Depois de “Um Céu Cinzento – A Aviação Militar na Revolução de 32”, “A Guerra do Açúcar – As Invasões Holandesas no Brasil” e “O Brasil na Primeira Guerra Mundial – A Longa Travessia, que conta a participação das Forças Armadas Brasileiras no primeiro grande conflito mundial, o coronel do Exército, Carlos Daroz lança o livro “Bruxas da Noite – As Aviadoras Soviéticas da Segunda Guerra Mundial”. Daroz é considerado um dos maiores historiadores militares do Brasil. A recente obra, em co-autoria com a filha Ana Daroz, fala além das missões de guerra, sobre o empoderamento feminino e o valor das mulheres há décadas. “Elas foram as primeiras pilotos militares da história”, diz. O escritor esteve em Ribeirão Preto nesta semana e falou ao Tribuna, um pouco sobre o último trabalho.
Carlos Daroz mora em Niterói, no Rio de Janeiro. É coronel reformado do Exército Brasileiro, escritor, historiador militar, professor em várias universidades federais e militares no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, além de ser palestrante e professor convidado para debater temas militares no Brasil, Portugal, África, França, e outros países. Tem artigos publicados em várias revistas e livros sobre temas militares. É graduado em História Militar, mestre e está cursando doutorado. Faz parte da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
O escritor diz que sempre se dedicou ao estudo de temas ligados à história militar, segundo ele, poucos explorados em nosso país. Daroz revela que o interesse em escrever sobre as aviadoras soviéticas surgiu por dois motivos. O primeiro é que pela sua trajetória de pesquisador, dedicou ao estudo da aviação de combate. O segundo foi familiar. “Minha filha Ana, que escreveu o ‘Bruxas’ em coautoria comigo, me presenteou, no dia dos pais, com o livro “A guerra não tem rosto de mulher”, da escritora russa Svetlana Alexeievitch, prêmio nobel de Literatura.
A obra traz o relato de mulheres ex-combatentes do Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial. “É importante pontuar que a União Soviética foi o único país do mundo a empregar suas mulheres em combate, na linha de frente, durante o conflito. Desse livro procurei outras fontes que falassem sobre as destemidas aviadoras, e encontrei muito material, inclusive trabalhos de história oral desenvolvidos com as remanescentes ainda na década de 1980, escritos pelas historiadoras americanas Ann Nogle e Reina Pennington, e a russa Lyuba Vinogorovda. Esses relatos foram o ponto de partida para o livro”, diz.
Daroz revela que as principais dificuldades foram as normalmente encontradas por todo historiador em seu processo de pesquisa: a seleção e utilização das fontes. “Por se tratar de uma história muito pouco difundida no Brasil, cujas fontes estão majoritariamente em arquivos russos. O idioma, naturalmente, foi uma dificuldade, superada com o auxílio de ferramentas de tradução e do Consulado Geral da Rússia no Rio de Janeiro”.
Empoderamento das mulheres
O pesquisador aborda outro tema muito em destaque recentemente: o empoderamento feminino. Segundo Daroz, o livro aborda o papel da mulher soviética na Segunda Guerra Mundial, a mulher comum, donas de casa, estudantes, operárias, mães. “Todas muito jovens, que não se omitiram e, pelo contrário, se ofereceram voluntariamente para enfrentar a invasão de sua pátria pelos nazistas. Uma história de coragem, sob a perspectiva feminina. Mulheres que foram à luta, e pagaram um preço elevado por sua atuação. Nesse sentido, mais do que feminismo, a capacidade da mulher foi evidenciada, na medida em que tiveram que superar muitos obstáculos e preconceitos, oficiais ou não, para poderem lutar por sua pátria”, ressalta.
O coronel completa dizendo que a União Soviética foi o primeiro país do mundo a expressar, em legislação, a equidade de direitos entre homens e mulheres. Em sua Constituição de 1936, as mulheres receberam direitos (como propriedade privada, divórcio, etc), como deveres, inclusive a defesa da pátria. “Nesse sentido, as aviadoras, assim como outras mulheres combatentes (atiradoras de elite, comandantes de tanques, comandantes de pelotão etc), representaram um papel de vanguarda na afirmação da posição da mulher na sociedade. Embora as unidades aéreas femininas soviéticas fossem desmobilizadas após a guerra, seu legado atravessou décadas, e hoje milhares de mulheres em todo o mundo encontram-se nos controles de aeronaves, seja na aviação militar, ou na comercial”, completa.
Visita a Ribeirão Preto
Sobre visitar Ribeirão Preto e lançar o livro na cidade, Carlos Daroz explica que tem vínculos com o município. A esposa encontra-se, desde o ano passado, realizando um estágio pós-doutoral na USP – Universidade de São Paulo, com viagens semanais. “Sempre trazendo as melhores referências sobre a cidade e sobre seu povo acolhedor. Em segundo lugar, contei com a parceria do escritor e produtor cultural Max Wagner, que já havia me convidado para um evento, ao qual não pude comparecer devido à incompatibilidade de agendas, mas ficou o desejo de vir à cidade e contribuir com o cenário cultural na região, que vem apresentando uma série de eventos ligados à história militar, minha área de atuação”, finaliza.