A cirurgia de separação das siamesas craniópagas Allana e Mariah, hoje com três anos e oito meses, aconteceu há um ano, em 20 de agosto de 2023, e a data é motivo de comemoração entre os profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) e do HC Criança, da família e de todos os que acompanharam o caso.
Nesta sexta-feira (23), Allana e Mariah vieram de Piquerobi (SP) para Ribeirão Preto acompanhadas dos pais, Vinícius e Talita Cestari, para consultas e exames de rotina. As meninas roubaram a cena no HC Criança. As irmãs estão bem e são muito brincalhonas e sapecas, principalmente Allana. Na manhã de ontem ela pegou uma enfermeira ela mão e foi perambular pelo hospital.
As gêmeas estão felizes e gostam de frequentar a reabilitação. Já os pais só querem curtir as filhas depois das todas as cirurgias e o período de recuperação. Passeiam com as meninas sempre que podem. Talita Cestari diz que está muito feliz e “é muito grata ao HC e aos médicos, enfermeiros, à equipe multidisciplinar. Acabamos formando uma família.”
“Após um ano da separação, pode ver as meninas com desenvolvimento tão surpreendente, caminhando, falando, com alterações neurológicas tão pequenas, é muito satisfatório para a equipe toda, uma enorme recompensa por todo o trabalho que foi desenvolvido”, diz a médica pediatra Joana Faria, do HC Criança.
“Ainda há alguns desafios pela frente, as meninas precisam seguir com a terapia de reabilitação, afinal ficaram bastante tempo unidas pela cabeça e isso fez com que o desenvolvimento neuropsicomotor delas tivesse uma certa demora em relação às crianças da mesma idade. Hoje elas têm uma qualidade de vida muito superior”, emenda.
Em 2023, a quarta e última neurocirurgia teve início às sete horas do dia 19 de agosto e durou cerca de 27 horas. Na manhã do dia 20, as meninas foram separadas e levadas para a unidade de cuidados intensivos. Nesse período, a família voltou para Piquerobi, a cidade de origem no interior de São Paulo. As meninas frequentam três vezes por semana a reabilitação e são muito ativas – adoram brincar, falar, cantar, passear e comer.
Ao longo de doze meses, foram realizadas quatro neurocirurgias meticulosas que culminaram na completa separação das cabeças de Allana e Mariah, além de um procedimento cirúrgico em que foram inseridas bolsas de silicone abaixo do couro cabeludo e coleta de células-tronco das irmãs.
A primeira – A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos. No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018, após cinco procedimentos cirúrgicos, pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e HC Criança.
Nos Estados Unidos, uma cirurgia de separação como a delas custa cerca de R$ 9 milhões. O caso foi acompanhado pelo médico norte-americano James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por covid-19 em 2020.
Em 22 de novembro dom ano passado, uma cerimônia uniu a direção do HC, médicos, enfermeiros e diversos profissionais das equipes multidisciplinares que acompanharam os dois casos de separação de gêmeas unidas pela cabeça.
Participaram profissionais que atuaram nas cirurgias, das internações e da reabilitação. Também estiveram presentes médicos e pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e do Hemocentro. As famílias foram o grande destaque da festa.
Allana e Mariah estavam acompanhadas de seus pais, Talita e Vinicius Cestari, e Maria Ysadora e Maria Ysabelle vieram do Ceará com seus pais, Débora e Diego Freitas. As meninas entregaram os buquês em homenagem aos chefes das equipes. As mães também receberam um buquê em agradecimento à confiança e parceria.