Tribuna Ribeirão
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Tempo, tempo, tempo 

(em cartaz na Escola Bauhaus)

Miguel Angelo Barbosa *
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Vamos pensar no conceito de academia:

Desde a primeira academia, fundada por Platão no Jardim de Academus em 387 a.C. as pessoas se reuniam para discutir o saber, trocar conhecimento e tornar o discernimento humano melhor.

O túmulo de Academus localizava-se perto de Cerâmico, o cemitério de Atenas, e era rodeado por um jardim sagrado, no qual se plantaram doze oliveiras e onde foi construído um altar dedicado à deusa Atena. Era onde Platão se reunia em conferências com os seus discípulos. O termo “academia” usado hoje, provém dessa primeira escola de Platão, no bosque Academia e se manteve em funcionamento por mais de novecentos anos.  O jardim era um local sagrado para Atena, deusa da sabedoria e para outros imortais. Academus era um herói troiano, da famosa Guerra de Tróia.

Na mitologia grega, Cronos era o deus do tempo, rei dos titãs e uma das divindades da primeira geração de deuses.

Os sábios sempre encontraram um lugar para trocar ideias, ouvir o diferente e criar sínteses. À medida que avançamos para trás no tempo, não encontrando explicações, empiricamente comprovada, o ser humano na sua incapacidade de desvendar de imediato, pois conhecimento é forjado pelo tempo, atribuíram muitas causas e lançaram suas dúvidas, também, sob a conformação divina, sendo assim, acalmava seu espírito especulativo em uma deidade, ficando resguardadas suas dúvidas sob uma cortina de fumaça chamada religião. O papel das academias ao longo dos séculos foi de guardar e resguardar, discutir, difundir e apoiar os avanços do conhecimento. O conhecimento é aberto, moldável, interdisciplinar, aliás holístico. O conhecimento é passado de mão em mão a quem se interessar. Quem quiser ficar de fora, nas crenças fantasiosas, nos achismos, nas narrativas ficcionais que querem que sejam verdadeiras, na ideia dogmática de manutenção de valores comportamentais criados por quem quer manter dominadores e dominados, que fique!

A arte superou a imposição do conhecimento acadêmico, portanto, quem quiser fazer sua arte livremente deverá conhecer as técnicas sacramentadas ao longo dos séculos, pois facilitarão dar forma a este mundo imaginário da criação artística. Senão a ideia, que até pode ser boa, não atingirá a percepção das pessoas no resultado da expressão final. O vale tudo da arte contemporânea é falso, as artes visuais devem continuar sendo uma poética no seu resultado final. Mesmo quando usaram a arte para protestar contra o status quo como o dadaísmo o fez, usaram de técnicas de subversão estética.

O tempo nos faz perceber a evolução. Nada é parido de si mesmo e no mesmo instante. O tempo arquiteta o DNA da História. Em tudo há construção, e para isso necessita o tempo. A evolução da matéria, das espécies etc., depende do inter-relacionamento tempo, espaço. Átomos reagindo, criando moléculas adaptáveis com o meio ou reagindo a ele, ou se dissolvendo no tempo e espaço, permitindo novas reações.  

Nesse momento, quantas coisas estão acontecendo simultaneamente?

Quantos bebês nascendo? Quantas pessoas morrendo em seu leito? Outros estão acionando bombas numa guerra, outras vítimas de agressão. Tempo, natureza, modo e lugar em existência em todo o cosmo.

O tempo está sendo revisto e recriado nesta exposição, onde membros de uma academia de artes que durante suas vidas se dedicaram a deixar registrado nas telas do tempo sua percepção do momento, de si próprio, do seu entorno, relatando através das formas, volumes, linhas e cores a existência do tempo interagindo com o mundo e consigo mesmo.

Os membros acadêmicos (estamos aqui escrevendo, no caso, como membro da ALARP – Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto) são prestigiosos ao tempo, logo a partir da escolha de seu patrono da cadeira a qual pertence, quando fazem lembrar, em seu discurso, seu patrono desde sua posse. Esse membro, em algum momento deixa essa vida e sua cadeira fica vaga e quem assumir esta cadeira, lembrar-se-á do ocupante anterior e do Patrono Quem sabe, também, talvez possa o membro anterior tornar-se patrono de uma nova cadeira. Só o tempo dirá. Mas o que podemos afirmar é que o membro se torna imortal (tempo abstrato) pela seus feitos em prol da arte que a academia deixará registrada a lembrança das razões de sua poética existencial, que ressoará em algum momento do futuro sobre sentimentos de espíritos artísticos que virão e farão valioso sentido.

Os membros das artes visuais da ALARP estão presentes na exposição em cartaz na Escola Bauhaus através da qual rendem homenagens ao TEMPO, trazendo aos admiradores da Arte versões do mundo, em algum lugar do passado como agora, com obras antigas e atuais do próprio membro artista, que tem ainda sua carreira ativa, como também uma homenagem aos artistas que se foram de nossa convivência recentemente: Shozo Mishima, Thirso Cruz, Nocera, Carmen Zacarelli. Assim como também de alguns patronos de cadeira como: Leopoldo Lima, Vaccarini, Pedro Manuel Gismondi, Francisco Amêndola e em homenagem em especial ao Paulo Camargo.

A exposição estará aberta à visitação até dia 23 de março de 2025 no Espaço Cultural Bauhaus Brasil, na rua Mariana Junqueira, 623 – Centro de Ribeirão Preto.

* Artista visual e professor, membro da Academia de LetraseArtes de Ribeirão Preto  

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