O carnaval presidencial foi intenso e agitado. Mas se engana quem pensa que o presidente de extrema-direita frequentou os camarotes da Marquês de Sapucaí, acompanhou os trios elétricos de Salvador ou foi fazer tietagem com os famosos em qualquer outro lugar desta pátria tropical. Isso é coisa do passado. Já faz parte da história. Bolsonaro quis levar mais polêmicas para o carnaval. Como sempre. A campanha não acabou. Ele começa a semana com mais ameaças aos educadores, prometendo uma nova lava-jato nas escolas e nas universidades. Quer, a todo custo, se vingar e calar a inteligência do país. Depois, polemiza com Daniela Mercury e Caetano Veloso por causa da Lei Rouanet e termina a semana sendo o primeiro mandatário do mundo censurado pelo Twitter.
Agora, temos um presidente pornográfico que divulga vídeo obsceno mostrando duas pessoas dançando sobre um ponto de táxi e uma delas urinando na cabeça da outra – prática conhecida como “golden shower”. A postagem alcançou imensa repercussão negativa dentro e fora do país, e foi assunto até nos corredores da ONU. Condenação quase unânime, até mesmo de alguns bolsonaristas já arrependidos. Ao publicar o vídeo obsceno em sua conta, Bolsonaro disse “expor a verdade” sobre os blocos de carnaval. Ele enxovalha assim a nossa grande festa popular, a mais conhecida e aplaudida em todo o mundo. Correspondente na Europa, o jornalista Jamil Chade postou em sua conta no Twitter que foi abordado por um embaixador europeu que lhe perguntou se tinha sido mesmo o presidente do Brasil que postou o vídeo ou se era uma conta fake. Nossa imagem no exterior cada dia pior.
A vergonha internacional foi reforçada pelos tweets de correspondentes do The Guardian, Financial Times, New York Times, para citar alguns exemplos. O NY Times iniciou assim a matéria: “O artigo que você está prestes a ler pertence a um vídeo com conteúdo sexual explícito, publicado pelo presidente da quarta maior democracia do mundo.” Tom Phillips, correspondente do The Guardian para a América Latina, disse que alguém precisava tirar o celular do presidente. O escocês Andrew Donnie ficou indignado com a publicação na conta do presidente: “O presidente do Brasil está tuitando um vídeo de uma golden shower ao ar livre para seus 3,4 milhões de seguidores no que ele diz ser uma denúncia do carnaval”, escreveu.
Trata-se de uma fragrante quebra de decoro praticado por um desequilibrado, mas que tem a responsabilidade de ser a maior autoridade do nosso país. Desequilibrado como já fora considerado pelo próprio Exército ao ser desligado dessa corporação por mau comportamento quando tinha 34 anos. “Não podemos descartar a possibilidade de solicitar um teste de sanidade mental. O país pode estar nas mãos de uma quadrilha, além de envolvida com corrupção e milícias, chefiada por um psicopata que nos levará ao caos. A conta dele deve ser banida imediatamente pelo Twitter!”, postou o deputado Paulo Pimenta, depois da publicação pornográfica presidencial. A psicopatia vem conquistando autoridades ilustres, aqui e alhures.
Até o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do processo que resultou no golpe contra a presidente eleita Dilma Rousseff, diz que a divulgação de um vídeo como esse pelo presidente configura quebra de decoro e pode justificar a abertura de um processo de impeachment.
Segundo Reale, Bolsonaro pode ser enquadrado na lei 1.079/1950, que diz que é crime contra a probidade na administração pública “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. A sensação é de estarmos em uma nau sem rumo, sem piloto, sem destino… A opção da maior parte do eleitorado em votar conscientemente ou não pelo suicídio do país nos traz uma sensação de angústia e vazio que nos tira o chão sob os nossos pés. De alguma forma, reagir é preciso, resistir é preciso!