Edwaldo Arantes *
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Como é complexa, difícil e inexplicável a definição deste sentimento que quase sempre sabemos o motivo ao senti-lo e outras vezes, desconhecemos totalmente as razões de sua invasão.
Um conjunto de emoções que nos alegram e confortam, fazendo com que possamos sentir algo de missão cumprida, possuir este privilégio e orgulho que as nossas lembranças nos trazem, um tempo, uma árvore, uma pessoa, um momento, algo que nos trouxe felicidade e realização e guardamos na memória, escondido em algum cantinho do coração.
Também nos assalta, surgindo do nada, fazendo-nos reviver com uma ponta de angústia e melancolia o que foi, não é, e nunca mais será.
Com estas nuvens pairando sobre os pensamentos, uma frustração ataca de forma lancinante em mil dardos, penetrando nossa paz e comprometendo todo o nosso entendimento.
Chegamos a passar horas, dias, noites e madrugadas em profunda nostalgia, desalento e tédio, quase um pesar.
Outras vezes, este mesmo vivenciar surge carregado de euforia, animação, contentamento, uma exaltação que excita quase próxima ao júbilo.
Acredito que somos a cada segundo uma réplica do que fomos e vivemos, estamos marcados para sempre com o passado, suas vitórias e derrotas, jamais conseguiremos apagá-lo.
Interessante que às vezes chegamos a sentir o odor do momento vivido, um pão quentinho, uma roupa, um perfume, os lençóis e os travesseiros marcados, o cheiro de um amor ungido em um corpo de mulher, com seu olhar de esmeralda, atingindo-nos de uma forma fulminante, como a precisão do melhor arqueiro ao disparar sua flecha.
Escondo-me na infância, quem nunca teve uma desavença, por menor que possa ter sido em um instante não pensado, ouvir da mãe; “vais ver o dia em que eu morrer”.
Esta expressão carregada de um desabafo fazia-nos quase entrar em desespero, com o arrependimento brotando pungente, expondo o corpo ao silêncio e à dor.
Todos os escritores, poetas, filósofos, pensadores, cunharam suas definições de diversas formas e conclusões, tentando explicar um experimento que navega entre a felicidade e a tristeza, que traduz tantas sensações e vive na corda bamba, equilibrando-se entre a dor e o contentamento.
Conviver eternamente com um misto de emoção, afeto, carinho, envolvimento e ternura, contrapondo-se à mágoa, desgosto, amargura, angústia e aflição.
Apenas para que possamos estar sempre atentos às marcas de tudo que vivemos, jamais conseguiremos fugir ou ignorar o passado em nossas meras existências.
Ele nos moldou, molda agora no presente e moldará rumo ao futuro, experiências existem para o aprendizado, nossas cicatrizes são as provas incontestáveis que existimos.
A definição, aprendemos sem necessidade de teses, enunciados, argumentos e temáticas, um conjunto de sentimentos difusos, que formam uma palavra, elaborada sobre sete letras, que a tudo define.
Engraçado e marcante que o próprio “caipira” e, também, o “matuto”, traçaram seus entendimentos e as conclusões dentro dos seus saberes adquiridos, praticando a milenar ciência sábia dos conhecimentos populares.
“Saudade é vontade de ver de novo”.
“Saudade é como o rato no queijo, rói, rói e dói, dói”.
Esta dor pode representar perda, distância, falta e necessidade.
A saudade é a definição exata do que de mais nobre, ilustra o ser humano, podemos agradecer, bem como, sofrer pela sua existência.
Estamos impregnados dos nossos destinos, atados ao passado, vivendo o presente, vislumbrando o incerto e desconhecido futuro.
“Podemos compreender a saudade de algo como a presença incessante da ausência”.
“O vazio, que é diferente do nada, e insiste em ativar o pensamento ou a levar a estados emocionais profundos”.
Estamos condenados ao tormento ou à satisfação que a saudade nos traz, é nossa opção de entender e sobreviver.
* Agente cultural