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Mortes caem 31%, mas aumenta número de acidentes no trânsito de RP

Apesar da redução, de acordo com o Infosiga, uma pessoa perdeu a vida a cada cinco dias nas ruas e rodovias de Ribeirão Preto (Max Gallão Mesquita)

Por Adalberto Luque 

Em menos de 24 horas, no mês de setembro de 2023, dois idosos perderam suas vidas no trânsito. Dilma Soares de Souza, de 72 anos, atravessava a Rua Javari, Jd. Presidente Dutra, zona Norte da cidade, no dia 05 de setembro. Estava na faixa de pedestres quando um motociclista surgiu e a atropelou.  

O corpo de Dilma foi lançado vários metros adiante e ela caiu desacordada. Chegou a ser socorrida, mas perdeu sua vida horas depois.  

Na véspera, Nilson de Andrade, de 81 anos, foi atravessar a Avenida Monteiro Lobato, Vila Virgínia, zona Oeste da cidade. Em segundos, surgiu uma moto e o idoso foi atropelado. Caiu no meio da rua. Chegou a ser socorrido e ficou internado. Mas morreu no dia seguinte. 

Apesar do caso dos dois idosos, o número de mortos no trânsito em Ribeirão Preto registrou queda de 31%, de janeiro a novembro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 68 mortes, contra 99 em 2022. Os dados são do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo – Infosiga SP, gerenciado pelo programa Respeito à Vida e Detran-SP. Os números relativos a dezembro de 2023 serão divulgados somente no final de janeiro. 

Porém, fica difícil explicar que houve redução para as famílias das duas vítimas de atropelamento. E as coincidências entre os idosos mortos no trânsito não param por aí. Nos dois registros, estavam envolvidas as modalidades que mais casos de morte registram no trânsito ribeirão-pretano: motos e pedestres.  

Os motociclistas lideram o número de mortes em 2023. Foram 28. Em seguida aparecem as vítimas de acidentes em automóvel, com 17. E os pedestres vem logo em seguida. Foram 16 pedestres que perderam a vida em 2023. 

Acidentes 

Se por um lado os acidentes fatais caíram, o número de acidentes sem mortes e com vítimas feridas subiu. Em 2023 o trânsito de Ribeirão Preto registrou 4.821 acidentes, número 25,4% maior que no ano anterior. De janeiro a novembro de 2022 o Infosiga SP registrou 3.844 acidentes com vítimas e não fatais. 

Se considerar dezembro de 2022, o total foi de 4.250 acidentes. Entre janeiro e dezembro do ano passado o total foi de 4.821 acidentes. Superou o ano todo de 2022. E em relação ao mesmo período, em 2023 o aumento foi de 25,4%. Foram 977 acidentes com vítimas e sem mortes a mais registrados pelo Infosiga-SP. 

Vítimas 

Outro dado preocupante é o aumento no número de acidentes não fatais e com vítimas. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a cidade registrou 890 vítimas entre janeiro e novembro de 2022. No ano passado, no mesmo período, foram 1079 pessoas feridas. Um crescimento de 21% nos casos de vítimas leves, moderadas ou graves, mas que não evoluíram para óbito. 

Além da dor e do transtorno que os acidentes de trânsito causam, é preciso observar sérios impactos na economia e na saúde pública. Na economia, pois o morto ou ferido no acidente não vai poder trabalhar e produzir. Há uma interrupção na cadeia produtiva da economia. Sem contar o gasto com medicamentos, internação hospitalar e outros custos na recuperação ou, no sepultamento em caso de falecimento. 

O trânsito é considerado problema gravíssimo de saúde pública, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Dada essa magnitude, cada vez mais os serviços de saúde precisam alocar profissionais e equipamentos para o atendimento à essas vítimas que, muitas vezes, exigem o cuidado de uma série de especialistas: neurocirurgiões, ortopedistas, cirurgiões de abdome e tórax, fisioterapeutas e outros. 

De acordo com dados da OMS, cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem, no mundo, em acidentes de trânsito a cada ano, e desse total, metade das vítimas são pedestres, ciclistas e motociclistas. 

No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres nas ruas e estradas do País também já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos dez anos, ao custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os números fazem parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). 

Rodovias 

Ana Caetano: concessionária registrou queda de 29,4% no número de vítimas fatais nas rodovias (Arteris ViaPaulista/Divulgação)

A redução no número de acidentes fatais também ocorreu nas rodovias. Segundo a Arteris ViaPaulista, empresa que administra rodovias na região, a redução foi de 29,4%. Em 2022 foram 34 mortes e em 2023 foram registradas 24.  

Entre as principais rodovias administradas pela concessionária e que reforçam a queda de mortos em acidentes estão a Rodovia Anhanguera (SP-330) entre Ribeirão Preto e Santa Rita do Passa Quatro, a ligação entre Ribeirão Preto e Araraquara/São Carlos e a Rodovia Cândido Portinari (SP 334), entre Ribeirão Preto e Franca. 

A Arteris ViaPaulista atribui a redução de mortes ao investimento da empresa em ações de responsabilidade social e segurança viária, que incluem campanhas de conscientização e abordagem a usuários de rodovia, de pedestres a caminhoneiros. A empresa contabilizou, em 2023, 180 campanhas em diferentes cidades, atingindo cerca de 10 mil usuários. Todas realizadas com participação e apoio da Polícia Militar Rodoviária (PMRv). 

“Todas essas ações fazem a diferença e integram um conjunto de investimento realizado pela ViaPaulista. É o nosso contato direto com os usuários e a cada abordagem nós conseguimos entender ainda mais o dia a dia da operação e divulgar o nosso trabalho também”, afirma Ana Caetano, gerente de Operações da Arteris ViaPaulista. 

Perfil 

A maioria das mortes ocorridas em Ribeirão Preto durante o ano de 2023 ocorreram nos hospitais. Foram 50% dos casos. Em 47,06% dos acidentes fatais, as vítimas morreram no local do acidente, enquanto outros 2,94% morreram enquanto eram transportadas para hospitais. Os dados também são do Infosiga-SP. 

Homem é a grande maioria das vítimas. Foram 83,82% dos mortos, enquanto as mulheres representam 16,18% dos casos. Do total das 68 mortes, 47 perderam a vida nas vias urbanas e outras 21 nas rodovias que passam pelo município, respectivamente 69% e 31%. A faixa etária dos 18 aos 24 anos é a que mais mortes registrou em 2023. Foram 13 casos. Em seguida, vem a faixa dos 35 a 39 anos, com 10 mortes. 

Entre fatalidades, 43 morreram no mesmo dia do acidente, 11 no dia seguinte, outros 11 após até uma semana e três resistiram por até 30 dias. E, de acordo com o Infosiga-SP, o condutor foi o que mais morreu nas colisões, em 69,2% dos casos (incluindo ciclistas, com duas mortes). Os pedestres vêm em seguida, com 22,06% das mortes registradas. E 8,82% dos mortos eram passageiros. Os números melhoraram, mas estão bem distantes de representar paz no trânsito. 

Falha humana 

O engenheiro de trânsito Anderson Manzoli acredita que o número de acidentes aumentou por conta da falha humana e grande quantidade de obras (Max Gallão Mesquita) 

Anderson Manzoli é engenheiro civil com mestrado no Departamento de Transportes da Universidade de São Paulo (USP) – São Carlos e especialista em trânsito. Segundo ele, a falha humana é a grande responsável na maioria dos acidentes. Mas sua avaliação é da questão como um todo. Segundo o engenheiro, quando se fala em trânsito, é preciso observar três pilares: o motorista (condutor), o veículo em si e a estrutura viária.  

“O que tivemos de diferente em Ribeirão Preto foi que houve bastante obras. Então essa quantidade grande de obras, por mais que sejam bem-sinalizadas, acabam aumentando o número de acidentes. Embora sejam acidentes de menor importância, porque a velocidade já é mais reduzida, é uma situação de maior número de congestionamentos, então são acidentes menores. Portanto, a quantidade de mortes também é menor”, explica Manzoli. 

Ele ainda cita a questão da infraestrutura viária e da falta de um sistema de transporte público eficiente. “Numa cidade, quando se alcança 300 mil habitantes, é necessário um investimento grande e pesado em transporte público. Em Ribeirão Preto isso não foi feito e hoje corremos atrás de um prejuízo de décadas”, avalia.  

Em sua análise, as leis que integram o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) são boas. “O Brasil é reconhecido por ter boas leis [de trânsito]. O problema não é a lei, mas a fiscalização”, aduz Manzoli, acreditando que medidas para garantir, por exemplo, o pagamento de multas, deveriam ser tomadas, inclusive associando a placa do veículo ao CPF ou CNPJ do responsável e, se não pagar a multa, o engenheiro defende que a Justiça poderia apreender bens até que a situação se regularize. 

Em relação à falha humana, para o especialista, falta conscientização. Ele observa que os motoristas se esquecem de que estão em um espaço público compartilhado. “É um adoecer social. O individualismo. Esquecem que não é um motociclista, mas um pai de família que está a seu lado. Temos que voltar às relações empáticas e humanas e começar a respeitar o espaço público como sendo de todos nós. O trânsito é reflexo disso tudo. Devemos cobrar a aplicação das leis, incentivar um trânsito mais humano e, desde cedo, inserir nas escolas a educação para o trânsito”, conclui. 

 

 

 

 

 

 

FOTO 01: 

Apesar da redução no total de mortos, motociclistas são as principais vítimas 

Alfredo Risk 

 

FOTO 02: 

Em 2023, número de acidentes aumentou 25,4% e número de vítimas não fatais foi 21% maior Max Gallão Mesquita 

 

FOTO 03: 

Ana Caetano: concessionária registrou queda de 29,4% no número de vítimas fatais nas rodovias  

(Foto: Arteris ViaPaulista/Divulgação) 

 

FOTO 04:  

O engenheiro de trânsito Anderson Manzoli acredita que o número de acidentes aumentou por conta da falha humana e grande quantidade de obras  

(Foto: Max Gallão Mesquita) 

 

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