Na próxima terça-feira, dia 15 de outubro, comemora-se no Brasil o Dia do Professor. A data serve não apenas para parabenizar os mestres, mas também para uma reflexão sobre a importância desse profissional nas vidas das pessoas. O Tribuna ouviu alguns professores que falaram sobre a carreira, experiências e perspectivas.
Gilberto Abreu
Gilberto Abreu é um dos professores mais conhecidos de Ribeirão Preto. O que poucos sabem é que ele, quando jovem, queria seguir outra carreira: jornalismo. Um acontecimento mudou os seus planos.
“Eu tinha uma amigo muito próximo que era jornalista. Vivíamos na época da Ditatura e ele foi encontrado morto por exercer a profissão. Confesso que fiquei apavorado”, disse. Se os veículos de comunicação perderam um jornalista, as escolas ganharam um mestre. “Eu queria comunicar e escolhi ser professor, que não deixa de ser uma forma de comunicação”.
Sobre a profissão, Abreu demonstra amor. “Eu me apaixonei desde o início. Eu amo o que faço”, sintetiza.
O início da carreira foi em Minas Gerais, em 1971, onde ajudou a implantar as reformas nos ensinos de 1º e 2º graus. Em 1977 veio para Ribeirão Preto. Começou no COC que posteriormente se transformou em SEB, onde leciona até hoje, mas com menor carga horária. Deu aulas de História, Geografia, Sociologia e outras áreas de humanas.
Apesar do amor à profissão, Abreu diz que a carreira foi abandonada e degradada ao longo dos anos. “Certa vez, em uma aula para 180 alunos de cursinho, perguntei qual a profissão eles iriam seguir. Ninguém respondeu professor, ao contrário, eles riram na minha cara. Isso mostra que é uma profissão desvalorizada”, conta. “Mas é uma profissão valorizada na Europa, por exemplo. Tanto financeiramente como reconhecimento da população”.
Sobre futuro, Abreu mostra certa preocupação. “Vivemos num momento sombrio. Não adianta reformas estruturais, precisamos de uma reação da sociedade. De valorização e conscientização”, finaliza.
Vera Beatriz Carlotti
Formada em Engenharia Civil, Pedagogi a, Música e com especialização em Direito Educacional, a professora Vera Beatriz Carlotti, ajudou a formar várias gerações de profissionais em 36 anos de ensino na rede privada.
“Ensinar sempre foi uma característica minha. Aos 16 anos conclui o curso de música, como instrumento piano clássico. Gostava de participar de grupos musicais e coral na igreja. Durante a graduação em Engenharia Civil, era monitora e dava aulas em cursos preparatórios para vestibulares”, conta a hoje, diretora do Ateneu Barão de Mauá.
“Depois que terminei a primeira graduação comecei a dar aulas de Estatística, Matemática e Cálculo Diferencial e Integral. Estatística e Matemática em cursos técnicos e Licenciaturas, Matemática e Cálculo na Graduação”, completa.
Vera diz que sendo da área de exatas, o grande desafio dela foi fazer com que os alunos gostassem da matéria, “pois existe resistência quanto à aprendizagem das disciplinas que envolvem conceitos matemáticos”. Afirma que construiu uma carreira de muitas conquistas e felicidades.
As inovações oferecidas hoje são muito significativas e precisam ser utilizadas com rapidez e excelência, pois o cenário para o qual estamos preparando nossas crianças e jovens exige rapidez, criatividade.
Sobre o que vem pela frente, Vera fala sobre a Nova Base Comum Curricular (BNCC) que “abre o horizonte para entrarmos na realidade do novo século”. Também percebe a dificuldade na valorização do professor. “Todos dizem querer educação, mas não querem investir nela. Acredito em mudanças pela educação, mas é preciso investimento, pois se ele não é possível trabalhar”, ressalta.
“Sou otimista no que diz respeito às mudanças e inovações prometidas. As famílias estão mudando o pensamento e investindo em educação”, finaliza.
Donizete Aparecido Barbosa
Professor Donizete como é conhecido entre os alunos tem 33 anos de magistério. Trabalhou 25 em salas de aulas das redes públicas e particulares da cidade. Os últimos oito anos atua como dirigente sindical na luta pela categoria.
“Eu sou feliz em ter contribuído na formação de alunos, na entrada deles em diversas, mas foram muitas, universidades particulares e públicas. Me sinto feliz em ver esses alunos oriundos da rede pública, hoje formados e bons profissionais”, diz.
Donizete conta que as ações iam além das salas de aula. “Eu procurava conversar sempre. Dava esperanças, falava que era para eles se esforçarem e que a educação é diferencial na vida das pessoas, não só profissionalmente ou com relação a salários, mas faz pensar o mundo e a realidade. Provoca reflexão”.
Ele ainda diz que tem orgulho por não ter tido problemas que não pudesse superar nos 25 anos lecionando. “Hoje ando pela cidade e a gente se encontra. Eles vem agradecer, falar das aulas. Isso é bom”.
Donizete vê uma mudança no magistério. “O professor está no dia a dia se atualizando. É um professor multitarefa. Não tem mais essa historia de giz e lousa, são antenados com as mudanças que acontecem numa velocidade rápida. Tudo isso para oferecer o melhor aos alunos para que sejam cidadãos”, finaliza.
José Antônio Lages
Professor Lages é outro representante do magistério com fortes laços c o m Ribeirão Preto. Após 30 anos de profissão, se aposentou na rede municipal. Mas lecionou em escolas particulares e em faculdades. “Nas escolas municipais e particulares foram períodos iguais. Na faculdade foi um curto espaço. Mas foram anos de trabalho e dedicação. Acho que valeram a pena, pois contribui levando conhecimento para criança e jovens”, diz.
Lages fala que a dedicação proporcionou recompensa de satisfação pessoal. “Eu procurei levar conhecimento e visão de mundo, mostrar um horizonte que a escola pode contribuir no avanço social, na vida das pessoas, sempre tive essa consciência muito forte em mim”, lembra.
Ele demonstra preocupação para os dias atuais. “Vejo hoje todos esses questionamentos que estão surgindo. Questionando autonomia do professor, por exemplo. Isso me entristece. Durante minha carreira essas coisas não eram colocadas dessa forma. Sempre houve respeito ao aluno, autonomia dele. Percebo que os milhares de alunos que convivi, cada um seguiu o rumo que a vida lhe pareceu melhor. Uns foram para a esquerda, outros pra direita e outros pro centro e, claro, alguns para lugar nenhum”, analisa.
Para ele, os desafios atuais são diferentes. “Hoje é mais complicado e mais difícil, porque muita gente está querendo determinar o que o professor deve ou não fazer, sem nunca ter colocado os pés dentro de uma escola. Na minha época havia mais harmonia e consenso, além da possibilidade de consenso do que é educação, do que ela serve, função de escola. Hoje vejo o educador pensar se vale a pena seguir a profissão”, finaliza.