Os dias de hoje atraem ainda os olhos dos brasileiros quanto à unidade cultural e física da imensa Pátria que herdamos dos nossos antepassados. A extensão territorial e a falsa divisão intelectual surgem como uma das importantes chaves para abrir essa pesada e valiosa porta convertida num aparente e falso marco divisório.
Vale voltar pelos caminhos de Roma. O Império Romano foi dividido jurídica e territorialmente no dealbar da Idade Média: surgiram o Império Romano do Ocidente, cuja capital permaneceu em Roma e o Sacro Império Romano do Oriente que, segundo autorizados autores, não era sacro, não era império, não era romano e ficava no ocidente. Recebeu então o nome de Império Bizantino, nome possivelmente herdado de um pescador grego que residia naquelas imediações.
O pescador, para quem acredita nessas voltas históricas, chamava-se Bizas. Sua capital era Constantinopla, que foi rebatizada pelos turcos, hoje conhecida como Istambul. Dividido o grande império, desmoronou a unidade jurídica e política. Iniciou-se assim a agonia da grande nação, cujo território despedaçou-se, fraturando, portanto, a sua história.
Os bizantinos, sob o reinado de Justiniano, deixaram várias demonstrações do seu poder. Foi Justiniano (482-565) que decretou o fechamento da Escola de Aristóteles, o Liceu, fundado em 325 antes de Cristo, sob o argumento de propagar lições contrárias ao cristianismo, que na época já era a religião oficial. Necessário constar que o Brasil ainda não tem nenhuma escola com a idade de duração do Liceu peripatético de Aristóteles.
Em contrapartida, foi Justiniano que uniu dez juristas do oriente para reescrever a estrutura jurídica do direito de Roma. A obra recebeu o nome de “Corpus Juris Civilis” que foi inaugurado com o imorredouro artigo: “jus est ars boni et aequi: honeste vivere, cuique tribuere et neminem laedere” (“o Direito é a arte do bom e do justo: viver honestamente, dar a cada um o que é seu, não lesar ninguém”).
Seria possível examinar o Brasil, terra extensa, por vários ângulos. Todos eles com sua singular importância. Um deles é o olhar histórico que se faz pelas lentes romanas.
No passado, indagado a um autor a razão pela qual o Brasil é dotado de tão largo território, muito ao contrário do que ocorreu com os países originários da colonização espanhola, foi colhida a seguinte resposta: “o Brasil sempre manteve uma unidade religiosa, militar e monetária”. É possível contrariar a verdade aí contida, não pela sua essência, pois é necessário dizer que os pressupostos foram e são verdadeiros.
Os brasileiros são brasileiros. Os imigrantes que aqui chegam imediatamente tornam-se brasileiros por ato de sua exclusiva vontade. É muito bom viver no Brasil e conviver aqui como brasileiro.
Tivemos gravíssimos problemas. Enfrentamos algumas duras e absurdas ditaduras que, muito embora tenham cometido crimes e pecados, não conseguiram alterar o fundamento da alma brasílica.
Nesta dificílima pandemia, que assassina um número absurdo de brasileiros e de brasileiras, presenciamos o aparecimento de um ódio nunca visto, manchando a nossa alma e a alma do Brasil. As pessoas que têm opinião contrária passaram a se tratar com um sentimento odioso como se, de um momento para outro, os brasileiros tornaram-se inimigos figadais dos brasileiros, absurdamente contra a história do Brasil e contra a alma de todos nós. Divergir não significa odiar. Entre nós, nunca significou.
Ou o ódio será cancelado do atual relacionamento dos brasileiros, ou temos que confirmar que estamos matando a Pátria antiga e inaugurando uma cujo destino ninguém conhece.