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Ribeirão é a 8ª de SP com mais furtos e roubos de celular 

Ocorrências no estado foram 10% menores em 2023 se comparados com ano anterior, mas grandeza dos números aponta para “indústria” do crime (Reprodução)

Por Adalberto Luque 

Um levantamento realizado pelo Departamento de Economia do Crime da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) a partir da compilação de boletins de ocorrência registrados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) aponta que o número de casos de furto e roubo de celulares foi 10% menor em 2023, em comparação com o ano anterior.

Segundo Erivaldo Vieira, aglomerações e atmosfera de festa facilitam ação de criminosos  (FECAP/Divulgação)

Ao longo do ano de 2023, o Estado de São Paulo registrou 160.038 casos de furto (art. 155) e 141.313 casos de roubo (art. 157) de aparelhos celulares, totalizando 301.351 ocorrências durante o período. Fevereiro foi o mês com maior número de ocorrência e apresentou 14% mais casos em relação a fevereiro de 2022. 

Segundo o professor pesquisador responsável pelo levantamento, Erivaldo Vieira, o pico de ocorrências no mês de fevereiro pode estar diretamente relacionado com o Carnaval. 

“As festas do período costumam atrair grandes multidões e propiciar um ambiente onde furtos e roubos podem ocorrer com mais frequência”, explica Vieira. 

Ribeirão Preto 

Os números da FECAP mostram que Ribeirão Preto ocupou, em 2023, a incômoda oitava posição no ranking das cidades com maior número de celulares furtados e roubados. O total de celulares furtados, todavia, apresentou aumento de 2022 para o ano passado.  

De acordo com o levantamento junto à SSP, em 2022 foram 1931 casos de furto de celular e, no ano passado, 1965, o que representa alta de 1,8%. Entre celulares furtados e roubados (quando há ação violenta, com ameaça e uso de arma de fogo ou outra qualquer), foram 3230 ocorrências, ou seja, quase nove celulares foram furtados ou roubados na cidade durante o ano passado. 

No ranking dos bairros onde os celulares são levados em maior número, o Jardim Jóquei Clube aparece em primeiro lugar, com 466 ocorrências registradas em 2023. Depois aparece o Centro, com 336 casos, seguido pelos Campos Elíseos, com 186 casos e Ribeirânia, com 84 casos.  

O Jardim Jóquei Clube é o bairro onde está localizado o Parque Permanente de Exposição, Recinto da Feapam, onde ocorrem grandes eventos musicais. “As aglomerações e a atmosfera de festa podem facilitar a ação de criminosos, o que explica o aumento nas ocorrências durante este período”, acrescenta Vieira. 

Preferência pela via pública 

A grande maioria dos roubos ocorre nas vias públicas. Em 2023, 814 furtos e 1.101 roubos de celulares ocorreram nas ruas da cidade. Em seguida aparecem as residências, com 90 casos no total, seguido por locais de lazer e recreação – como bares e clubes, com 78 registros.  

O período da noite e o da madrugada juntos, tiveram 1077 furtos e roubos de celular, enquanto manhã e tarde registraram menos da metade: 454 casos. O endereço que mais figurou nos boletins de ocorrência de furto e roubo de celular foi a Avenida Orestes Lopes de Camargo, onde fica o Recinto da Feapam. No total, entre furtos e roubos, 408 BOs foram registrados com esse endereço como local do crime.  

A Avenida Thomaz Alberto Whatelli aparece em seguida com 70 casos. Além a proximidade com a Feapam, a via é o principal acesso para o Aeroporto Leite Lopes.  

Em terceiro lugar está a Avenida Jerônimo Gonçalves, onde fica o Terminal Rodoviário de Ribeirão Preto. Foram 66 registros no total. 

Peças e golpes 

Olivério explica que celulares furtados ou roubados podem abastecer mercado de peças ou serem zerados e vendidos no mercado paralelo, após informações pessoais serem utilizadas em diversos golpes ( Urmobo/Divulgação) 

Para Vinícios Olivério, CTO da Urmobo, plataforma que gerencia dispositivos móveis oferecendo proteção de informação, o grande número de furtos e roubos de celulares pode indicar uma indústria do crime com duas vertentes: o abastecimento de peças para o mercado paralelo e a aplicação de golpes a partir de dados dos aparelhos levados de seus donos.  

“Isso ainda acontece muito porque, além de desmontado para ter as peças usadas em consertos ou até mesmo zerado e vendido no mercado paralelo, o celular contém muitas informações pessoais, como acesso a contas bancárias, redes sociais e contato de outras pessoas, que são informações que podem ser utilizadas em diversos tipos de golpes”, explica Olivério. 

