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Axé Germano Mathias

Na Quarta-Feira de Cinzas faleceu o último dos moicanos do samba sincopado, do batuque dos engraxates da Praça da Sé, da Praça Clóvis, aquele que batucava numa latinha de graxa da marca “Duas âncoras”, que encantava o público com seu gingado, com seu samba no pé, com sua destreza no jogo da Tiririca, a capoeira de São Paulo, o nosso querido Germano Mathias.

Madureira, Madusca, Branco Pixaim, O sambista diferente e o Catedrático do Samba foram alcunhas ou nomes que escolheram para homenagear o rei da síncope e da divisão magnífica e inesperada do samba, o rei do improviso, da “mise em scène” (da simulação ou inter­pretação convincente).

Germano era genial, regia a orquestra com perfeição, pois sabíamos a hora do seu breque, do que ele iria fazer, entretanto, nos surpreendia quando interpretava seus sambas de forma visceral, teatral e poética. Para cada música que cantava tinha uma história trágica ou muito engraçada que nos divertia e fazia o público delirar.

O Catedrático do Samba tinha poucas composições, pois preferia interpretar os grandes sambas que lhes eram ofertados por Zé Keti, Padeirinho, Elzo Augusto, Jorge Costa entre outros.

Seu primeiro grande samba composto e grande sucesso, o que o fez despontar no mundo artístico foi “Minha nega na janela”, no qual ganhou prêmio em dinheiro e uma gravação da música, que poste­riormente foi também gravada por Gilberto Gil no disco Antologia do Samba Choro.

Em 1958 lançou pela gravadora RGE um de seus maiores sucessos de composição e interpretação, “Guarde a sandália dela”, que mais tarde foi gravado pela dupla Elis Regina e Jair Rodrigues:

Guarde a sandália dela, que o samba sem ela não pode ficar,
Diga também pra ela que a escola sem ela não vai desfilar.
Guarde a sandália dela, que o samba sem ela não pode ficar,
Diga também pra ela que a escola sem ela não vai desfilar.
Diga que foi por ela, por causa dela que eu parei de sambar,
Diga que toda a favela, chamando por ela se pois a rezar.

Germano era autêntico e extrovertido. Em vários momentos ele tira o sarro dele mesmo, mas na verdade, o que me parece, é que ele está brin­cando com um personagem que não é real, mas que foi criado por ele.

Como exemplo da sua extroversão, ao receber um título honorífico do governador Alberto Goldman em 2010, o sambista se pronunciou da seguinte forma: agradeço muito esse título concedido por vossa excelência e vou lhe confessar que fiquei desconfiado, pois até hoje nenhum político fez nada por mim.
Posso lhe fazer uma pergunta? O senhor gosta mesmo de mim? O governador na sua seriedade respon­deu: claro que gosto Germano, afinal de contas eu estou te dando um título honorífico. O sambista deu uma pausa e respondeu: governador, o senhor me desculpe, mas eu não tenho culpa que o senhor tem mau gosto (gargalhadas).

Convocado para servir o exército em Quitaúna, teve que adiar momentaneamente o sonho de se tornar um sambista de desta­que. Entretanto, a sua carreira militar foi muito breve, pois a vida desregrada de boêmio era totalmente incompatível com o rigor e a disciplina do exército.

Ao ser indagado sobre o motivo de sua saída do exército, ele diz: quem fala a verdade não merece castigo, não é? Então eu vou te dizer a verdade. Eu fui expulso do exército, pois não conseguia acordar cedo. Ia às boates, rodas de samba e vira e mexe o pessoal da polícia do exér­cito me prendia. Era um verdadeiro esculacho.

Herdando de Caco Velho (Matheus Nunes), “O Sambista Infernal”, a bossa, os improvisos, o domínio do ritmo, o bailado dos pés e per­nadas e o canto com uma divisão rítmica extremamente complexa, o nosso Catedrático do Samba, mestre do samba sincopado fará sucesso no céu ao lado de seus trompas ou companheiros do samba. “Mais um malandro fechou o paletó, eu tive dó, eu tive dó, quatro velas acesas, em cima de uma mesa, uma subscrição para ser enterrado. Morreu Malvadeza Durão, valente, mas muito considerado”. Saravá Germanão e muito axé e paz aí no céu.

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