar no violão a bossa nova do momento, a música “Desafinado”, cantada por João Gilberto, “o papa da Bossa Nova”, mas as harmonias eram complicadas para a época.

Nelson Motta lembra que, com 16 anos, Tião “Tim” Maia vivia dizendo que iria morar nos Estados Unidos com uma família, naquele lance de intercâmbio. Era mentira, mas ele falava tanto que acabou acreditando ser verdade. Para tal desejo precisava de grana, e fez rifas e mais rifas. Para comprar a passagem só de ida, o pároco da igreja em que Tim sempre cantava em festinhas desembolsou o restante.

E lá foi Tião. Para sua decepção, ninguém o esperava no aeroporto e logo descobriu que nada seria fácil. Acordou ali de seu sonho, começou a batalhar por um “trampo”, trabalhou em bares, foi entregador de pizza, conheceu uma turma da pesada, mudou seu nome para Tim Maia e nessa onda aprendeu um inglês perfeito. Passou a adorar a música negra americana, participava de uma banda fera, aprendeu muito com os músicos de lá.

Rolava a guerra do Vietnã e ele corria o risco de ser mandado para o exército e servir na guerra, a vida seguiu até que uma noite foi detido com amigos fumando maconha dentro de um carro roubado. Foi preso e, depois, deportado. Na volta ao Brasil, deu de cara com seus amigos de infância fazendo enorme sucesso com a Jovem Guarda. Sua antiga fama o atrapalhou por algum tempo, mas seu talento superou tudo e ele conseguiu gravar um LP que de cara foi sucesso nacional.

Não parou mais. Se por um lado era genial, do outro era o que sempre foi. Vejam esta história contada por Nelson Motta. Ele era diretor da gravadora Warner quando Tim Maia gravou um show ao vivo que foi sensacional. Ele procurou Nelson Motta para negociar a fita e fazer um lançamento nacional, pediu US$ 30 mil pela obra mais 16% das vendas. Negócio fechado, o LP estourou em vendas.

Tim deu uma entrevista dizendo-se traído por Nelson Motta, que muito chateado cortou relações com o velho “sindico”. Passado algum tempo, Nelson Motta recebeu uma ligação de Tim pedindo desculpas. Passou a borracha nas besteiras do Tim e brincou: “Eu e minha família gostamos tanto de você que minhas filhas colocaram seu nome no gatinho delas”. Tim não perdeu o tom e falou: “Já sei, o gato é gordo, preto e cafajeste”. “Não”, disse Nelson, “o gato é cinzento, magro e amoroso…” Riram bastante da situação e a vida seguiu.
Sexta conto mais.

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