Considerando que foi ela a precursora do conceito de “stories” que tornou-se amplamente popular no Facebook, Instagram e até WhatsApp, há quem pense que a Snap poderia ser uma empresa que gozasse de altas na valorização do próprio capital, mas a verdade é justamente o inverso: o mercado em 2018 fechou para ela, registrando a baixa mais contundente de sua história, com capital valorizado a meros US$ 6,5 bilhões. Quando em alta, a empresa chegou a valer cerca de US$ 31 bilhões.
Seria natural julgar que essa queda brusca se deve à concorrência, que pegou o melhor produto da Snap e o aplicou de maneira mais inteligente. Porém, também não é este o caso: segundo o analista Youssef Squali, do banco de investimentos SunTrust Robinson Humphrey, a responsabilidade sobre o problema recai nos ombros do atual CEO da empresa, Evan Spiegel, que tem um estilo mais “teimoso” de gestão: “Ele faz essas coisas não para gerar lucro, mas sim para provar que ele está certo”, disse Squali sobre a capacidade de tomada de decisão do executivo.
Ex-empregados da Snap corroboram a percepção do analista, acusando-o de preferir os próprios instintos a inputs técnicos da equipe e de especialistas. Tais ações levaram ao lançamento de duas novidades que trouxeram inúmeros prejuízos à Snap: os óculos inteligentes Spectacles e o redesign do aplicativo mobile da empresa. O primeiro exemplo trouxe prejuízo aproximado de US$ 40 milhões, enquanto o segundo foi tão odiado pela decrescente base de usuários, que uma petição online para removê-lo e retornar à versão anterior juntou mais de um milhão de assinaturas.
A percepção financeira do SunTrust prevê que o projeto corporativo encabeçado por Spiegel deve trazer um prejuízo contínuo à Snap até pelo menos 2021.
Outros analistas dizem que o CEO não está ajudando a situação ao manter-se calado diante de todos estes casos. Exceto por uma dispensa que soou arrogante para muitos no caso do redesign do app, Spiegel manteve-se longe dos microfones na maior parte do ano. Para Chris Paradysz, CEO da agência de marketing digital PMX, que comprou anúncios para seus clientes no Snapchat, isso machuca a percepção externa que o mercado tem da empresa:
“O Sr. Spiegel é um homem bastante reservado, que fala pouco em público sobre a sua empresa. Isso pode estar ferindo a Snap. Anunciantes querem ouvir do próprio Evan. A liderança é importante em um período de transição, e a Snap ainda está nessa transição”.
Adicione a isso a recusa, em 2016, de uma suposta proposta do Facebook em comprar a Snap e absorver a sua tecnologia de Stories. Isso foi antes da rede de Mark Zuckerberg lançar a sua própria ferramenta e espelhá-la em todos os seus produtos (Instagram, Messenger e WhatsApp). Agora, o termo “stories” é mais reconhecido por uma tecnologia adotada até por players improváveis do mercado, como o YouTube e o LinkedIn.
Spiegel, segundo fontes próximas a ele e à negociação, disse que nunca houve uma oferta formal do Facebook, e qualquer abertura deste assunto não foi comunicada ao board da Snap. Spiegel diz não se arrepender de ter recusado a proposta.
Duas investigações das autoridades governamentais nos EUA também mancham a reputação da Snap: de um lado, o Departamento de Justiça e a Comissão de Segurança e Valores (algo como a “CVM” dos EUA) buscam esclarecimentos sobre a Snap ter ou não divulgado de forma adequada ameaças em potencial à sua plataforma, na ocasião de sua abertura de capital (IPO). De outro, o FBI quer informações sobre a suposta acusação de que a Snap coletou e utilizou dados sigilosos de seus clientes e usuários, no que tange à percepção deles sobre a plataforma, e manipulado seus valores de mercado.
Algo nos diz que 2019 não deve começar muito bem para Evan Spiegel. Ou para a Snap.
Fonte: The Wall Street Journal; 9to5Mac