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Brasileiros apostam em aplicativos de relacionamentos

Brasileiros apostam em aplicativos de relacionamentos (Reprodução)

Por Adalberto Luque 

Júlio é profissional liberal e, depois de um casamento de 22 anos, veio a separação. A essa altura, os amigos dos tempos de solteiro estavam todos casados e percebeu que estava complicado para sair e encontrar alguém.  

“Eu estava fora do mercado. Não conhecia barzinho de solteiro. Estive em alguns que conheci quando solteiro, mas as mesas são cheias de pessoas. Não é favorável para conhecer alguém e tentar um novo relacionamento”, revela.  

Apesar de ter perfil em aplicativos de relacionamento, Júlio não chegou a usar. No local onde presta serviço, havia uma funcionária nova no atendimento. “Achava que ela era comprometida ou estava em algum relacionamento. Quando me separei, descobri que ela não tinha ninguém. Estamos juntos há cinco meses.” 

Na contramão 

De acordo com uma pesquisa realizada pela YouGov, empresa especializada em comportamento, 60% dos brasileiros possuem perfis em aplicativos de relacionamento. Dentre eles, 92% demonstraram interesse em conhecer pessoas através de aplicativos, pela praticidade. 

Foi o que aconteceu com o advogado Marcelo. Há alguns anos ele se separou da esposa, encerrando um relacionamento de 19 anos. Se viu sem saber onde poderia conhecer outra pessoa para se relacionar. Resolveu aderir ao crescente número de usuários dos aplicativos de relacionamento.  

“Foi surpreendente. Conheci muitas pessoas interessantes. Tinha uma gerente de relacionamentos de uma multinacional. Conheci advogada, psicóloga, dentista. Até uma mulher que é oficial da Polícia Militar”, revela. 

Isso o ajudou a conhecer novas pessoas e manter amizades, mesmo quando dá “match” (gíria usada quando dois usuários pressionam um ícone – geralmente coração, mas depende do aplicativo). Se houve essa marcação mútua, já é possível iniciar uma conversa por chat. 

“Teve muitas pessoas que deu ‘match’, mas não fomos além. Porém nos tornamos amigos. Também é uma forma de fazer novas amizades”. Marcelo, todavia, usou o aplicativo e está em outro relacionamento há alguns anos. 

Saber o que quer 

“Tem diversos fatores que podem ajudar nessa procura do próximo relacionamento. O que você está buscando em uma pessoa é crucial para determinar seu próximo passo. Saber o que quer e especialmente o que não quer é essencial. Essa resposta vai levar você ao lugar certo, ou seja, se tratando de online, ao aplicativo correto.” afirma Caio Bittencourt, especialista em relacionamentos. 

Bittencourt ressalta as opções diversas encontradas online. “Hoje, além de aplicativos de namoro tradicionais, existem plataformas de relacionamento de nicho exatamente para homens e mulheres que sabem o que querem, como por exemplo o MeuPatrocínio, que oferece uma proposta diferente. A base dessa relação é o diálogo transparente entre o casal. Não existem tabus ou drama, sempre expectativas alinhadas”, diz o especialista. 

Uma pesquisa do MeuPatrocínio revelou que 76% dos usuários da plataforma disseram que decidem sobre seus relacionamentos com base nas conversas trocadas. Além disso, 45% desse grupo também consideram essas conversas importantes para criar uma conexão mais próxima. 

Algoritmos em ação 

Há diversos aplicativos de relacionamento, mas o mais famoso, sem dúvida, é o Tinder. A plataforma tem 11 anos de atividade e já tem mais de 300 milhões de usuários. Para que os encontros possam ocorrer, o aplicativo coloca os algoritmos em ação. São analisados características e gostos compatíveis entre todos os perfis inscritos para elencar candidatos que tenham maior afinidade. Cabe ao interessado dar “match” ou não aos candidatos sugeridos através dos algoritmos. 

O Tinder está disponível em planos gratuitos ou pagos. Mas há outros aplicativos que também estão caindo no gosto popular. “Já encontrei algumas pessoas que eram casadas e omitiam a informação no perfil. Então mudo de aplicativo”, diz a vendedora Suzana. 

Além do Tinder, as cinco plataformas que mais se destacam entre pessoas que buscam um relacionamento através das redes sociais são Badoo, Happn, Grindr, Bumble e Inner Circle.  

Cada qual com sua peculiaridade. O Badoo é considerado veterano, começou como rede social em 2006 e é possível paquerar através de chamada de vídeo. Já o Happn utiliza o GPS do smartphone para selecionar pessoas com afinidade e que estejam relativamente próximos ou que seus caminhos tenham se cruzado. 

O Grindr é voltado ao público LGBTQIA+. No Bumble, o usuário pode encontrar namoro, amizade ou mesmo um emprego. O Inner Circle é o mais semelhante ao Tinder e é possível convidar amigos para participar. 

