Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
O ano de 2024 começa com um novo caso de gêmeas siamesas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. É a terceira ocorrência desde 2018, quando a equipe de neurocirurgia pediátrica realizou, com sucesso, a primeira separação. Este novo caso começou a ser mapeado durante a gestação e, recém-nascidas prematuras, as bebês deverão passar por exames mais detalhados em breve.
As irmãs são de São José dos Campos. Segundo o médico responsável pelo setor de Neurocirurgia Pediátrica, Dr. Hélio Rubens Machado, haverá preparação para que os exames possam ser realizados com segurança. Entre os procedimentos necessários estão o como o estudo dos cérebros, veias e estruturas unidas, entre outros detalhes, para iniciar o planejamento cirúrgico.
Ainda não há previsão de separação. A previsão é que apenas as etapas pré-operatórias levem todo este ano. O especialista destaca que é mais uma cirurgia extremamente complexa e que envolverá grande equipe de profissionais. Há etapas de preparação também com a família.
Machado explica que o primeiro contato com este caso de gêmeas siamesas foi em novembro do ano passado quando ele recebeu a imagem 3D de ressonância magnética intrauterina. Deverá ser um procedimento diferente dos anteriores a ser realizado até os dois anos de idade das crianças.
De acordo com a comunidade científica, a proporção de nascimento de gêmeos unidos por alguma parte de corpo é de pelo menos um a cada 100 mil nascimentos. Esse número sobe para um a cada 200 mil quando a junção é pela cabeça. Nos casos anteriores foram quatro cirurgias preparatórias e a separação que inclui a cirurgia plástica de reconstrução dos crânios.
Nem mesmo os médicos explicam por que os casos de gêmeos siameses são mais frequentes em meninas. Há crescimento de ocorrências recentes mundialmente nos últimos anos e a sobrevivência pós cirurgia também aumentou.
O médico coordenador diz que conforme há avanço tecnológico os procedimentos tendem a obter mais sucesso. Em 2018 um modelo cerâmico ajudou os especialistas. Já em 2023 a realidade virtual foi o grande diferencial. Agora a expectativa é de uso da neuronavegação – como um “GPS” que oriente o trabalho nos cérebros – e até mesmo a robótica facilitando as cirurgias já que os procedimentos são longos e desgastantes.
As bebês estão internadas na UTI de prematuros do Hospital das Clínicas e somente poderão passar pela primeira ressonância magnética quando tiverem o peso e condições gerais de saúde satisfatórios. Para o Machado o êxito em procedimentos como este são maravilhosos e elevam o patamar da medicina brasileira.
Relembre os outros casos
Em novembro do ano passado o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto promoveu o encontro das famílias dos dois primeiros casos de gêmeas siamesas separadas. As irmãs Allana e Mariah concluíram o procedimento de separação em agosto, já Maria Ysabelle e Maria Ysadora foram separadas em 2018.
Hélio Rubens Machado afirma que a confraternização das famílias com todos os envolvidos marca a história da instituição. Ele destaca que cada um destes casos é único, raro, os mais complexos da especialidade.
Aos 7 anos de idade, Maria Ysabelle e Maria Ysadora frequentam a escola e seguem sendo assistidas pela saúde pública do Estado do Ceará. Allana e Mariah também já voltaram para a casa da família em Piquerobi, no interior de São Paulo. As meninas seguirão sendo acompanhadas pela equipe multidisciplinar do serviço especializado em uma cidade vizinha.
O caso mais recente de separação prevê um retorno ao HC ainda nos primeiros meses deste ano para novos exames e avaliações médicas e de reabilitação.