André Luiz da Silva *
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Diferente de muitos, eu aprecio o período eleitoral. Ele oferece uma oportunidade rara de promover diálogos sobre a cidade que temos hoje e a cidade que queremos construir para o futuro. Independentemente de serem discussões forçadas ou espontâneas, o fato é que as pessoas se envolvem e debatem propostas. É um momento em que podemos ouvir as ideias, projetos e até os devaneios daqueles que almejam o voto popular. Diversas visões emergem para lidar com os mesmos problemas, o que é enriquecedor para o processo democrático.
É evidente que o período eleitoral também traz à tona candidaturas variadas — desde propostas sérias até personagens caricatos e campanhas oportunistas. Isso faz parte da pluralidade de qualquer eleição em um regime democrático. Ao observar debates e propagandas eleitorais de diversas cidades, é possível perceber um padrão: quem está no governo tende a exaltar seus feitos apresentando um local maravilhoso, enquanto a oposição pinta um cenário caótico. Por vezes nem parecem que estão falando da mesma localidade. Pessoas que conhecemos no dia a dia surgem como políticos idealizados, mostrando-se perfeitos, incorruptíveis, extremamente competentes e com as melhores soluções.
No entanto, existem propostas que, quando aplicadas corretamente, têm o potencial de transformar realidades. Outras, mesmo simpáticas, esbarram em limitações financeiras e legais. Ainda há aquelas que, por demonstrarem desconhecimento sobre a estrutura pública, são claramente inviáveis. Um fenômeno recente no cenário político é o crescimento de campanhas de candidatos que se autodeclaram “apolíticos”, apesar de estarem inseridos em partidos e disputando uma eleição. Esses candidatos, os chamados outsiders, negam vínculos, mas no fundo estão conectados a grupos e interesses.
Embora o debate eleitoral devesse ser uma grande oportunidade de apresentar propostas concretas, ele frequentemente se transforma em um palco para encenações e discursos vazios, frustrando o eleitor que busca conteúdo e soluções reais para os problemas da cidade.
Mas, afinal, o que a população realmente espera? Após ouvir diversas opiniões, podemos concluir que o desejo básico é viver em uma cidade onde seja possível se deslocar com segurança e conforto, acessar serviços de saúde e educação de qualidade, ter oportunidades profissionais que garantam o sustento familiar e contar com opções de cultura e lazer.
Sonhamos com uma cidade inclusiva, criativa, que cuide das pessoas e respeite as diferenças. Onde possamos deixar o carro em casa e optar pelo transporte público ou mesmo a bicicleta, desfrutar de uma praça limpa, arborizada e com equipamentos funcionais. Uma cidade com menos pessoas em situação de rua, menos dependentes de drogas, e onde a parceria entre os setores público e privado contribua para o desenvolvimento sustentável. Queremos também a garantia de que nossas crianças e jovens tenham acesso a boas escolas, atividades esportivas e culturais, e que, se necessário, a rede de saúde esteja preparada para atendê-los.
Essa cidade que almejamos só será possível com um diálogo constante entre as autoridades e a população, que não se limite ao período eleitoral. Prefeitos e vereadores, eleitos pelo voto, têm a responsabilidade de manter uma relação permanente de escuta com a sociedade e com as entidades representativas.
O voto, mais do que uma simples escolha, carrega as esperanças e expectativas de uma coletividade. Portanto, ele deve ser honrado com trabalho, seriedade e dedicação. Que aqueles que assumirem esses cargos tenham plena consciência desse compromisso e saibam valorizá-lo. Assim, juntos, poderemos construir uma cidade melhor para todos.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista