Vanderson Bullamah voltará ao banco dos réus nesta quarta-feira, 21 de novembro. O ex-ginecologista que se aventurou no mundo da cirurgia plástica vai a júri popular pela morte da auxiliar de limpeza do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), Maria Inês Coelho Guerino, em 12 de setembro de 1996. Ela tinha 39 anos à época e submeteu-se a uma lipoescultura – “escultura do corpo por meio de lipoaspiração”, como dizia o material publicitário distribuído pelo ex-médico em cruzamentos de Ribeirão Preto. A faxineira deixou quatro filhos.
O julgamento no Fórum Estadual de Justiça deve começar às 9h30 e pode se estender até por dois dias. Em 2016, o ex-ginecologista teve seu registro profissional de médico cassado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM); em 2004, foi preso para cumprir dez anos pela morte de outra paciente, a estudante universitária Hellen Buratti, aos 18 anos, em 5 de julho de 2002. A pena, anunciada em 11 de dezembro de 2009, inicialmente era de 18 anos e foi reduzida para dez anos após a defesa recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Depois de conseguir redução de sete meses e 24 dias da pena por trabalhar e estudar dentro da cadeia, em setembro deste ano ele obteve da Justiça o direito a cumprir os seis anos e dez meses remanescentes em prisão domiciliar. Em julgamento de habeas corpus na semana passada, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão da Corte de São Paulo que condenou o ex- ginecologista pela morte da paciente.
Helen Buratti, sobrinha de Rogério Tadeu Buratti, ex-secretário de Governo de Antonio Palocci na primeira gestão petista à frente da prefeitura (1993-1996), passou por cirurgia de lipoaspiração abdominal e acabou falecendo por complicações decorrentes do procedimento, quadro parecido ao de outras duas mulheres que morreram nestas condições. Em 2002, Bullamah ficou 15 dias preso no anexo do 1º Distrito de Polícia, na rua Duque de Caxias, mas saiu graças a um habeas corpus.
No STJ, a defesa pediu a anulação do acórdão ou, alternativamente, a redução da pena sob o argumento de ausência de fundamentação idônea para fixação da pena-base acima do mínimo legal de quatro anos. O relator, ministro Ribeiro Dantas, não reconheceu nenhuma irregularidade na decisão paulista a ser sanada pelo STJ. Segundo ele, na ação de habeas corpus, a revisão da pena imposta pelas instâncias ordinárias somente é admitida em situações excepcionais, quando constatado abuso ou ilegalidade, o que, para ele, não foi verificado no caso.
Bullamah também chegou a responder pela morte da bancária aposentada Vera Lúcia Carnaval Caressato, então com 49 anos. Ela morreu em 1º de fevereiro de 1996, mas o caso foi arquivado. A ex-funcionária da extinta Nossa Caixa (estadual) morava em Serrana. Ainda tramitam contra o ex-ginecologista outros dois processos de pacientes que o acusam de ter cometido erros médicos nas cirurgias plásticas e ficaram parcialmente mutiladas. Em todos os casos ele foi acusado de imperícia, imprudência e negligência médica porque em sua clínica – interditada após a morte de Helen Buratti – não tinha centro cirúrgico e UTI.
Por causa das denúncias feitas pelo Tribuna desde a primeira morte, de Vera Lúcia, em fevereiro de 1996, o ex-médico processou o jornal, mas o caso foi arquivado pela Justiça Criminal de Ribeirão Preto. Bullamah recorreu, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou o arquivamento. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica condenou a prática do ginecologista desde a morte da bancária aposentada. Segundo a SBCP, a cirurgia plástica é uma das especialidades que exigem mais tempo de residência médica.
A filha da vítima, Daiana Cristina Guerino, disse à EPTV Ribeirão que ainda espera por uma resposta. “Eu tinha 10 anos e era só uma criança quando tudo isso aconteceu. Fico muito triste com a Justiça, que até hoje não fez nada”. A esperança da família de Maria Inês Coelho Guerino, agora, é que Bullamah seja preso. “Espero que pague por todos os erros dele, porque não foi só a minha mãe que ele matou. Foram várias moças, além das que ele deixou deformada”, disse Daiana Guerino à emissora de televisão. A defesa de Bullamah não foi encontrada.