Nascido no Uruguai, Taiguara, cantor e compositor, cujo nome, em tupi-guarani significa “livre”, frequentou as paradas de sucesso e os festivais de música nos anos 60 e 70 com lirismo e as melodias bem construídas, cantando o amor, a liberdade e a igualdade, e ao mesmo tempo em que, em seus shows e entrevistas, teve a coragem de dizer cobras e lagartos do regime que suprimia as liberdades do povo brasileiro, por isso se tornou o artista mais perseguido e censurado pela ditadura militar.
Como disse o jornalista José Teles “Taiguara nunca encontrou um nicho em que se encaixasse nem na vida, nem na arte. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, quando ele nasceu um anjo torto, desses que vivem nas sombras, disse-lhe: Vai Taiguara, vai ser gauche (esquerdo) na vida. Taiguara cantou o amor, quando era a vez do protesto, e cantou o protesto, quando todos cantavam o amor, e virou guerrilheiro quando as tropas se recolhiam aos quartéis”.
Chico Buarque é o primeiro nome que vem à mente das pessoas, quando o assunto é censura no período da ditadura militar. Entretanto, nenhum artista foi tão censurado como Taiguara, que teve 81 composições censuradas e dois discos, “Imyra, Ipy” e “Let the children hear the music”, gravados em Londres, vetados e proibidos inteiramente depois de lançados.
Para poder gravar, era preciso negociar com os novos parceiros, os agentes da censura. Numa ocasião, quando lhe proibiram de usar a palavra “polícia” na canção “nova Iorque”, sugeriu cantá-la em inglês, “Police”, o que bastou para que a nova versão fosse aprovada.
Em meados de 1973, Taiguara preferiu o exílio em Londres. Retornou ao Brasil em 1975 para gravar e lançar um disco, do qual participariam músicos do calibre de Hermeto Pascoal e Wagner Tiso. O show foi cancelado e toda a tiragem recolhida pela polícia em 72 horas, convencendo Taiguara a sair novamente do Brasil, sem planos de retorno. Só voltou a cantar no Brasil quando um civil ocupava o Palácio do Planalto, em 1986, podendo finalmente cantar as letras que tinham sido proibidas.
Em 1984, doze anos antes de sua morte, o compositor lançou uma obra-prima, o disco “Canções de Amor e Liberdade”, absolutamente político, um grito de revolta, um testemunho de um grande artista sobre uma época que envergonha a espécie humana.
Embora seja mais conhecido hoje pela canção romântica “Universo no teu corpo”, Taiguara lista títulos tão sugestivos quanto “Cavaleiro da Esperança”, que foi feita e cantada em homenagem a Luís Carlos Prestes e “Que as crianças cantem livres”, um canto de liberdade e esperança:
“Que há um sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver
E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem em sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou
O amanhã”…
Salve Taiguara, homem idealista e romântico, que ousou cantar o amor, a liberdade e a igualdade em tempos sombrios de retrocesso e barbárie, impostos pela ditadura militar.