Circula nas redes sociais um vídeo sobre uma reportagem em que José Luiz Datena, na época um jovem repórter da nossa EPTV, fazia uma entrevista na casa do Sócrates. Era carnaval, o Corinthians deu folga geral, Datena conseguiu a matéria, mas, a duras penas, até porque a casa estava lotada de amigos que organizavam um “esquenta” e estavam todos pra lá de Bagdá.
Datena é da geração do Raí, sua amizade com o Doutor só foi fortalecida quando a TV Record resolveu regionalizar alguns programas e os dois passaram a gravar semanalmente. Participei algumas vezes com eles, era início da emissora sendo administrada por bispos e pastores.
Havia uma série de regras do que não podia ser dito no ar. Palavrões, por exemplo, nem pensar. Lembro-me que eu e Sócrates fomos cantar um samba de breque de nossa autoria. Datena pediu para não cantar a palavra “viadão” do final da música, e sim “cidadão”. Sócrates respondeu: “Deixa comigo”.
Estávamos cantando, Datena só de olho, e o Magrão pra sacanear as ordens cantou em alto e bom tom: “Foi aí que ela notou que o garotão tinha jeitos e trejeitos de ser um grande viadão”… Datena quase caiu da cadeira, mudou de cor, gaguejou à beça enquanto Sócrates morria de rir. Datena ainda arriscou: Acho que depois dessa serei demitido”. Nada aconteceu.
Sócrates e Datena, dois queridos amigos que ganhei de presente de Deus. Quantos papos, quantas histórias ouvi desses dois. Datena, sempre explosivo, e Sócrates sempre colocando panos quentes em tudo, fazendo o jornalista desacelerar. Na Copa da França, em 1998, trabalhando na TV Record, lá estavam eles em Paris. A emissora contratou também Carlos Alberto Torres, nosso capitão da Copa de 1970.
Sócrates contava que, juntos. Ele e Datena eram como o estopim e a pólvora. E ainda tinha o Capita, com o mesmo temperamento do Datena. Os três não se desgrudavam, dividiam o mesmo táxi, estavam no mesmo hotel reservado pela Record. Os jogos noturnos acabavam muito tarde e a volta era uma dureza, era muito difícil conseguir um táxi e quando aparecia um, segundo o Magrão, tinha sempre um motorista mal-humorado.
“Imagine, Buenão”, dizia Sócrates, “dois explosivos passageiros e um condutor que não fazia muita questão de conduzi-los, naquele minúsculo ambiente, discutindo bobeiras, era um bate-boca misturando línguas francesas, inglesas e portuguesa e eu só tentando apaziguar, senão a gente não chegava ao hotel”.
“Uma noite”, conta Sócrates, “atrasamos mais ainda e chegamos ao bar perto do hotel que nos servia um jantar meia boca, ou lanche. O dono estava fechando, o sujeito também genioso não estava nem aí com a gente, Carlos Alberto e Datena quase colocaram fogo no bar, pois o sujeito não queria nos servir, alegando ser muito tarde. Vi que os dois acenderam o estopim da dinamite, assumi o comando da negociação, tratei logo de agradar o sujeito que, com muito custo, nos atendeu de portas fechadas”.
Nessa mesma época, a TV Record também levou a Paris o apresentador Ratinho, que montou por lá o seu “Boteco do Ratinho”. Logo no primeiro programa os convidados eram Sócrates e Datena. Antes da gravação, os três resolveram tomar umas cervejas. Pra quê!?!?! Ratinho foi fazer o programa enrolando a língua, e depois dessa não saiu mais com os dois.
Em outra ocasião, estávamos no Pinguim do Shopping Santa Úrsula com uma turma, e depois de alguns chopes, Datena disse que iria ao banheiro, que ficava no andar superior, no mezzanino, e tinha uma escada em curva. Sócrates foi junto. Lá em cima, Datena disse: “Magrão, você viu naquela mesa no pé da escada uma mulher sozinha? Que decote!!! Que seios!!!” Magrão concordou, só que do lado tinha um cara ouvindo o papo. Ele disse: “Vocês estão falando da minha mulher…”
Fez-se um silêncio de convento, Sócrates desceu correndo pra nos contar, Datena ficou lá com o cara e ninguém sabe que papo rolou. O sujeito desceu, pegou a mulher muito raivoso, pagou a conta na boca do caixa e vazou. A gente vendo Datenão descer a escada, todo sem graça, ficamos por alguns minutos em silêncio. Depois ele levantou a cabeça e cheio de alegria, falou: “Chope pra todos, eu pago a rodada porque a vida é linda…”
Sexta conto mais.