Dias atrás, vi nos noticiários de TV o ex presidente francês sendo acusado de ter recebido uma grana para ajudar na sua campanha presidencial. Nas imagens ele foi mostrado com quem teria molhado sua mão, Muammar Kadafi, o ex ditador da Líbia.Na hora me veio a lembrança de uma tarde em que estávamos eu, Sócrates e José Luiz Datena na Churrascaria Coxilha dos Pampas.
Depois do almoço, estávamos batendo papo quando o celular do Sócrates tocou. Ele começou a falar um pouco em inglês, depois misturou espanhol com italiano. Datena, curioso que só ele, perguntou-me: “Buenão, você sabe o que tá rolando?” Disse que não, daí a pouco o Magrão, nervoso, desligou e nós o enquadramos. Ele logo se abriu: “Estou negociando com este cara faz dias, ele é assessor do Kadafi, ditador da Líbia, e Kadafi que é meu fã, eu não sabia.”
Rimos um pouco e ele continuou. “Pois é, o ditador queria saber quanto seria meu cachê para ir até lá assistir o casamento de seu sobrinho e que deveria ficar em seu território por 15 dias cumprindo agendas. Casamentos lá duram dias”, disse Magrão, “rola muita negociação e eu pedi 15 mil dólares livre de tudo. Como o dinheiro não estava na minha conta, discuti com o cara dizendo que não iria, ele se propôs a providenciar com urgência o deposito”.
Ficamos ali dando um banho na garganta quando o cara ligou novamente dizendo que a grana já estava na conta. Magrão checou e passou a régua. Lá foi Sócrates e quando voltou, ele não via a hora de nos contar sua aventura por terras líbias. Disse que foi com apenas uma bolsa de mão, com algumas trocas de roupa e voltou com várias malas cheinhas de presentes. Seu avião teve que pousar na Tunísia, país vizinho, pois a Líbia estava passando por retaliações. Uma enorme comitiva o aguardava e foram de carro até onde Kadafi era o rei da cocada preta.
No palácio, o todo-poderoso o recebeu, Sócrates ficou meio que incrédulo com o que estava acontecendo. O primeiro-ministro do Sudão estava aguardando pra falar com o homem já fazia uma semana e assim que o ditador foi informado que Sócrates havia chegado, parou tudo que estava fazendo pra receber o Doutor. O cara do Sudão parecia ser menos importante.
Kadafi tinha um arquivo sobre futebol enorme, logo abriu um telão e colocou imagens do Magrão e suas jogadas geniais. Quando surgia toques de calcanhar ele parava e comentava todo feliz.Por onde ia, Kadafi levava Sócrates que, por força do combinado, teria que cumprir enorme agenda em terras líbias. Por onde andava com o homem, o povo líbio o cobria de mimos e mais mimos, assim encheu duas mala enormes.
Sócrates disse que Kadafi não tinha parada por medo de atentado, cada noite dormia em um local diferente. De tudo que viveu por lá, uma coisa o marcou demais: participar da compra da noiva. Isso mesmo, lá tem essa parada. Sócrates, acostumado a viver situações inusitadas, desta vez estranhou à beça. A assessoria de Kadafi o apanhou no hotel e foram para um determinado local, ali lhe contaram o que iria rolar. Estavam presentes só homens por parte do noivo e também só homens por parte da noiva, além das testemunhas da negociação, também só homens e no meio o nosso representante.
O noivo era o que menos apitava no negócio. Seu pai estava comprando a noiva sem que o filho a conhecesse, nunca tinha visto sua futura primeira-dama. Abriram o preço da moça e as discussões, segundo Sócrates, foram um tanto que acirradas até que bateram o martelo no valor final… A noiva custou “mil dólares”.
Sócrates, rindo, disse que depois rolou uma grande festa sem bebida alcoólica, rimos um bocado e o Magrão arrematou: “Buenão, eu nunca vi uma moça zero bala custar tão pouco.”
Sexta conto mais.