Cômodo e prático 

Após decidir qual app mais se adequa ao que você procura, é bom focar nas conversas virtuais, onde já é possível identificar características que podem ser atrativas ou não. Nesse caso, é importante incentivar a pessoa a compartilhar mais sobre si mesma para avaliar se há interesse, como diz Amanda, que utiliza aplicativos de namoro desde os 18 anos. 

“Hoje tenho 25 anos e posso dizer que meus últimos três relacionamentos vieram de sites de namoro. É muito cômodo e prático conhecer alguém virtualmente, de cara consigo saber se eu realmente me interesso. Não preciso me arrumar para isso, não preciso gastar dinheiro, é só trocar mensagens, e aí sim eu decido se vou ao encontro ou não. E claro, no mínimo o meu par tem que pagar o jantar, cavalheirismo, né?” diz Amanda, usuária de uma plataforma de relacionamentos. 

“Caso a intimidade virtual seja positiva, em um encontro presencial o casal vai descobrir se existe química mesmo entre eles. E aí é só deixar o encontro fluir. Ouvir atentamente o que o outro tem a dizer é essencial, pois você gostaria que fizessem o mesmo por você”, conclui Caio Bittencourt. 

Nem tudo são flores 

O coronel aposentado e especialista em segurança pública, Marco Aurélio Gritti, defende cautela ao marcar encontros (Alfredo Risk)

Com o aumento na popularidade dos aplicativos de relacionamento, começaram também a surgir os crimes envolvendo os encontros. Os aplicativos são utilizados por criminosos, que publicam fotos e informações de perfis falsas, para atrair pessoas interessadas em encontro. Os chamados “Golpe do Amor”. 

Geralmente marcam em locais específicos. Quando a vítima chega, é rendida e mantida em cativeiro. Os criminosos usam, normalmente, transações via PIX para extorquir dinheiro das pessoas sequestradas. Depois as liberam. 

Em São Paulo, muitas quadrilhas agiam em bairros como Pirituba e Jaraguá. Várias prisões já foram feitas, mas os casos continuam ocorrendo. 

Como um empresário de Ribeirão Preto que foi a São Paulo para um suposto encontro e acabou sequestrado e com prejuízo de R$ 50 mil. Em Ribeirão Preto, os casos não são tão comuns, mas há registros. Num deles, um jovem de 21 anos veio de Minas Gerais para um encontro e se deu mal.  

No ponto de encontro havia dois homens que o levaram para um cativeiro. O rapaz só foi solto no dia seguinte, após transferir, via PIX, R$ 4 mil para uma conta usada pelos sequestradores. Depois ele foi deixado próximo ao aterro sanitário. 

Ele conseguiu descrever o local e a Polícia Civil foi até o local, prendendo dois envolvidos. A casa usada no cativeiro também era um minilaboratório de refino e fracionamento de drogas. 

O coronel aposentado e especialista em segurança pública, Marco Aurélio Gritti, defende cautela ao marcar encontros. “Prefira local e horários que dificultem a ação criminosa, devido à segurança ou monitoramento por câmeras, como shoppings ou restaurantes. Ao combinar o encontro, importante propor vídeo chamada no sentido de se conhecer a pessoa a ser encontrada”, avalia. 

Gritti observa que criminosos se adaptam a tudo para praticar golpes e crimes. “O Pix ainda carece de mecanismos de proteção ao usuário que dificultem o crime, como restringir os saques imediatos em transferências recém realizadas e maior fiscalização na abertura de contas.” 

Também defende uma discussão da atual legislação penal, propondo reanalisar benefícios que estimulem a reincidência, como “progressão de regime, saidinhas e visita íntima. Além disso, ampliar a responsabilidade das instituições bancárias contribuiria para minimizar os riscos”, observa. 

Mas para que tudo dê certo, o especialista em segurança destaca que é preciso manter as medidas de segurança sem relaxamento. “São pessoas desconhecidas e, não necessariamente se fala com a pessoa da foto publicada. Mas é preciso manter as medidas. Houve um caso em que a pessoa marcou o encontro num shopping, mas a mulher conseguiu fazer que ele saísse de lá e houve o sequestro. Tem que levar a sério, não entrar em terreno desconhecido”, conclui Gritti. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1,2 e 3 – Reprodução 

 

 

FOTO 01  

Praticidade: segundo pesquisa, 60% dos brasileiros têm perfis em plataforma de relacionamentos 

 

FOTO 02 

Várias plataformas se destacam entre pessoas que buscam um relacionamento através das redes sociais 

 

FOTO 03 

Quando um relacionamento termina depois de duas décadas, muitos se descobrem “fora do mercado” e recorrem aos apps para encontrar um novo relacionamento 

 

FOTO 04 

O coronel Gritti orienta a marcar encontros em locais e horários que dificultem a ação de criminosos, como shoppings e locais públicos com câmeras de monitoramento  

(Foto: Alfredo Risk) 

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