“Chama teu vulgo malvadão”, da funkeira MC Jhenny, do Rio de Janeiro, foi o som que embalou o talentoso Alison dos Santos, o “Piu”, na conquista do bronze nos 400m com barreiras nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Irreverente e feliz, o jovem, que é cria de um projeto social da sua cidade natal, São Joaquim da Barra, que fica há pouco mais de 70km de Ribeirão Preto, fez história do outro lado do mundo.
Com apenas 21 anos, o mais novo medalhista olímpico da região tem uma trajetória humilde e de muita superação. Apesar do carisma, Alison carrega consigo as marcas de um acidente doméstico na infância, o qual mudou a sua aparência para o resto da vida.
À primeira vista suas cicatrizes na cabeça, peito e braço esquerdo chamam atenção, mas logo ficam ofuscadas pelo seu talento. As marcas são o resultado de um acidente doméstico com uma panela de óleo quente aos 10 meses de idade.
Na adolescência, Alison recebeu o apelido pelo qual é conhecido no meio do atletismo: Piu. O motivo é a semelhança com outro “Piu” da sua cidade natal.
A medalha olímpica é mais um capítulo da carreira meteórica de “Piu”. Aos 16 anos, ele já competia entre adultos nos 400m com barreira e nos 400m rasos. A partir de 2018, Alison estendeu o seu talento para provas internacionais.
Em 2019, aos 19 anos, o atleta confirmou o bom momento ao conquistar o ouro dos 400m com barreira nos Jogos Pan-Americanos de Lima com o tempo de 48s45. O melhor, porém, ainda estaria por vir. Em Doha, Alison foi à final da mesma prova, terminando na sétima colocação com o tempo de 48s15.
Desde então, Alison vem evoluindo em seus tempos, até conseguir 48s15 em abril deste ano. O tempo, obtido no Torneio Drake Relays, em Des Moines, nos Estados Unidos, foi a melhor marca dos 400m com barreira até então, o que o colocou como um dos candidatos ao pódio em Tóquio. Na decisão olímpica ele brilhou com um 46s72 e faturou o histórico bronze.
“Primeira coisa que passou pela minha cabeça quando passei a linha é que agora eu sou medalhista olímpico. Assim que eu acabei eu vi muitas pessoas importantes para mim ali no telão. Eu não corro só por mim, eu corro pelo meu treinador, pela minha família”, afirmou Alison ao término da prova.
Bem distante de Tóquio, em São Joaquim da Barra, Sueli dos Santos, mãe do corredor, falou sobre a conquista do filho depois de uma trajetória tão difícil.
“Ele sofreu quando era pequeno, ele escolheu o caminho dele, sempre quis atletismo. É mérito dele, foi atrás do sonho e conseguiu. Ele é nosso “porto seguro”, nossa inspiração, para as meninas, pra mim, para todos nós. Os amigos que falam para mim que é inspiração para eles, mães dizem que filhos seguiram o exemplo dele e estão bem hoje”, disse Sueli em entrevista à Rede Globo.
Prova histórica
A conquista de “Piu” foi à altura do que ele merece, numa prova que vai ficar marcada na história do atletismo. Ele correu o quarto melhor tempo da história dos 400 metros com barreira — estabelecendo um novo recorde brasileiro e sul-americano.
Alison dos Santos fez a prova em 46s72 — menos de um segundo atrás do campeão da prova, o norueguês Karsten Warholm, que marcou 45s94 e estabeleceu novo recorde mundial. A prata ficou com o americano Rai Benjamin (46s17).