Tribuna Ribeirão
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Tico-tico e pardal 

Sérgio Roxo da Fonseca *  
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Taís Costa Roxo da Fonseca ** 
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Numa época de graves e desumanos conflitos bélicos, marcando profundamente a história do homem no planeta terra, surge da profundeza da nossa memória o hipotético conflito entre os pássaros tico-tico e pardal, o primeiro surgido no Brasil e o segundo no oriente asiático e importado pela Europa, quando já sobreviveu com extensão na Itália e em Portugal. As versões das suas histórias não são múltiplas, mas com certeza, são muitas. 
 
O tico-tico é pássaro do continente americano que teve como plano histórico o Brasil que o elevou às nuvens. Como já registrado, o pardal teria surgido no continente asiático, tendo se espalhado por todo o globo terrestre. Os pássaros lutam entre si como os homens? 
 
O nome adotado pelo tico-tico teria surgido do seu canto, enquanto do pardal surgiu do latim, “passer”, bem demonstrando a antiguidade de sua sobrevida, especialmente pela Itália, onde recebeu o batismo em latim. O pardal habita quase todas as esquinas italianas.  
 
O pardal veio para o Brasil em 1903, por força do trabalho realizado pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, conhecido pelo apelido de “Bota-Abaixo”, pelo número de prédios derrubados e reconstruídos, pelo menos o seu centro urbano. O “Bota-Abaixo” era engenheiro, com pós-graduação em Paris, onde recebeu forte influência de Hausmann. O Rio de Janeiro havia sido batizado como a “Cidade da Morte”, foi então rebatizado como “Cidade Maravilhosa”. Até hoje? Se a resposta for negativa, necessário se torna descobrir onde oculta um novo e atual “Bota-Abaixo”. 
 
Os técnicos são unânimes em afirmar que o pardal deu-se maravilhosamente bem no Brasil. Tendo sido introduzido na época da explosão da cultura cafeeira. Muitos profetizavam o seu desaparecimento precoce. O que se deu foi o contrário. O pardal espalhou-se rapidamente por todo o território brasileiro. Com ou sem cultura cafeeira. 
 
E por onde andou o tico-tico? Como pássaro, praticamente desapareceu. Mas coube a ele inspirar o músico Zequinha de Abreu que, em Santa Rita do Passaquatro, compôs a música “Tico-tico no farelo” que depois foi rebatizada como “Tico-tico no fubá” por Eurico Barreiros e Aloísio de Oliveira. 
 
A música até hoje faz grande sucesso após seu lançamento por Carmem Miranda nos Estados Unidos. Carmem Miranda nasceu em Portugal e morreu nos EEUU, mesmo assim é considerada uma das mais extraordinárias cantoras brasileiras. 
 
O “Tico-tico no fubá” tornou-se sucesso por lá chegando a ser reproduzida por Ray Conniff. Algumas orquestras dedicadas à música clássica conseguem até hoje encantar os apreciadores estrangeiros. No Brasil, as orquestras magistrais condenaram ao esquecimento a composição de Zequinha de Abreu! E a sua versão popular vai desaparecendo como o pássaro que lhe deu o nome… 
 
E o pardal tornou-se campeão com o seu canto miado? Venceu o tico-tico? E a “Cidade Maravilhosa” caminha pelas trilhas do tico-tico? Onde se encontra o “Bota-Abaixo”? E a Carmem Miranda que quando nasceu em Portugal era Maria do Carmo Miranda da Cunha, sendo renomeada no Brasil como “Pequena Notável”, onde se escondeu? Faz sentido investigar por onde canta o tico-tico? E a “Pequena Notável” e a “Cidade Maravilhosa” onde se esconderam? E o Brasil? 
 
* Advogado, professor doutor, procurador de Justiça aposentado e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras 
 
** Advogada 

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