Formado em Ciência da Computação, com mestrando e doutorando na área, ele fundou a Urmobo em Ribeirão Preto no ano de 2017. A empresa atua nos mercados do Brasil, Colômbia, Chile, Argentina, Panamá e Equador, com mais de 250 mil dispositivos gerenciados através de suas plataformas, para mais de 300 empresas. 

“Caso um dispositivo roubado seja de uso corporativo e eles tenham uma tecnologia como a nossa, conseguimos remotamente bloquear o equipamento, remover todas as informações sensíveis que ele possua e ainda rastrear a sua localização. Além disso, com uma solução MDM – Gestão de Dispositivos Móveis – é possível controlar e proteger dispositivos móveis usados por funcionários, com a capacidade de monitorar, rastrear, configurar e remover remotamente aplicativos e dados.”  

Segundo Olivério, todo cuidado é pouco quando se trata de celulares. “É preciso redobrar a atenção, principalmente em horários com menor movimento de pessoas e ao cair da noite, estudos mostram que o período noturno é o de maior incidência de roubos de telefones”, avalia. 

Medidas a serem tomadas por quem teve o celular furtado ou roubado 

* Ativar verificações de dois fatores nos aplicativos mais importantes como redes sociais, e-mail e apps de bancos; 

* Adicionar estes aplicativos a uma pasta segura dentro deste celular, adicionando uma senha extra para acesso a estes aplicativos; 

* Ter um e-mail para recuperar senhas que não esteja logado no aparelho; 

* No caso de pessoas físicas, utilizar o app Celular Seguro do Governo Federal; 

* Em caso de roubos, solicitar o bloqueio do aparelho e um novo chip o mais rápido possível, além de registrar boletim de ocorrência. 

SSP cita queda de 17,2% dos roubos em geral 

A Secretaria de Segurança Pública divulgou nota avaliando os furtos e roubos em geral na cidade de Ribeirão Preto. “A SSP informa que as forças de segurança de São Paulo investem recursos para combater a criminalidade em todas as regiões do Estado, incluindo Ribeirão Preto. Além do policiamento ostensivo, há também o trabalho de investigação, que permite o esclarecimento dos casos registrados. A atuação das polícias, em 2023, apresentou queda de 17,2% nos casos de roubos, resultando em 501 prisões e apreensão de 17 armas de fogo na cidade. A pasta enfatiza que suas forças policiais monitoram de perto os índices de criminalidade em todas as regiões do Estado. Quando identificada uma área com aumento nos registros de crimes patrimoniais ou contra a vida, são implementadas medidas como o reforço do efetivo policial ou realocação de recursos, de acordo com a estratégia operacional mais eficaz”, conclui a nota. 

Legislação favorece o criminoso 

Marco Aurélio Gritti (Alfredo Risk)

Pesquisa Seade [Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados] aponta que 80% das pessoas acima de 10 anos têm celular. Isso implica deduzir que em Ribeirão Preto temos perto de 500 mil celulares. Aliado a isso, a cidade é polo de grandes eventos/shows, o que explica os números de registros em avenidas próximas ao Parque de Exposições. 

Tem-se também os crimes próximos à Rodoviária, shoppings, hospitais, comércio e universidades, em razão da grande circulação de pessoas sobretudo na volta do trabalho/estudo à noite. Há quadrilhas organizadas em furtar/roubar celulares (sobretudo em eventos) e rapidamente repassar os aparelhos, que vão alimentar a receptação, o tráfico de drogas, os golpes bancários e em alguns casos a exportação a outros países. 

O celular continua sendo atrativo aos criminosos pelo valor agregado (preço do aparelho e acesso a dados), ademais o crime de furto simples é de menor potencial ofensivo (subtrai-se da vítima o valor do aparelho e o tempo gasto para adquiri-lo, mas o legislador não conhece essa realidade e dessa forma vê crime menor nisso), assim esses criminosos não ficam presos e voltam a cometer crimes. 

Nossa legislação penal favorece o criminoso e penaliza a vítima, restringindo sua liberdade, paz e tranquilidade. Nesse cenário, recomenda-se cautela em portar/acessar o celular em locais públicos e o mais breve possível acionar ferramentas que bloqueiem o aparelho e os dados bancários, bem como ligar para o 190-Emergência e elaborar o Boletim de Ocorrência. 

 Por Marco Aurélio Gritti, coronel aposentado da PM, consultor em segurança e advogado, com extensão em Gestão de Riscos Corporativos. Especializado em Polícia Judiciária Militar e em Direito Tributário. MBA em Administração. Mestre em Segurança Pública. 

 

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