Por: Adalberto Luque
Os dois homens presos, apontados como responsáveis pelo latrocínio do engenheiro Paulo Roberto Carvalho Pena Braga Filho, de 34 anos, morto por estrangulamento na madrugada de 29 de dezembro de 2023, assumiram a responsabilidade. O problema é que cada um dos envolvidos disse ser o único responsável pela morte do executivo que morava nos Estados Unidos.
As confissões ocorreram durante a reconstituição do crime, realizada pela Divisão Especializada em Investigações Criminais (DEIC), na manhã desta sexta-feira (02). Além dos dois homens presos, participam da reconstituição policiais civis da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), Grupo de Operações Especiais (GOE) e peritos da Polícia Técnico-Científica. A perícia utilizou equipamentos de tecnologia 3D, drone e outros recursos de ponta para avaliar as versões dos dois envolvidos.
Um grande aparato de segurança foi montado para garantir a integridade de Gabriel de Souza Brito e Marcelo Fernandes da Fonseca, ambos de 28 anos. Os dois foram presos por envolvimento da morte de Beto Braga, que trabalhava e morava em San Diego, Califórnia, EUA.
Os dois detidos seguiram na mesma viatura desde a sede da DEIC até o imóvel onde o crime ocorreu, o quarto em um imóvel disponível para locações de curtos períodos, na Avenida do Café, esquina com Rua Eduardo Prado, na Vila Amélia, zona Oeste de Ribeirão Preto.
O primeiro a apresentar sua versão foi Brito, inicialmente único suspeito do crime. Enquanto ele descrevia os detalhes da noite em que Beto foi morto, o outro preso, Fonseca, esperava na viatura e conversava com seu advogado.
O que disseram
Segundo o delegado Targino Donizete Osório, responsável pelas investigações, os dois teriam assumido serem os autores do crime. O primeiro a ter sua versão reconstituída foi Brito. Segundo Osório, ele disse que aplicou a “gravata”, golpe que teria causado a morte de Beto por estrangulamento.
Brito explicou que Beto teria chamado Fonseca de “favelado”, o que o teria irritado. Ele teria aplicado a “gravata” na vítima, que estava agitada. Fonseca teria segurado os pés de Beto, imobilizando-o. E o executivo teria desfalecido.
De acordo com o delegado, a versão de Fonseca foi diferente do depoimento. Ele disse que não roubou celular, tênis e cartões da vítima. Mas disse que o matou com a “gravata”. O golpe teria sido pedido por Beto, que acabou desmaiando.
Os advogados de ambos acompanharam a reconstituição. Paulo de Araújo Braz, advogado de Fonseca, disse que vai aguardar o andamento das investigações. “Estamos na fase de inquérito, de investigações. Como não tem contraditório, tudo precisa ser analisado. Ele [Fonseca] deu a gravata”, concluiu.
Wagner Simões, advogado de Brito, confirmou que seu cliente assumiu ter matado a Beto. “Não faz o menor sentido os dois terem assumido. Cada um contou de uma forma”, observou. Ele levantou a possibilidade de uma terceira pessoa, que teria ficado com o celular, ter sido o autor do latrocínio. A reconstituição durou cerca de duas horas e meia.
Além de comparar os depoimentos com os laudos da perícia, a Polícia Civil deve seguir com as investigações. Na próxima semana deve ocorrer a acareação, quando os dois envolvidos ficam frente a frente e confrontam seus depoimentos.
O caso
Beto Braga veio passar as festas de final de ano com a família, que mora em Ribeirão Preto. Ele chegou no dia 19 de dezembro e, no dia 28, disse que iria sair com amigos. Seu corpo foi encontrado no quarto de um imóvel de locação para curtos períodos, próximo à Avenida do Café, Vila Amélia, zona Oeste da cidade, em 30 de dezembro.
No apartamento onde o corpo estava, havia pinos, supostamente de cocaína, cartela de medicamento para estímulo sexual, latas de cerveja e um tubo com gel lubrificante. O laudo confirmou que a morte ocorreu por asfixia mecânica, ou seja, estrangulamento. O celular da vítima sumiu e, antes que o corpo fosse encontrado, um homem ligou para a família de Beto dizendo ter achado o aparelho. Chegou a marcar um encontro com a mãe do executivo para devolvê-lo, mas não compareceu.
O dono do imóvel, que aluga os quartos por meio de aplicativo, disse que o locador para o encontro com Beto já havia alugado diversas vezes antes, sem dar problemas. Depois de investigações e uso de inteligência policial, os agentes conseguiram encontrar Brito no Rio de Janeiro.
Após o depoimento, Brito teria dito apenas o apelido da outra pessoa que afirma ter participado do crime. As investigações evoluíram e Marcelo Fernandes da Fonseca foi preso em Diadema. Ele foi trazido para Ribeirão Preto onde foi interrogado.
Durante o depoimento de Fonseca, surgiu uma terceira pessoa, de nome Tiago, que teria ficado com o celular. Ele teria falado com a Polícia Civil por telefone, ficou de se apresentar, mas não apareceu na delegacia. Seu advogado entrou em contato com a DEIC, dizendo que ele iria levar o celular durante a semana, mas novamente não apareceu.