O tsunami político provocado em Ribeirão Preto pela Operação Sevandija está longe de terminar. Perícia realizada pela Polícia Federal (PF) no celular do empresário Marcelo Plastino, um dos principais alvos da força-tarefa, dono da Atmosphera Construções e Empreendimentos, e que cometeu o suicídio em novembro, trouxe a público uma série de novidades em relação aos desdobramentos do maior escândalo político da história da cidade.
Desta vez, uma análise da PF em arquivos de texto, conversas no WhatsApp e arquivos de imagem cita o suposto envolvimento de seis vereadores da atual legislatura em denúncias de “mensalinho”, apadrihamento político e cabide de emprego. No total, são mais de 30 nomes citados pelo acusado de pagar propina a funcionários da Prefeitura de Ribeirão Preto e ex-parlamentares para se beneficiar de licitações fraudadas.
Para a Polícia Federal (PF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o material encontrado no celular reforça a tese de que o empresário se preparava para fazer um acordo de delação premiada. Um dos nomes citados na planilha é o do atual presidente da Câmara, Rodrigo Simões (PDT), e que ocupou cargo na legislatura passada. Plastino citou que pagava R$ 5 mil por mês ao pedetista, que conheceu através do ex-advogado do Sindicato dos Servidores Municipais Sandro Rovani, que está preso em Tremembé.
Maurício Gasparini (PSDB), que também ocupava cadeira na Câmara na legislatura 2013-2016, é citado na planilha por supostamente ter pedido R$ 20 mil a Plastino, durante um encontro em um restaurante da cidade. Os nomes de Simões e Gasparini já tinham sido mencionados pela Sevandija, quando as inscrições “RS” e “MG” foram encontradas entre outras em notas de R$ 2 apreendidas em um cofre do empresário. Para a PF e o Gaeco, as cédulas eram uma suposta contabilidade do esquema de propina.
Sobre Adauto Marmita (PR), Plastino citou que o vereador era contratado pela Atmosphera para atuar na administração municipal, mas nunca trabalhou de fato. O empresário afirmou na lista que o ponto de presença dele era falsificado. O parlamentar nunca negou que trabalhou com o ex-presidnte da Casa de Leis, Walter Gomes (PTB) – também preso em Tremembé –, que o indicou para a Atmosphera. Mas também sempre negou ser funcionário fantasma.
Ainda segundo a PF e o Gaeco, citação semelhante é feita ao recém-empossado Ariovaldo de Souza (PTB), o Dadinho, que assumiu a vaga de Waldyr Villela (PSD), afastado por suspeita de atuar como falso médico. Plastino diz que Dadinho era o homem de Walter Gomes
Jean Coraucci (PDT) aparece na planilha como funcionário da Atmosphera para atuar na administração, mas teria recebido dois meses de salário com a folha em branco, ou seja, sem de fato trabalhar. O empresário cita ainda Alessandro Maraca (PMDB), que teria feito indicações a cargos.
Rodrigo Simões sempre negou envolvimento com Plastino e qualquer tipo de irregularidade. Ele desafia qualquer pessoa a provar sua suposta participação em qualquer esquema ilícito. Ele admite conhecer Rovani por conta do Rotary Club, do qual os dois são integrantes. “Faço um desafio pra alguém mostrar qualquer tipo de gravação do Rodrigo Simões com o finado Marcelo Plastino”, diz.
Gasparini é outro que já explicou a citação de seu nome por Plastino. O empresário o procurou para fazer uma doação de campanha, mas ele não compareceu ao encontro e foi representado pelo irmão Marcelo Gasparini. Na conversa, ele deixou claro que qualquer doação de campanha deveria ser feita entro da legalidade, com emissão de recibo e tudo mais.
Maraca nega ter conhecido Plastino e afirma que não tinha nenhuma condição de fazer indicações porque nem vereador ele era na época em que aconteceram as denúncias. Dadinho diz que que sempre agiu dentro da lei e que nunca teve acesso aos documentos que mencionam que ele era funcionário fantasma. Jean Coraucci trabalhou por 12 anos na administração pública como analista de sistemas, incluindo alguns anos na Coderp, mas nega ter sido funcionário “fantasma”. Ele também ressalta que é o maior interessado no caso para que a verdade venha a público.
Conselho de Ética e Gaeco – As novas revelações do relatório entregue pela PF à Justiça levaram o Conselho de Ética da Câmara a convocar uma reunião extraordinária para o início da próxima semana. Segundo Lincoln Fernandes (PDT), presidente do órgão, é preciso ter serenidade neste momento porque o caso é complexo, Lembra, ainda, que muitos dos citados nem eram vereadores à época. Já o promotor Leonardo Romanelli, do Gaeco, diz que os vereadores citados por Plastino podem ser alvo de investigação no futuro, caso apareçam indícios da participação deles no esquema.
Deflagrada em setembro de 2017, a Operação Sevandija apontou que a Atmosphera era usada como cabide de empregos por nove vereadores da base aliada de Dárcy Vera. Eles indicavam apadrinhados políticos para cargos terceirizados pela Coderp na Atmosphera e, em troca, aprovavam projetos de interesse do Executivo.
Durante a investigação, a força-tarefa registrou uma conversa da então prefeita com o superintendente do Daerp Marco Antônio dos Santos, em que discutiam a compra de apoio político na Câmara. Ainda de acordo com os promotores de Justiça, os parlamentares recebiam propina e os pagamentos eram feitos em encontros chamados por Plastino de “café”.