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Tá tudo ok?

O pós-primeiro turno da eleição já costurou o efeito da violência apresentada como sintético e único método de salvação nacional. Traz o aditivo neoliberal de desossar definitivamente o Estado, cristianizar os servidores públicos, com a promessa generalizada de venda das estatais, sem nem separar às relacionadas à estratégia da segurança nacional. É um “vamos acabar com isso, tá ok?”.

O veneno togado foi distribuído a granel, como se o ódio estive dis­ponível na farmácia da estupidez. Depois da arena do ódio construída, a hipocrisia, fantasiada de santidade, recomenda paz e amor.

O fanatismo eleitoral inscreveu no corpo da mulher, lá em Porto Alegre, a suástica, que simboliza o nazismo. Essa violência física não foi maior do que a violenta interpretação oficial, policial, que declarou: “Eu fui olhar o desenho que fizeram na barriga dela. É um símbolo budista, de harmonia, de amor, de paz e de fraternidade. Se tu fores pesquisar no google, tu vai ver que existe um símbolo budista”.

Esse mesmo fanatismo eleitoral matou o mestre de capoeira Moa de Katendê, 63 anos, na Bahia, como espancou mulher no Recife, como inaugurou sua presença na repulsiva facada presidenciável que serviu para esconder o que seria a exibição e o debate do programa do candidato.

Esse tal “vamos acabar com isso” apresentou-se com as mãos per­filadas como se um fuzil estivesse nela, pretende ser a melhor lição da educação infantil, que deve ensinar o manejo das armas e enfrentar o mundo dos maus que devem ser exterminados pelos bons. Tá ok?

O problema é que homens bons e maus pertencem a um só e mesmo mundo e, se a lei não coloca limite na atuação deles, o instinto da barbárie fará com que aqueles que se julgam bons, mas que não podem pagar a conta da padaria, converta -se no homem mau, e aí é o bau-bau, tá ok? E também a daquele homem honesto, que por não se entregar à imposição da estupidez, se converterá em homem mau, e aí bau-bau, tá ok?

Essa tal de sustentabilidade, por exemplo, na política de desenvolvimen­to, é considerada reprovável diante da força expansiva do capitalismo, que merece respeito, até pela sua cegueira em saber destruir florestas e contami­nar nossos rios ou contaminar a alimentação de nossa gente, com a condes­cendência do uso compreensivamente neoliberal dos agrotóxicos, tá ok?

A ordem, portanto, é privatizar. Ciclo neoliberalista, que no mundo já está ficando ultrapassado pelos males que já causou, mas que no Brasil é assumido como visão econômica salvadora, nesse surto de descrença do sistema político, engravidada pela histórica e acumulada indigestão da corrupção, que foi convocada, outra vez, como o principal problema do Brasil. Historicamente, a danada da corrupção é convocada, para servir a ela mesma, sempre sofrendo a ameaça do “vamos acabar com ela, tá ok”.

O tal “vamos acabar com tudo que é errado” muda o sentido das palavras, assim a morte é a travessia para o inferno e é o destino do homem mau, enquanto a tortura é um meio de purificação do homem mau, ou do homem bom julgado mal pelo guarda da esquina, tá ok?”.

E verdade: o regime da Venezuela é repulsivo. Mas ninguém diz que é ele se mantém, porque os militares ocuparam os postos da administra­ção pública, e deles não querem se desgarrar, inclusive porque do jeito que está nada falta para eles. Tá ok?

O Brasil recebeu 96 blindados usados da generosa norte América. Será que eles esperam que o Brasil se preste ao serviço de atacar a Venezuela, para garantia do petróleo para eles, sob a fachada simpática e humanitária de implantar a demo­cracia, como eles fizeram no Iraque, destruindo-o, mas não conseguindo ficar lá.

Impossível não se lembrar de que a Universidade de Salamanca, em 1936, ouviu o grito de guerra do fascismo espanhol.

O reitor e filósofo, Unamuno, que antes, em um poema, “já tinha exaltado a força da diversidade e da vida, o livre fluxo da história” (Muniz Sodré, in Época), discursava, e no momento em que disse “vencer não é convencer, e não pode convencer o ódio que não dá lugar à compaixão”, o general Milan-Astray gritou- “Viva a morte! Abaixo a inteligência!”
Unamuno lhe responde, indignado, avisando que “este é o templo da inteligência e eu sou o sumo sacerdote… Dói-me pensar que o General Milan -Astray deve ditar as normas de psicologia das massas…”. Concluindo, o reitor declarou – “o general Milan-Astrayé um aleijado moral”. O ato-fato repercutiu. Unamuno ficou em prisão domiciliar, e morreu quase dois meses depois.

É dele a última palavra “ás vezes, ficar calado, é mentir”.

Tá ok?

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