Tarsila do Amaral (1886- 1973) já é a artista mais cara do Brasil. O leilão de sua tela modernista “A Caipirinha”, de 1923, cujo lance inicial era de R$ 47,5 milhões, fez sua cotação disparar na noite de quinta-feira, 17 de dezembro, no pregão da Bolsa de Arte comandado por Jones Bergamin.
A tela, vendida para um colecionador brasileiro, foi disputada por três pessoas, teve 19 lances e alcançou o estratosférico valor de R$ 57,5 milhões, inferior ao seu recorde no exterior, o da tela “A Lua” (1928), vendida para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MAM) no ano passado por US$ 20 milhões (valor aproximado de R$ 100 milhões).
Nunca uma obra de arte brasileira alcançou esse preço. Os maiores valores registrados até hoje foram de obras assinadas por Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) e Lygia Clark (1920-1988). O primeiro alcançou R$ 5,7 milhões com “Vaso de Flores”, em 2015. Lygia Clark teve sua “!Superfície Modulada nº 4” arrematada por R$ 5,3 milhões em 2013 (valores não corrigidos pela inflação).
Mais recentemente, uma tela menos conhecida de Tarsila, também do período modernista, foi colocada à venda por US$ 7 milhões (cerca de R$ 36 milhões), numa feira online internacional. Desde 1995 sua cotação no mercado não parou de subir.
Naquele ano, o empresário argentino Eduardo Costantini comprou a mais conhecida tela de seu período antropofágico, “Abaporu” (1928), por US$ 1,3 milhão durante um leilão em Nova York. A pintura foi vista pela última vez no Brasil na exposição Tarsila Popular, no Masp, que recebeu 400 mil visitantes.“A Caipirinha” é um óleo de 60 cm x 81 cm.
Foi pintada em 1923, um ano após a Semana de Arte Moderna, em uma viagem que Tarsila fez à França. Em carta enviada à família, ela falou sobre o quadro e até fez um pequeno esboço da pintura. “Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, como no último quadro que estou pintando”, escreveu a artista, na carta à família.
O quadro, que foi a leilão por decisão judicial, pertencia ao empresário Salim Taufic Schahin, investigado pela Operação Lava Jato, cuja empresa faliu em 2018. Para receber o pagamento de dívidas milionárias dessa empresa, 13 bancos entraram com uma ação na Justiça para sequestro dos bens do empresário.
Entre os bens, havia diversas obras de arte, como o quadro de Tarsila. A Justiça então decidiu leiloar a obra. Todo o dinheiro obtido com a venda, à vista, ficará depositado em juízo até que o recurso da família do empresário seja julgado.