Tribuna Ribeirão
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Simplesmente, alguém 

Edwaldo Arantes * 
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Ela foi uma das mais belas de uma cidadezinha qualquer do interior, desde criança, como uma flor desabrochando, revelava formosura, graça e encanto que a acompanhariam pela vida toda. 
 
No começo da adolescência era a obra de arte mais vista e desejada, levando aos suspiros, os garotos durante a Missa. 
 
Um tempo em que apenas observar, trazia sonho e satisfação, um deleite para os olhos vê-la com as amigas, sentada graciosa nos bancos da praça, sorrindo e brilhando, espalhando as faíscas das suas duas esmeraldas, tingindo e enfeitiçando com seu verde tudo ao redor. 
 
Pertencia a uma família tradicional, desde cedo na mais tenra idade já demonstrava espontaneidade, independência e segurança. 
 
Conseguia dentro das rígidas normas estabelecidas, abolir as tradições, convivendo com todos, independente da cor, credo ou posição social.  
 
Nas quermesses fartas da província, era campeã no recebimento dos bilhetinhos apaixonados, escondidos sob a seda azul que envolvia o mel e o caramelo das maçãs do amor. 
 
Nos carnavais brilhava nas ruas, sempre escolhida Rainha pelos seus encantos, nos salões, a cada volta, prendia a atenção da audiência, admirados e perplexos diante de tamanho encanto. 
 
Certas cerimônias criadas pelos costumes da localidade, como os bailes das debutantes, onde as donzelas eram apresentadas à sociedade ao completarem quinze anos.  
 
A palavra debutante vem do francês “débutante”, significando iniciante ou estreante, a idade é marcada por uma nova fase para as jovens moças. 
 
Sua perfeição e altivez comoviam, maravilhados com seu charme e presença, ao dançar sua primeira valsa.   
 O vestido branco flutuando sobre o salão, iluminando e deslumbrando o ambiente. 
 
Naquelas épocas as escolas dividiam-se entre masculino e feminino, ou seja, os rapazes seguiam para o “Científico”, onde disputavam as carreiras ligadas às ciências exatas e biológicas, com preferência pelas engenharias e medicina. 
 
As moças, para as chamadas escolas religiosas, Carmelitas, da “Ordem do Carmo”, Ursulinas, “A Ordem de Santa Úrsula” e as Dorotéias, “Congregação de Santa Dorotéia”, fundada em 1934 por Santa Paula Frassinetti, onde as moças cursavam o magistério. 
 
Era dominante a preocupação com a educação feminina, a necessidade e a demanda por professoras para as escolas públicas. 
 
Vestiam-se de uma forma charmosa e encantadora, saias azuis plissadas, blusas brancas, meias 3/4 e sapatos pretos brilhando. 
 
Os uniformes eram dotados de deslumbre e glamour, despertando a tentação dos rapazes, roupas que escondiam suas formas que já avizinhavam corpos deslumbrantes e sinuosos, ocultos sob as vestes, principalmente os vestidos, até aos joelhos. 
 
A deusa e musa era sempre quem seguia à frente da fanfarra, no desfile cívico-militar, portando o estandarte que representa sua escola. 
 
Na saída das aulas era costume ficarem sentadas no muro da instituição, exercendo seus dotes juvenis despertando paixões, dilacerando corações dos garotos, tímidos buscando o primeiro amor. 
 
Sem querer fui me lembrar de uma rua e seus ramalhetes, do amor anotado em bilhetes, daquelas tardes. No muro do Sacré-Coeur, de uniforme e olhar de rapina”…Luis Otávio de Melo Carvalho, Tavito e Ney Antonio D’Azambuja Ramos”, in Rua Ramalhete). 
 
O tempo passa como um piscar de olhos, nunca mais a vi, com o advento de procurar e bisbilhotar a vida alheia, chamado, “Facebook”, uma foto surgiu na tela, sua boca, seu sorriso, os olhos verdes continuam a esbanjar beleza, agora, ainda mais formosa, na maturidade. 
 
Quando cai o entardecer ao lado do fiel companheiro, escudeiro e parceiro dileto, tinto seco português, pensamentos afloram carregados de nostalgias, recordações, lembranças e reminiscências. 
 
A memória revolve todo um passado inundando a mente de momentos que deixaram marcas, frustrações e desejos. 
 
A existência possui a capacidade de fazer da vida o que bem quer, sem me mesmo perguntar, se pode ou para onde. 
 
O vinho se mistura a muitos sabores colhidos pelo tempo. 
 
Entorpecido, fecho os olhos, a vejo claramente, linda. 
 
Quantas saudades! 
 
* Agente cultural 

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