A terceira cirurgia para separação das irmãs siamesas craniópagas, Allana e Mariah, de pouco mais de dois anos de idade, será realizada neste sábado, 11 de março, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Elas são de Piquerobi, na região de Presidente Prudente, no interior paulista, e nasceram unidas pela cabeça.
A nova etapa deve continuar o trabalho de separação da circulação sanguínea do cérebro das irmãs. O planejamento da cirurgia indica que o procedimento deve ocorrer em cerca de nove horas e avançar mais 25% da separação dos cérebros, conquistando assim, 75% de individualização das artérias e vasos sanguíneos.
Até a separação total, estão previstos um procedimento cirúrgico para a colocação dos expansores de pele, que deve ocorrer em abril, e a última cirurgia, prevista para o final de julho. A cirurgia usufrui de avanço tecnológico em nível mundial.
Além das tecnologias utilizadas nas últimas cirurgias, como o uso da realidade virtual e de modelos tridimensionais produzidos a partir de exames complexos, desta vez serão utilizadas a neuronavegação e a realidade mista, como explica o professor doutor Hélio Rubens Machado, chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica e líder da equipe.
“A expectativa para a cirurgia é que tudo corra bem e que a equipe consiga realizar o que planejamos. O planejamento – como sempre – começou com bastante antecedência, desde a ressonância magnética feita 30 dias após a segunda cirurgia. A intenção é nunca ter surpresas e programar detalhadamente a cirurgia”, diz.
As equipes do HC Criança e HCFMRP-USP contam com cerca de 40 profissionais de diversas áreas como Neurocirurgia Pediátrica, Cirurgia Plástica, Pediatria, Radiologia, Enfermagem e de apoio. A segunda cirurgia, em 19 de novembro, durou nove horas .
Segundo o cirurgião plástico Jayme Farina Júnior, que também participou da separação das gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, em 2018, a equipe médica estuda a utilização de células-tronco para reconstrução dos crânios de Allana e Mariah.
O procedimento, segundo o cirurgião plástico, aconteceria após a quarta e última neurocirurgia para separação das crianças, prevista para meados de 2023. Hélio Rubens Machado revelou que, na segunda etapa, foi atingida a metade da separação dos crânios. Ou seja, 50% dos procedimentos, um sucesso.
Assim como no primeiro procedimento, os médicos também seccionaram as veias do cérebro que une as duas meninas. Além da cirurgia deste sábado, está prevista mais uma neurocirurgia até a separação das gêmeas, em junho, além de uma quinta para reconstrução dos crânios.
Cearenses
Entre fevereiro e outubro de 2018, as gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, à época com 2 anos, passaram por cinco cirurgias até a separação. Elas voltaram para Patacas, distrito de Aquiraz, distante 35 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, onde nasceram, no final de março de 2019, acompanhadas pelos pais, Diego Freitas Farias e Débora Freitas.
O processo de separação das duas, em 2018, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, era inédito no Brasil até então. Agora, são acompanhadas em Fortaleza pelo neurologista Eduardo Jucá, médico responsável pela transferência das meninas para o HC de Ribeirão Preto, em 2017.
Elas receberam alta médica do HC Criança em 7 de dezembro de 2018. Todo o processo de separação das meninas foi custeado pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, uma cirurgia de separação como a delas custa cerca de R$ 9 milhões.