A Justiça de Ribeirão Preto acatou a denúncia feita pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual (MPE) responsável pelas investigações da Operação Sevandija, contra quatro pessoas por lavagem de dinheiro. Entre os réus está o advogado Sandro Rovani – preso em Tremembé desde março do ano passado acusado de receber propina da também advogada Maria Zuely Alves Librandi. Os dois foram condenados a 14 anos e oito meses de reclusão, além de 66 dias-multa, na ação dos honorários advocatícios.
Também viraram réus na primeira ação de lavagem de dinheiro da Sevandija o advogado Marcelo Gir Gomes, Ana Cláudia Silveira Neto (filha de Rovani) e o empresário Paulo Roberto Nogueira. O novo processo foi ajuizado na 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, que tem como titular o juiz Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira, onde tramitam outras três ações penais da Operação Sevandija, força-tarefa do Gaeco com a Polícia Federal. Para os promotores Leonardo Romanelli, Walter Manoel Alcausa Lopes e Frederico de Camargo, o advogado Gir Gomes, Ana Cláudia e Nogueira teriam lavado dinheiro para Rovani.
Ele é investigado em outras duas frentes da Sevandija – que envolvem honorários advocatícios e a Companhia de Desenvolvimento Econômico (Coderp). Há ainda outra ação que investiga fraudes no Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp). O MPE estima que o valor total desviado dos cofres públicos supere R$ 245 milhões. Rovani é acusado de operar pagamentos ilícitos a agentes públicos da cidade, entre eles a ex-prefeita Dárcy Vera – condenada a 18 anos, nove meses e dez dias de prisão –, por meio de um recolhimento indevido de honorários à advogada Maria Zuely.
O advogado Julio Mossim, que defende Rovani e a filha dele, Ana Cláudia, diz que seus clientes jamais praticaram lavagem de dinheiro, são inocentes e que isso será provado durante o processo. A defesa de Gir Gomes também afirma que ele é inocente e vai provar isso à Justiça – foi preso no final de maio suspeito de “lavar” R$ 1 milhão para Rovani e já está em prisão domiciliar. Seria o “laranja” do suposto esquema montado para desviar dinheiro da ação penal dos honorários advocatícios, segundo o Gaeco. A defesa de Paulo Roberto diz que seu cliente é inocente, foi usado por Sandro Rovani sem saber que estava envolvido em ato ilícito e que isso será provado nas investigações.
Rovani e Dárcy Vera sempre negaram o envolvimento em crimes de corrupção. Deflagrada em 2016, a Operação Sevandija tem hoje três processos penais aceitos pela Justiça. Na nova denúncia, o MPE aponta que os envolvidos teriam articulado um esquema para que valores fossem repassados pela advogada Maria Zuely Librandi a Rovani sem o conhecimento das autoridades.
As investigações apontam que mesmo após a deflagração da Operação Sevandjia, Gir Gomes e Rovani teriam continuado a operar dinheiro da suposta propina paga a agentes públicos em Ribeirão Preto. Segundo o delegado chefe da Polícia Federal, Edson Geraldo de Souza, os documentos apreendidos durante a operação reforçam as suspeitas levantadas.
Batizada de Houdini, uma alusão ao nome do ilusionista Harry Houdini, a operação apontou que, em uma demonstração de “ousadia”, os suspeitos usaram estratégias para tentar despistar cheques usados para pagamento de propina, que teriam sido emitidos pelo escritório da advogada Maria Zuely Librandi, ré no processo sobre fraudes em honorários advocatícios pagos pela prefeitura. O esquema causou um prejuízo de R$ 45 milhões aos cofres públicos. Os bens dos acusados foram bloqueados. Todos os citados negam a prática de crimes.