O mestre Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português, batizou o inicio do Século XXI, pela e com a emergência dessa crise sanitária, que varre a geografia e as pessoas de todo o mundo.
“A pandemia do novo coronavírus desregulou os tempos individuais e coletivos”, é a primeira frase do prefácio de seu livro “O futuro começa agora”, e para quem, como eu, que pensei e até escrevi que o início desse século data da derrubada das Torres Gêmeas, em 2002, a realidade faz com que me curve ao registro sinistro, implacável e incomparável desse nascimento, que se desdobra em outras cepas, iniciando de novo o que se pensara que se fora e terminara. Até quando? É a pergunta ansiosa que se repete dentro de nós.
Nela e nisso, apesar do esforço negacionista da mediocridade, eis que a ciência, os pesquisadores e as universidades de todo o mundo surgiram com o esplendor de seu mérito, procurando as respostas, sabendo-as não definitivas, mas as perseguindo com devoção qualquer pista digna de exame.
Chefes de Estados, comandantes de aviões militares e suas ogivas nucleares, navios provocadores de situações arriscadas, cientistas, estudantes, homens e mulheres, pobres e ricos, crianças e idosos, homens de poder e sem poder, todos se perguntando como dura tanto tempo tal ansiedade, tal medo, será que ele está aqui? Esse invisível malfeitor, que revela a insignificância de tudo e de todos.
O risco é igual, mas a desigualdade continua, e até se agrava, porque quem tem poder aquisitivo pode se resguardar e cuidar-se, enquanto milhões de pessoas, pobres e miseráveis simplesmente continuam como estão e ficam, e que no Brasil, como em tantos países a tendência é a de piorar.
Esse quadro de pavor, criado por um terrorista universal e invisível, está reforçando o sentimento da solidariedade que para os cristãos não foram suficientes mais de dois mil anos de exemplo, de orações e fundamentalmente de prática, para que a desigualdade não existisse.
Agora, já se sabe: se todos não forem vacinados, todos correm o risco de serem contaminados, mesmo os que tomaram a terceira dose. Não há garantia plena alguma, há possibilidade de enfrentar-se melhor o perigo, vacinando-se e usando máscara.
E o surgimento dessa nova cepa – Ômicron- lá na África aguça, ainda mais, a ampliação da solidariedade, não só para doar-se a vacina, como emprestar o sistema de vacinação para imensas regiões radicalmente desatendidas. Todos por todos.
Boaventura registra ainda que o homem desde o Século XVI até agora agiu certo de dominar a natureza, mas agora tem a certeza de que ele pertence à natureza.
E, sob o influxo dessa realidade sinistra e funérea, com a solidariedade real e universal pedindo passagem, a intuição do falecido Celsos Ybson de Syllos é lembrada naturalmente. Ele disse, uma vez: “O mundo futuro será traçado sob o influxo das correntes religiosas, cristianismo, judaísmo, islamismo e tantas outras”.
Feliz Natal.