O líder da oposição russa Alexei Navalni morreu na prisão nesta sexta-feira, 16 de fevereiro, aos 47 anos, segundo informações de agências de notícias. Navalni estava preso em uma colônia penal em Kharp, no Ártico russo, e pouco se sabia sobre o seu exato estado de saúde. Ele cumpriria pena até 2031, após ter sido condenado por corrupção em julgamentos apontados como politicamente motivados.
O governo do presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que não tem nenhuma informação sobre o motivo da morte de Navalni. O opositor foi detido pelas forças de segurança de Moscou em janeiro de 2021 depois de retornar da Alemanha, onde havia se recuperado de uma tentativa de envenenamento.
“Em 16 de fevereiro de 2024, no centro penitenciário n°3, o prisioneiro Navalni passou mal após uma caminhada as causas da morte estão sendo determinadas”, afirmou o serviço penitenciário em um comunicado. Ele perdeu a consciência após dar uma caminhada na penitenciária que ficava no gelado Ártico russo.
“Todas as medidas de reanimação necessárias foram tomadas, o que não levou a resultados positivos. Os médicos da ambulância confirmaram a morte do condenado.” Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, afirmou que a morte foi relatada ao presidente russo, de acordo com o serviço de notícias estatal Tass
A porta-voz de Navalni, Kira Yarmysh, apontou que ainda não era possível confirmar a morte de Navalni e que um advogado estava viajando até a prisão. O advogado e ativista de 47 anos estava detido desde janeiro de 2021, quando retornou da Alemanha, onde foi hospitalizado por envenenamento.
O jornalista russo Dmitri Muratov, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2021, denunciou à agência Reuters que a morte do líder foi assassinato. Em mensagem escrita no canal de Telegram de seu jornal, o jornalista atribuiu a morte a torturas que Navalni sofreu durante os anos preso.
“É uma notícia terrível. Tenho certeza de que o coágulo (se houve algum) é consequência direta das 27 punições”, escreveu o editor do Nóvaya Gazeta, que foi banido da Rússia. O jornalista, declarado agente estrangeiro pelo Kremlin, motivo pelo qual deixou temporariamente a direção do jornal, afirmou que nessas prisões há privação de mobilidade, comida de baixa caloria, falta
de ar e frio constante.
“Alexei Navalni foi submetido a torturas e tormentos durante três anos. Como o médico de Navalni me disse: o corpo não pode suportar isso”, enfatizou. “Todo o pessoal médico que trabalha na prisão deve obrigatoriamente ter câmeras. Exigiremos que forneçam as imagens: quando os médicos chegaram, como foi prestado o socorro, se todas as possibilidades para salvá-lo foram esgotadas”, destacou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, culpou diretamente o russo Vladimir Putin pela morte do líder da oposição, a quem descreveu como uma voz poderosa em defesa da verdade. A ONU, a Otan e a União Europeia pediram investigações sobre a morte do dissidente russo.
“Se a informação sobre a morte de Navalni for verdadeira, e não tenho motivos para duvidar dela, é claro que as autoridades russas vão contar a sua própria história. Mas não se enganem, Putin é o responsável”, disse Biden na Casa Branca. “Não sabemos exatamente o que aconteceu.“
Por sua vez, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que durante mais de uma década, o governo russo, Putin, perseguiu, envenenou e prendeu Navalni. A Chancelaria russa rejeitou as falas do chefe da diplomacia americana.
A polícia da Rússia prendeu nesta sexta-feira cerca de 40 pessoas que se manifestaram em Moscou, São Petersburgo e outras cidades para homenagear o dissidente. Os relatos são de forte presença da polícia nas ruas. E, de acordo com o grupo OVD-Info, que monitora a repressão, também foram registradas prisões em várias cidades do país.
Alexei Navalni Navalni tornou-se conhecido do público russo pela primeira vez em 2008, quando denunciou casos de corrupção de diversas empresas russas como Gazprom e Rosneft. Ele foi condenado em 2013 por peculato e afirmou que a acusação tinha motivação política.
Navalni foi sentenciado a cinco anos de prisão, mas o Ministério Público exigiu mais tarde surpreendentemente a sua libertação enquanto se aguardava recurso. Posteriormente, um tribunal superior suspendeu a sua pena.
Em 2020, quase morreu vítima de um envenenamento enquanto voava da Sibéria para Moscou. Depois de ser atendido em solo russo, ficou internado em Berlim.
Os testes feitos na Alemanha identificaram a presença do agente nervoso da era soviética, Novichok. A descoberta elevou o tom das críticas contra o Kremlin que foi acusado de envenenar o opositor. Navalni ficou em coma induzido por cerca de duas semanas, depois trabalhou para recuperar a fala e os movimentos por mais algumas semanas.
No ano passado, Putin rejeitou uma investigação divulgada por vários meios de comunicação, entre eles o site Bellingcat, a rede CNN e Der Spiegel, a qual atribui a responsabilidade do envenenamento ao FSB, os serviços secretos russos, herdeiros da KGB.
Em agosto de 2023, o ativista russo foi condenado a 19 anos de prisão por organizar, financiar e convocar atividades “extremistas”, crimes que ele negou. Antes da condenação, ele já cumpria penas que somavam onze anos de prisão por violações de liberdade condicional, fraude e desobediência civil. Agora, foi condenado mais uma vez no caso.
Denis Sinyakov/Reuters
Líder da oposição russa, Alexei Navalni estava preso em uma colônia penal em Kharp, no Ártico russo, e pouco se sabia sobre o seu exato estado de saúde