Nestes tempos de isolamento, sinto falta das reuniões da C.A.V.E. – Confraria dos Amigos do Vinho e da Enologia, que aconteciam a cada 15 dias, às terças feiras em nossa cidade. A ideia das confrarias perde-se no longínquo século VXIII e eram formadas por vinhateiros e comerciantes de vinhos, que se reuniam para degustar, promover e divulgar seus produtos, bem como a culinária da região onde se localizavam.
A mais renomada confraria em atuação é recente. Fundada em 1934, na Borgonha, a Confrérie des Chavaliers Du Tastevin reúne seus associados em vários capítulos. Seus membros vestem uma indumentária medieval e se reúnem no Chateau de Clos de Vougeot, castelo erigido no século XII numa plantação de uvas pertencente aos Monges de Cister. Aliás, a produção dos excelentes vinhos da Borgonha, seus tintos de PinotNoir e seus brancos de Chardonnay, deve-se ao trabalho destes monges na Idade Média.
Pertencer a um dos capítulos desta confraria é honra disputada. Tive várias oportunidades de visitar o castelo, muito bem conservado, que mostra alguns equipamentos medievais de produção do vinho. Comprado por uma sociedade civil francesa de defesa do patrimônio histórico e cedido por 99 anos à Confrérie des Chevaliers Du Tastevin, o castelo é usado hoje como monumento turístico e sede das reuniões dos capítulos. Numa ocasião, visitei-o no período da tarde e estava todo decorado com milhares de tulipas amarelas para o jantar do capítulo que tem aquela flor como denominação. Confesso que tentei, sem sucesso, ser convidado para a reunião. Seu lema é “Toujour envin, jamais envain”, sempre com o vinho, nunca em vão, numa tradução livre.
Nossa confraria nasceu em 2001, da iniciativa pioneira de André Maculan, que trouxe à nossa cidade a sua primeira loja de vinhos. Anteriormente, só era possível comprá-los em caixas de doze garrafas, fornecidas por importadores de São Paulo. A venda de vários vinhos em quantidade pequena ajudou a divulgar o produto em nossa cidade. Na sua loja, Maculan montou uma sala de aulas e degustação, realizando os primeiros cursos de vinhos, para amantese iniciantes da bebida. Éramos quase trinta pessoas que se reuniam para ouvir as lições do Maculan e do Prof. Luiz Antônio Bailão, grande expert do assunto. Com o tempo, os participantes foram tomando outras direções e acabamos nos concentrando nos treze membros atuais de nossa confraria.
Temos um ritual nas reuniões, que começa com uma taça de espumante (tradição francesa ) e degustação de cinco vinhos, quase sempre um branco e quatro tintos. O universo do vinho é inesgotável, pois, ao contrário das outras bebidas, o vinho é sempre único, não tem receita e mesmo vinhos do mesmo produtor e região são diferentes dependendo do tempo, das chuvas, do frio, dos dias quentes e dos micro-organismos que estão na terra no ano da produção. Assim, sabemos que nunca conseguiremos provar todos os tipos do produto. Segue-se um jantar, bancado cada vez por um de nós.
O vinho é um bem cultural da humanidade, existente desde o começo da civilização e tomado com moderação, ótimo remédio para o combate do stress e de várias doenças. Estou torcendo para voltarmos às nossas reuniões, pois tomar vinho sozinho é muito ruim. Bom é partilhá-lo com amigos queridos.