Levantamento realizado pela FEHOESP – Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo, em seu Boletim Econômico 4, mostra que o setor saúde cresceu em número de estabelecimentos de saúde, leitos e empregos, no período de janeiro a setembro de 2018, em comparação a dezembro de 2017, apesar da crise. E, mesmo com os baixos investimentos públicos (3,8% PIB), o setor privado vem financiando a área de saúde. Nesse período, o número de estabelecimentos de saúde no Brasil cresceu 4,5% com a abertura de 14.170 novos serviços de saúde, destacando-se a abertura de 6.943 consultórios no Brasil, 1.197 empresas de serviços de apoio de diagnose e terapia e 3.474 novas clínicas e ambulatórios especializados.
Na avaliação do presidente da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr, os investimentos do setor privado na saúde vêm crescendo para suprir uma deficiência crônica da área pública. “Soma-se aos baixos investimentos do governo em saúde, a falta de integração entre os dois setores. Funcionam como dois segmentos independentes, causando desperdício e duplicidade de ações”, constata. O presidente da FEHOESP defende a necessidade de um sistema integrado, com parceria público-privada e melhor gestão e fiscalização.
Planos de Saúde estável em Ribeirão Preto
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam que o número de pessoas assistidas pelos planos de saúde cresceu 53% desde a entrada em vigor da Lei dos Planos, em 2000, passando de cerca de 30 milhões de usuários para quase 48 milhões, em 2018. Nesse período, a população brasileira cresceu 18%.
Apesar do crescimento no período, Ali Mere aponta que em 2018 os planos de saúde tiveram queda em número de usuários, em relação aos anos anteriores. Segundo ele, a diminuição de renda de brasileiros pode ter sido um fator importante, ou seja, com menos poder aquisitivo, as pessoas tiveram que abrir mão de itens importantes, como os planos de saúde. Ali Mere, no entanto, fala que Ribeirão Preto não acompanhou o cenário nacional, com o número de usuários permanecendo estável.
Clínicas populares ficam entre o SUS e os planos de saúde
Diante do cenário de crescimento no setor privado e queda nos planos de saúde, ganharam força no mercado as chamadas clínicas populares, que prestam serviços de especialidades, com mais rapidez e valor inferior às tradicionais clínicas médicas.
Ali Mere vê esse crescimento como um indicativo de mercado financeiro, com o surgimento de potenciais consumidores e empresas que buscam ocupar um espaço no setor. O presidente da FEHOESP faz ressalvas quando a necessidade do paciente é de internação ou de exames mais complexos. Nesses casos o paciente terá que procurar pelo atendimento ao SUS – Sistema Único de Saúde ou arcar com internações particulares.
A comerciante Lourena Coelho é uma das que teve que deixar de pagar os planos de saúde e partir para atendimento do SUS ou de clínica populares. Ela conta que deixou de pagar o plano de saúde por conta de “preços abusivos” na sua faixa etária. Após deixar de pagar, ela teve um problema de saúde e recorreu às clínicas populares. Os exames, também particulares, apontaram para necessidade de uma cirurgia. Lourena teve que apelar ao SUS, mas está em uma fila de espera há mais de 45 dias, esperando pela internação e pela cirurgia.
O professor Washington Barbosa é outro que deixou de pagar o plano por questões financeiras. “O motivo foi óbvio. Um reajuste exorbitante ao completar 60 anos. Deixei de pagar após ter pago por vinte anos”, disse. A nutricionista Vivian Miranda, de 43 anos, pagava o plano dela e do filho de 13 anos. Hoje paga apenas do filho. Ela disse que quando precisa opta pela consulta em clínica particular tradicional, com os médicos que costuma ir. “Eu pagava mais de R$ 300,00 por mês. Hoje prefiro pagar as consultas. Felizmente nunca precisei de internações”, diz.
A jornalista Ana Cunha é outra que se preocupa com necessidade de internação. “Eu tinha o plano de saúde familiar e a primeira coisa, há uns três anos, foi cortar o meu e do meu ex-marido, que tinha ficado desempregado. Depois, eu estava pagando só para meus filhos, que têm 9 anos. Além deles serem crianças, são asmáticos e precisam de acompanhamento periódico com pneumologista. Além disso, tinha a questão do atendimento de emergência, que é numa segurança né. Mas de um ano e meio pra cá, tive uma queda nos rendimentos, o pai deles voltou a ficar desempregado. Não teve outro jeito a não ser cortar. Como eu mudei pra Ribeirão em agosto, passei a usar o postinho aqui da Vila Tibério. Confesso que me surpreendi com o atendimento aqui, a pediatra é extremamente atenciosa, o atendimento do postinho é muito bom”, salienta Ana. “Eu também passei em algumas consultas, fiz os exames de sangue de rotina. No geral, estamos sendo muito bem atendidos aqui. As vezes que precisei de encaixe pros meninos, consegui. Por enquanto, não vou voltar a pagar o plano de saúde. As consultas com o pneumologista pretendo pagar particular, já que é de seis em seis meses. Acho que nesse momento, compensa mais. A única coisa que preocupa é se precisar de internação. Mas é o risco”, finaliza.
Clínicas populares falam em consolidação no mercado
O médico Renan Memória é diretor de uma clínica popular localizada no Terminal Rodoviário de Ribeirão Preto, a clínica Ponto de Consulta. Para ele, o ano de 2018 foi de consolidação da sua clínica. “A procura pelos nossos serviços e parcerias com laboratórios cresceu mês a mês, o que nos possibilitou ampliar a quantidade de serviços oferecidos. Para o ano de 2019 temos a expectativa de crescimento em novas unidades na região, principalmente nas cidades com grande carência de médicos especialistas”, disse. Renan aponta como diferencial em relação às clínicas tradicionais “a disponibilidade de especialidades e o preço, pois um dos nossos ideais é fornecer qualidade no atendimento com preço acessível”, diz. “O público que atendemos é muito mais amplo do que imaginávamos. Inclusive pessoas que têm plano de saúde nos procuram, pela facilidade de agendamento, e pela qualidade do serviço que encontram. O boca-a-boca já se tornou a peça fundamental do nosso marketing, o que no final, faz com que possamos oferecer um bom serviço a um preço acessível” completa.
Uma das primeiras a acreditar no segmento foi a clínica Doqt, nos Campos Elíseos. Por meio de sua assessoria de imprensa, a clínica diz que os atendimentos são diferenciados e vão desde consultas em diferentes especialidades médicas até cerca de dois mil tipos exames, incluindo de sangue e de imagem, como ultrassom, por exemplo. “2018 foi um ano de muito aprendizado e também de conquistas. Tivemos a oportunidade de inaugurar uma nova unidade na cidade de Cajuru e há pretensão de novas unidades para este ano”, diz a nota. “Estamos ainda aumentando o nosso leque de serviços e também de prospecção de novas especialidades”, acrescenta. “Até quem tem plano de saúde, opta pelo atendimento. “Surgimos com a proposta de atender as classes C e D, a maior parcela até hoje. Mas a classe B também se identifica com esse modelo também, especialmente por causa da agilidade. O programa atrai até mesmo quem tem assistência médica particular, pessoas que não estão satisfeitas com seus planos de saúde. E também por aqueles que não querem ficar dependentes dos serviços públicos de saúde”, finaliza.