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Sucupira e outras árvores

As flores são brancas e singelas, sem destaque e se não caís­sem no chão não seriam percebidas. Mas, sua árvore, ao chegar a primavera, veste-se de um manto de folhas róseas da cabeça aos pés, fazendo-a se destacar no verde novo da estação. É a sucupira, árvore nativa do Brasil, predominante na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica, cujo nome deriva do tupi e significa “árvore que faz saltar o olho”, pois quando as suas combucas se abrem, expelem sementes que parecem nosso órgão da visão.

Velha conhecida dos nossos índios, foi logo apresentada aos primeiros portugueses, que trocavam suas quinquilharias pelas saborosas castanhas. Madeira dura, serve para postes, pisos, tábuas de assoalho e carroceria de caminhão. É prima distante da casta­nheira-do-Pará e do jequitibá. Pelo seu porte elevado, é usada no paisagismo em lugares amplos e abertos. Como no caminho que levava D. Pedro II de seu palácio aos jardins da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.

Suas castanhas aromáticas, oleoginosas e de sabor agradável substituem muito bem as castanhas europeias e as oriundas do nos­so país. Até hoje, na zona rural, que cada vez diminui mais, o óleo da sucupira é usado para um creme aplicado nas lesões da pele e sua combuca contém uma água medicinal que, dizem, abaixa os níveis de glicemia.

Seu grande disseminador é o morcego, embora a árvore é consi­derada em perigo de extinção. No condomínio onde moro existe um belo exemplar, entrevisto entre as inúmeras outras árvores, exemplar que nos induz a observá-lo com respeito pelo porte, pela beleza e por tudo que ele representa, gigante da vida e da natureza a nos ensinar a beleza da existência e a nos brindar com suas folhas rosas delicadas.

Em 1824, um botânico francês, em visita a Madagáscar, deparou­-se com enorme árvore, cujas flores pareciam pegando fogo, de tão vermelhas. Deu-lhe o nome de flamboyant, que pode ser traduzido por flamejante, árvore que logo foi espalhada pela África continental e de lá saltou para a Europa e Américas. O clima tropical brasileiro aclimatou-a a nosso território, onde é usada para paisagismo de grandes áreas.

Em nossa cidade, destacam-se as avenidas Costábile Romano e Treze de Maio, cujos renques nestes dias se cobrem de vermelho, num espetáculo deslumbrante. Permanecem por bastante tempo e se permitem até alguns pés de flores amarelas. Passada a floração, voltam as folhas e a árvore se vê cheia de grandes favas pretas, balan­çando ao vento.

Na minha casa existe um pé que plantei pequeno e que, por longo tempo, escondeu de mim a floração. Mas agora venceu sua timidez e insegurança e começa a explodir em flores, atraindo abelhas que buscam o pólen para suas colmeias. Parece que a secura e o tempo quente ajudam a majestade do espetáculo, pois no meio do verde do condomínio onde moro, aparecem borrões de vermelho em todo canto.

No campo de esporte, os flamboyants ajudam a enfrentar o calor da caminhada e nos abrigam em sua sombra benigna, desafiando o renque de sibipirunas de flores amarelas na outra lateral.

Mas, as belezas não param por aí. Uma grande tipuana, com suas flores amarelas de tom peculiar, ocupa um canto da avenida, derramando seu encanto e chamando a atenção do caminhante. A eritrina-candelabro, com suas flores vermelhas em forma de velas, avança garbosa por entre o verde recém surgido. E uma pequena pitangueira, toda cheia de flores brancas parece uma noiva com sua mantilha de rendas.

Benditas sejam as árvores que nos ajudam a sermos mais humanos.

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