De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 32 pessoas se suicidam por dia no Brasil, ou uma a cada 45 minutos, o que faz do país o oitavo com mais casos do planeta. Mas o problema é bem maior por conta do silêncio da sociedade em torno do tema. Se em alguns dos países com maior incidência de suicídio a taxa está estável, aqui só tem aumentado.
Desde 2014 no Brasil, a campanha Setembro Amarelo busca promover eventos que abram espaço para debates e divulgaçãodo tema alertando a população sobre a importância de sua discussão.No Brasil, a campanha é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O que leva ao suicídio – Os desafios, cobranças e tensões da vida moderna são considerados os principais vilões para as consideradas “doenças do século”’, como depressão e transtornos de ansiedade, que podem levar ao suicídio. Segundo a psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental, Carolina Orlandi Kumagai, são transtornos diferentes e causados por diversos fatores, desde predisposição genética a vivências do dia a dia.
“Evitar só é possível estando atento ao seu corpo, aos sinais que ele vai te dando. Como estão os seus problemas, se tem conseguido resolvê-los ou não, como está o seu humor. E aqui é difícil porque muitas pessoas são orientadas a vida inteira a ignorar seus sentimentos”, explica. Kumagai diz ainda que é importante ficar atento ao modo como a pessoa se comporta. “Se tem ficado mais isolado, reduziu atividades, nada mais dá prazer, se viciou em medicação para ficar bem”, são sintomas segunda ela.
Tabu – No Brasil, os idosos apresentam as maiores taxas de suicídio, com oito mortes para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Mapa da Violência. A causa mais comum, com aproximadamente 70% dos suicídios nessa fase, é a depressão, muitas vezes não diagnosticada ou tratada inadequadamente. Psicoses e abuso de drogas, principalmente o álcool, também estão entre os motivos mais frequentes. Porém, entre os jovens as taxas apresentaram um maior crescimento de 2002 a 2012. Falar sobre o tema tem sido um tabu a ser quebrado segundo os especialistas.
De acordo com Kumagai, as pessoas demoram para ler os sinais, ou porque não quere assumir que há algo errado ou porque não conhecem os sinais. “O assunto é pouco comentado e esclarecido nas escolas, em casa, etc”, ressalta. “Existe a crença de que se falar acerca do suicidio, você estará dando ideia, fomentando e instigando as pessoas a fazerem. Entretanto, os números estão aí para provar que não falar sobre o assunto não resolve o problema”, completa.
O médico psiquiatra Christian Diniz do Nascimento também defende que os temas sejam falados abertamente. Segundo ele o tema é tabu porque faz pouco tempo que as pessoas aceitam as doenças mentais como doenças. “Muita gente ainda confunde com preguiça, falta de caráter, fraqueza. Isso envergonha e cala o doente. Felizmente está mudando. É importante que personalidades públicas se exponham como fizeram os padres Marcelo e Fábio Melo. Encoraja a busca de ajuda”, analisa.
Jovens – Diniz alerta para uma grave associação os casos de depressão e o uso de drogas e influências negativas. “É um grande perigo o uso de drogas, isso está claro. Agora entre os mais novos podemos destacar principalmente o fato deles serem influenciáveis, como nos casos de bulyng e ou como tivemos com a baleia azul”, complementa.
Kumagai diz que há muita polêmica e discórdia quando o assunto relacionado aos jovens é discutido entre os profissionais da área. “A minha opinião é que o tema deve ser sim abordado de maneira transparente, instruindo, mostrando os sinais, os caminhos alternativos q existem além de por fim a vida. A grande questão é como fazer isso de maneira que cative a atenção dos jovens, e chegue num resultado positivo. Esse é um grande desafio a ser encarado é necessário, pois esses transtornos são reais e matam”, finaliza.