Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
Dados compilados pela Prefeitura de Ribeirão Preto compõem panorama positivo de contratação de pessoas acima de 60 anos para o mercado de trabalho. Entre 2017 e 2021, enquanto o total de empregos formais na cidade passou de 222.877 para 233.280 (aumento real de 4,7% para candidatos abaixo de 59 anos), a soma de carteiras assinadas para a terceira idade subiu de 9.726 para 11.367, um crescimento de 17%.
O levantamento foi feito pelo administrador regional oeste (cargo chamado pela população de sub-prefeito regional), Ismael Colosi, que exerceu por muito tempo a função de chefe do Trabalho, Emprego e Renda da administração municipal.
As informações são da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego. A média nacional é de 20% de contratações acima de 60 anos no mesmo período. “Ribeirão Preto cresceu menos do que o estado de São Paulo e o Brasil, porém, quando comparada com cidades do mesmo porte como Osasco e São José dos Campos, nosso município apresenta crescimento maior”, relata Colosi.
As funções que mais contrataram candidatos da terceira idade foram auxiliar (limpeza, escritório, enfermagem, ajudante geral), porteiro, professor, cozinheiro, vendedor, motorista e zelador. “Os mais idosos, na busca por nova recolocação, mudam e se disponibilizam a aprender novas funções e profissões, mesmo que, com menor prestígio e com salários menores”, analisa.
Complementar renda é a meta
Colosi detalha que a busca desse perfil de candidatos visa complementar a renda que conquistaram ao longo da vida (aposentadoria) e necessidade de ocupação para quem se sente com capacidade e energia para contribuir com a sociedade por meio do trabalho.
A procura maior é dos homens que buscam recolocação ou reinício de vida profissional tentando outras funções e cargos. “Em 2021, os homens 60+ representavam 3% dos 53,46% (porcentagem dos homens no mercado de trabalho com registro em carteira) e as mulheres 1,88% dos 46,54% (porcentagem dos homens no mercado de trabalho com registro em carteira)”, apresenta.
Ele aponta vantagens que os empresários relatam ao abrir vagas para a terceira idade. “São pessoas com maior senso de pertencimento, utilidade e participação. Isso impacta na vida social, na saúde física e mental dessas pessoas, com menos doenças e se tornando mais autônomas”, comenta.
A regra do momento é inclusão, diversidade e aproveitar a experiência de vida. “É muito bom poder contar com um colaborador com maior conhecimento, mais preparado para lidar com situações embaraçosas, mais tempo disponível, mais comprometimento, entre outros motivos”, frisa.
Para os trabalhadores as principais vantagens são: o objetivo alcançado de recolocação no mercado de trabalho, aumentando a renda; ocupação do tempo ocioso após a aposentadoria; exercer e aplicar todo o conhecimento e aprimoramento adquirido ao longo dos anos e da experiência no mercado de trabalho; ressignificar a trajetória profissional e/ou pessoal.
Exemplos de quem está na busca
Formada em serviço social, Letícia Leal de Barros, de 61 anos foi a um dos mutirões de emprego da prefeitura à procura de nova colocação, mesmo que não fosse para a sua profissão de diploma. Ela conta que precisa complementar a renda e relata dificuldade apesar dos números otimistas.
“Trabalhei 15 anos na Fundação CASA, mas parece que isso nem sempre faz diferença, vejo o olhar e até comentário de alguns empresários como se não fosse dar conta, por exemplo, de ser auxiliar de limpeza”, lamenta Letícia que mora na Vila Tibério e tem disponibilidade imediata.
Loreno da Silveira é outro candidato que falou com nossa reportagem. Com 67 anos e ensino médio completo, ele também quer voltar à ativa para ter mais dinheiro e se manter ocupado. “As pessoas não entendem a experiência que temos. É muito preconceito com quem passou dos 60, parece que a pessoa não tem mais utilidade. Mas temos muita experiência e capacidade, responsabilidade mais rara na juventude de hoje”, lamenta sem perder a esperança.
Pandemia e perspectivas.
Como os idosos foram as vítimas mais numerosas da pandemia da covid-19, para muitos conseguir uma vaga não foi fácil nos piores anos da doença, com isolamento social e falta de vacina. Outro aspecto é o receio de que esse público tenha dificuldades de lidar com a tecnologia.
Mas, para cada vez mais gestores de recursos humanos, conta muito maior disponibilidade sem tantas questões familiares em jogo e maior comprometimento. O que também deve ajudar é um projeto que tramita no Senado que dará benefícios aos empregadores que contratarem colaboradores com idade igual ou superior a 60 anos.
Quando for aprovado em definitivo o projeto permitirá ao empregador deduzir dos 20% de contribuição patronal sobre a folha de pagamento (lei 8.212, de 1991) o valor de um salário mínimo para cada semestre de contrato de trabalho que estiver vigente relativo ao empregado contratado com idade igual ou superior a 60 anos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui mais de 28 milhões de pessoas idosas, 13% da população do país, que deve dobrar nas próximas décadas, conforme levantamento de projeção da população divulgado pelo IBGE em 2018. A expectativa de vida dos brasileiros naquele ano era de 76,3 anos — 72,8 para homens e 79,9 para mulheres.
Com base nas estimativas do IBGE, a tendência é ter mais pessoas maduras e menos pessoas jovens disponíveis para o mercado de trabalho nos próximos anos. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2040, o Brasil terá 56% da força de trabalho composta por pessoas com mais de 45 anos.
Aposentadoria é insuficiente para 70% dos idosos
Sete em cada dez idosos brasileiros não consideram que o dinheiro de uma aposentadoria é suficiente para viver, segundo pesquisa feita pelo Serasa. O levantamento também aponta que 58% dos idosos não conseguiram se planejar financeiramente para a melhor idade. E um terço daqueles acima de 60 anos está consumindo reservas financeiras que acumulou ao longo da vida.
Segundo esse estudo, gastos com saúde estão entre os mais relevantes para 49% dos idosos ouvidos, atrás apenas dos gastos com alimentação, considerados os mais relevantes por 69%. O levantamento pediu que 1.649 idosos respondessem um questionário virtual de 40 perguntas, entre 22 e 26 de setembro. A confiança é de 95% e a margem de erro é de 2,4 pontos percentuais.