Por Thaís Ferraz, especial para AE
A atriz Deborah Secco, que deu vida à personagem Bruna Surfistinha, declarou estar “um pouco chocada” com as recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou não poder “admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha”.Em nota oficial, Deborah afirmou que o filme é importante porque “retrata não só a história real de uma garota de programa, mas de outras milhares de mulheres que se encontram nessa situação”. A atriz disse que o objetivo do filme era promover um debate. “Uma das funções da arte é essa”, escreveu.
Deborah defende, ainda, que filmes continuem abordando temas espinhosos. “Não adianta esconder o que existe. Seria ótimo que nenhuma mulher passasse por uma situação como essa, mas a realidade não é essa”, afirmou. “Tenho muito orgulho de ter feito esse filme, com ele aprendi muitas coisas, e espero que tenha mexido com as pessoas também”, finalizou.
Diretor da produtora TvZero, que assina o filme de 2011, Roberto Berliner também se manifestou sobre o tema. “Vemos com muita preocupação o posicionamento do presidente a favor de criar um ‘filtro de conteúdo’ na produção audiovisual financiada via mecanismos de fomento”, escreveu em nota oficial.
Berliner afirma que o filme é um sucesso artístico e comercial e defende a importância da indústria brasileira do audiovisual. “O investimento público, nesse caso, se justifica por todos os pontos de vista: artísticos, cultural e econômico”, diz.
Confira as duas notas na íntegra:
Deborah Secco
“Eu fiquei um pouco chocada do filme Bruna Sufistinha ter sido colocado nesse lugar, porque é um filme que retrata não só a história real de uma garota de programa (Raquel – conhecida como Bruna Sufistinha), mas de outras milhares de mulheres que se encontram nessa situação. O que a gente queria com o filme era debater, falar sobre o assunto, saber como elas lidam com isso e como a população lida com essa realidade. E uma das funções da arte é essa, é fazer com que todos consigam debater, resolver questões que por milhares de vezes são esquecidas ou escondidas, então, eu defendo muito que cada vez mais possamos falar sobre diversos temas até porque não adianta esconder o que existe. Seria ótimo que nenhuma mulher passasse por uma situação como essa – se vender para sobreviver, mas a realidade não é essa. Precisamos sim falar de determinados assuntos e procurar soluções através de debates, nenhuma realidade deve ser escondida. Tenho muito orgulho de ter feito esse filme, com ele aprendi muitas coisas, e espero que tenha mexido com as pessoas também.”
Roberto Berliner
“Ontem, em um evento oficial do Governo Federal, o filme Bruna Surfistinha, produzido pela TvZero, foi usado como exemplo de obras que não deveriam ter sido produzidas com investimento público. Vemos com muita preocupação o posicionamento do presidente a favor de criar um “filtro de conteúdo” na produção audiovisual financiada via mecanismos de fomento.
Bruna Surfistinha é um sucesso artístico e comercial. O investimento público, nesse caso, se justifica por todos os pontos de vista: artístico, cultural e econômico. Oito anos já se passaram desde o seu lançamento e, desde então, a indústria do audiovisual no Brasil não parou de crescer. Graças às políticas públicas para a área, hoje somos 13 mil empresas que geram mais de 300 mil empregos e injetam mais de R$ 25 bilhões por ano na economia. Filmes como Bruna Surfistinha ajudam a movimentar a economia brasileira, ativando toda a cadeia de produção, da criação à exibição.
O Brasil é diverso, cheio de histórias que merecem ser contadas. Prostitutas, médicos, loucos, negros, índios, brancos, cegos, ricos, pobres, artistas, músicos, pessoas desconhecidas, famílias. Queremos continuar a contar todo tipo de história, com o respeito que cada uma merece. Bruna Surfistinha é apenas uma delas.
A cultura é fundamental para a evolução do ser humano, assim como a ciência e o conhecimento. Sem diversidade e liberdade não se evolui.”