Sobre a tragédia em Suzano: até quando continuaremos a pagar a conta por causa da ausência de um trabalho emocional que capacite o Eu para torná-lo saudável? É urgente investir em uma educação que auxilie pais, responsáveis e professores a ensinar e potencializar as competências socioemocionais.
Há diversos tipos de Eu doente: tímido, ansioso, estressado, hiperpreocupado, hiperpensante, hipersensível, engessado, radical, inseguro, impulsivo, dissimulador, neurótico pelo poder, pela evidência social, por controlar os outros, etc.
Raramente não desenvolvemos defeitos na construção do Eu, e é mais fácil desenvolver características doentes do que saudáveis. Mas por que isso acontece? Porque já estamos imersos em uma sociedade altamente adoecida, com emoções tóxicas, desconectadas, que geram crianças, e posteriormente, jovens e adultos que, se não ajudados a reeditarem as suas memórias, possuirão poucas chances de se (re)construírem de maneira saudável.
Há sempre um grande risco do Eu ser escravo do passado, não conseguir reeditar suas vivências e experiências passadas, de tornar-se vítima destas situações. Neste caso de Suzano e de tantas outras tragédias, vemos que ao se ver vítima das memórias passadas e circunstâncias, um Eu doente pode também fazer vítimas do lado de fora, sejam estas fatais ou não.
Estes jovens que causaram isso se viram presos a pensamentos e ideias das quais não conseguiram fugir, ou reeditar, e, com tudo isso, tornaram-se algozes, atingindo várias pessoas de maneira física ou emocional e que, por sua vez, também necessitarão de auxílio para lidar com este trágico momento.
Nas batalhas psíquicas, não há dois vencedores. A mente adoece todas as vezes que não aprende a agir em seu próprio favor, confrontando suas mazelas. Todos somos inteligentes, mas é preciso aprender a usá-la para não permitirmos que o mundo de fora invada nossa paz e assuma o controle de quem somos ou do que estamos nos tornando.
Situações como esta, em Suzano, novamente nos traz à reflexão sobre o que estamos fazendo para transformarmos essa realidade, e ensinarmos nossas crianças e jovens a não serem vítimas de suas histórias do passado e a não criarem condições para formarem novas vítimas.
Em todas as situações, além de outras medidas, é essencial a educação da emoção e a potencialização de competências socioemocionais. É necessário aprender a desenvolver um Eu saudável, que não seja vítima das circunstâncias, das armadilhas da mente, dos traumas e angústias passados, mas que seja autor da própria história, capaz de se reerguer de suas dores, para poder oferecer o seu melhor a si mesmo e aos outros.
Solidarizamo-nos imensamente com a dor desses jovens e dessas famílias, atingidas por esta tragédia.