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O Equador e sua literatura (3): Alfonso Rumazo González   

Rosemary Conceição dos Santos* 

Alfonso Rumazo González (1903 – 2002) foi um escritor, historiador, ensaísta e crítico literário equatoriano cujos pais abriram uma farmácia de grande repercussão no Equador, a “Popular”. Tendo perdido a mãe muito cedo, quando esta dera à luz a seu irmão mais novo, José, Alfonso estudou no Colégio dos Irmãos Cristãos de Latacungam, mudando-se, aos dez anos, para Quito, com o pai e o irmão. Neste novo local, Alfonso e José iniciaram suas carreiras literária. Adoecido o pai, o autor viu-se impedido de trabalhar, conseguindo, com a ajuda do arcebispo González Suárez, seguir para o Seminário San Luis de Quito, como fez o irmão. Entretanto, não optando pelo sacerdócio, iniciou uma peregrinação em busca de trabalho: Guayaquil, Bogotá, Lima, Panamá, San José e Havana, lendo e escrevendo muito durante as viagens. Até que, passados quatro anos de viagem, retornou a Quito, em 1926. 

Ingressando no jornal “El Día” para redigir críticas literárias, posteriormente publicadas como “Silhuetas Líricas de Poetas Equatorianos”, fez amizade com outros escritores, com os quais passou a colaborar no campo literário. Data desta época sua dedicação à escrita de poesia, reunidas no livro “Vibración Azul”, de 1929, caminho também seguido pelo irmão, José Rumazo, que publicaria seus poemas em “Proa” e “Raudal”. Em 1930, participando com o irmão de um concurso organizado pela Academia Nacional de História, José investigou o período pré-hispânico e Alfonso a história republicana, estudos, estes, que o autor reuniu em “Gobernantes del Equador”. Fundando o “Editorial Bolívar”, voltado à divulgação de escritores inéditos, dali se tornaram conhecidos nomes como Carlos Dousdebés, Remigio Romero y Cordero, Belisario Quevedo , Alfredo Baquerizo Moreno e Medardo Ángel Silva. O sucesso do “Editorial” levou-s a investir na criação do grupo literário “América”, que publicou diversos números, dando a conhece, de igual modo, a nova geração literária de escritores de então. Imbuídos de crítica governamental, logo os irmãos criaram o grupo político Nova Ação Republicana Equatoriana (NARE) e o jornal “El Pueblo”, de poucas edições, que durou apenas um ano. Alfonso, então, apoiando o candidato presidencial Velasco Ibarra, lançou seus romances “Los Ideales”, “Esmeraldas” e “Aquelarre”. Casando-se com a pianista Inés Cobo Donoso, juntos tiveram a filha Lupe Rumazo, que, tal como o pai e o tio, também seria uma escritora de destaque. 

Divergências ideológicas com o governo o fizeram se exilar na Colômbia e retornar ao jornalismo. De acordou com estudiosos, Alfonso, nessa época, participando de um concurso de biografias da Editorial Ercilla, no Chile, escreveu, em um mês, a história de Enrique Olaya Herrera, político e jornalista colombiano, que viria a ser presidente da Colômbia, assim iniciando sua carreira como biógrafo. Na sequência, estudando a vida de Manuela Sáenz, revolucionária que lutou pela independência das colônias sul-americanas da Espanha ao lado de Simón Bolívar, com quem teve um romance, veio a publicá-la em 1944. Na sequência, Alfonso biografou Simón Bolívar, revolucionário venezuelano e ex-presidente da Grã-Colômbia e Fructuoso Rivera, presidente uruguaio, além de outros líderes importantes da América Latina. Consagrado escritor em 1970, Alfonso trabalharia na Universidade de Santa María para obter o doutorado em História, o que conseguiu em cinco anos, tornando-se professor honorário da Universidade Simón Rodríguez de Caracas, em 1975 e voltando a colaborar em jornais como, por exemplo, “Últimas Noticias”, “El Nacional” e “El Universal”. 

Segundo estudiosos, em 1982, sua biografia do argentino General San Martín, primeiro líder da parte sul da América do Sul que obteve sucesso no seu esforço para a independência da Espanha, tendo participado ativamente dos processos de independência da Argentina, do Chile e do Peru, foi publicada, juntamente com seu livro “Cinco ensaios sobre libertadores”, em 1983. Dois anos depois, escreveria também a biografia “Miranda, protolíder da independência americana”, vindo, nos dez anos seguintes, a publicar “Ensayos pluriorganizados”, a biografia “José Martí, libertador”, considerado um herói nacional cubano por causa de seu papel na libertação de seu país da Espanha, e o romance “Justiça, o palavrão”, além de, em 1995, apresentar suas oito biografias em evento realizado no Palácio Presidencial de Miraflores, em Lima, Peru. Adoecendo, piorou gradativamente, vindo a falecer em Caracas, capital da Venezuela, aos noventa e nove anos. Dedicou toda a sua vida ao estudo da história da independência de forma global, desde as primeiras revoltas do início do século XIX até às guerras de independência de Cuba, Porto Rico e Filipinas, o que, na sua opinião, corresponde aos acontecimentos históricos mais relevantes da região. Foi um dos escritores equatorianos de maior projeção internacional. 

Um trecho de um de seus últimos escritos, onde resume sua vida tanto na Venezuela quanto no Equador? “O que recebi do Equador? Todo aquele assentamento radicular ou substrato, como uma camada geológica, que se chama próprio e que significa uma história, alguns valores, uma trama irrepetível. Um país que em mim talvez tenha tido um dos maiores exaltadores e defensores; uma nação à qual dediquei onze ou doze livros sobre temas equatorianos e na imprensa a palavra sobre todos os temas, sobre o seu direito territorial amazônico confiável, real e histórico, sobre seus picos que não são apenas paisagens como às vezes querem ser vistos. Sobre um crescimento de densidade ascendente, sobre a sua história de lealdades supremas e bolivarianas. A Venezuela, a única, a deslumbrante, a mais livre, a criadora da liberdade americana e a geradora dos mais elevados valores universais, deu-me abrigo e luz; Respondi à sua recepção benevolente com um trabalho intenso”. 

Professora Universitária* 

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