André Luiz da Silva *
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Na cadência inexorável do tempo, nossa cidade se vê enlutada pela partida de duas grandiosas personalidades, mas é enriquecida por narrativas imperecíveis e memórias que resplandecem como estrelas no firmamento da história. O recente adeus a Welson Gasparini e Nilton Manoel de Andrade Teixeira deixou um vazio que ecoa em nossos corações, mas também nos presenteou com um legado indelével.
Gasparini, oriundo de Batatais, ascendeu em Ribeirão Preto, inscrevendo seu nome nos anais da cidade desde sua primeira incursão eleitoral, quando se tornou conhecido como o “garoto do estilingue”. Radialista, jornalista, professor e advogado, percorreu os caminhos do serviço público com destemor, ocupando cargos de vereador, prefeito por quatro vezes – um feito de rara grandeza -, além de desempenhar papéis de deputado estadual e federal.
Nilton Manoel de Andrade Teixeira, filho de Ribeirão Preto, destacou-se como professor e contabilista, e imortalizou-se como guardião da trova, como uma rosa vermelha em um jardim de versos. Sua trajetória se entrelaçou com a União Brasileira de Trovadores, e sua paixão pelo universo poético se materializou na organização dos Jogos Florais e Jogos Florais da Juventude, promovendo a beleza e o encanto da trova. Seus escritos, como “Cantigas de meu terreio”, “Caviar, gororoba e sal de frutas”, “Poesia Mágica” (haicais) e “Folhetos de Cordel”, são testemunhos eternos de sua genialidade.
Recordo-me dos dias em que, frente às negociações trabalhistas do funcionalismo municipal, Gasparini e seu fiel escudeiro, Rogelio Genari, recebiam nossas enormes demandas. Eram dias de infindáveis conversas, embates e greves. Ao final inúmeras conquistas para a categoria, muito respeito e até conselhos. Um deles foi “sempre mantenha o sorriso, quem gosta de você ficará feliz em saber que você está bem, mas quem não gosta ficará indignado por não conseguir te atingir”. Ele também gostava de repetir o provérbio de que “para todo problema existe uma solução, se não tem solução não é um problema”.
Ambos moraram na querida Vila Tibério, Gasparini e Nilton Manoel compartilhavam não apenas uma geografia, mas um espírito inquebrantável e a firmeza para manter suas convicções. Podiam não agradar a todos mas eram respeitados.
O velório de Gasparini foi um testemunho da diversidade de sua influência, reunindo líderes políticos de os matizes, cada um compartilhando uma história, um momento, uma lembrança. E, à medida que seu féretro seguia seu derradeiro caminho, uma revoada de pássaros alçava voo nos céus, como se a própria natureza desejasse prestar-lhe uma última homenagem, num sussurro de despedida.
Na despedida a Nilton Manoel, as homenagens se multiplicaram, vindas da União dos Escritores, da Casa do Poeta e do Escritor, da qual fora presidente, e da Academia de Letras e Artes, que teve a honra de tê-lo como seu fundador. Entre as vozes que se ergueram para celebrar sua vida e obra, destaco os versos tocantes do escritor Ton César: “Nilton foi o rei das trovas / Conduziu jogos florais / Ele venceu todas as provas / Ficou no rol dos imortais”. E as palavras comoventes da escritora Celia Silli: “Findou os sonhos e a esperança / Trovador foi bacharel / O talento hoje descansa / Mestre Nilton Manoel”.
Enquanto seus corpos repousam na serenidade do sepulcro, seus nomes resplandecem como estrelas guias, traçando um caminho luminoso através de artigos, homenagens e, possivelmente, em placas de ruas e praças. Em meio ao jardim da memória, seguem próximos o Estilingue e a Rosa, símbolos de uma era dourada, de uma visão ímpar do mundo e do compromisso inabalável com o bem de Ribeirão Preto. Que suas lembranças continuem a florescer como rosas, perfumando os corações daqueles que tiveram a honra de cruzar seus caminhos.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista