Um em cada mil bebês nascidos no Brasil têm mau desenvolvimento do tubo neural ou espinha bífida. A informação é do dr. Antonio Cabral, doutor em Obstetrícia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor titular de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A administração de ácido fólico (400 mcg) no momento certo e na dosagem certa garantem a correta formação dos bebês.
“As crianças herdam genes dos pais e eles funcionarão corretamente a partir da ingestão de vitaminas. Dentre os vários genes, há os que definem a formação morfológica do bebê, ou seja, que fecham a coluna, a face e as estruturas cardíacas. Quando o ácido fólico é ingerido na dose correta, o bebê tem toda a estrutura fechada”, explica Antonio Cabral.
Há um outro risco aos bebês no caso da superdosagem de ácido fólico, explica o especialista da UFMG: o autismo, síndrome com múltiplas causas. “Uma dessas causas é a genética relacionada à nutrição. É comprovado pela ciência que determinado gene responsável pela maturação encefálica, chamado neurodesenvolvimento do embrião, quando diante de excesso de ácido fólico faz uma expressão equivocada, levando a criança a ter dificuldades nas questões cognitivas e emocionais, ligadas ao autismo”, alerta Antonio Cabral.
O ácido fólico (vitamina B9) participa de várias funções no organismo e, administrado na dosagem e período corretos, protege o bebê auxiliando o fechamento do tubo neural e contribuindo para o neurodesenvolvimento do embrião. Cabral informa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de 400 microgramas por dia há mais de 20 anos.
A ingestão de 400 mcg de ácido fólico deve ocorrer pelo menos 30 dias antes da concepção e no primeiro trimestre da gravidez. Assim, o nutriente estimula o desenvolvimento neurológico do feto. “As mães chegam ao consultório preocupadas em como fazer para ajudar os bebês a terem mais saúde, achando que os hábitos saudáveis são os únicos pontos. Não fumar, não ingerir bebida alcoólica, praticar atividade física e ter alimentação balanceada com certeza influenciam, mas o uso do ácido fólico na dosagem correta é o grande segredo”, explica o doutor Antonio Cabral, da UFMG.
Assim, o especialista recomenda que não é preciso comer por dois, durante a gravidez. “A gestante precisa é alimentar-se bem, mas isso não se refere à quantidade e sim à qualidade dos alimentos, com nutrientes necessários para os bebês, como proteínas, que ajudam a formação da estrutura corporal, minerais essenciais para a formação do cálcio, sendo fundamental para os ossos, iodo para formar o hormônio tireoidiano, entre outros, e vitaminas que servem para estabilizar a parte genética. O ácido fólico é uma vitamina essencial”.
Antonio Cabral também alerta as gestantes sobre o consumo de alimentos que contêm pequenas doses de ácido fólico, como farinhas de trigo, integral ou de milho, presentes nos biscoitos, massas, pães e bolos, até mesmo nos suplementos e complexos ingeridos por crianças e idosos. “É preciso atenção ao excesso ou falta de ácido fólico nos níveis ideais. Esses pequenos cuidados podem fazer a diferença na vida das crianças”.
De acordo com levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 42% das mulheres brasileiras planejam a gravidez, mas nem todas utilizam ácido fólico ou fazem uso na dosagem correta. Essa dosagem adequada de ácido fólico para gestantes só pode ser encontrada nas farmácias. “A ingestão de vitamina B9 nos níveis recomendados pode reduzir em até 75% o risco de má formação no tubo neural do feto”, alerta o especialista da UFMG.