Quando entramos no assunto depressão, é comum nos depararmos com a expressão “mal do século”. Aliás, esse é um tema que, junto com outros relacionados à saúde mental, nunca esteve tanto em pauta como nos dias de hoje – ainda mais em época de pandemia, em que está sendo preciso, cada vez mais, cuidado com a saúde mental.
Segundo o Ministério da Saúde, a depressão é um problema médico grave e altamente prevalente na população em geral. De acordo com estudo epidemiológico, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%.
Ainda sobre essa expressão “mal do século”, a psiquiatra Maria Clara de Morais Faleiros Maranho explica que essa surgiu após a Organização Mundial de Saúde (OMS) expor, em relatório de 2017, que esse transtorno afeta impressionantes 322 milhões de pessoas no mundo e que será, provavelmente, em 2030, a doença mais comum.
No entanto, engana-se quem acredita que a depressão é exclusiva dos tempos modernos. Ainda segundo a psiquiatra, existem diversos relatos antigos de situações de pessoas que muito provavelmente estavam sofrendo de um transtorno depressivo.
Na realidade, o que tem acontecido é um aumento na capacidade de reconhecer e diagnosticar um quadro depressivo. “O primeiro Tratado de Medicina do mundo, originário da Grécia Antiga, já trazia a descrição de uma condição denominada ‘melancolia’, muito semelhante ao que atualmente denominamos ‘depressão’”, destacou Maria.
Porém, apesar de estar cada vez mais presente em nossa população mundial, muitas pessoas não sabem reconhecê-la e nem como prestar auxílio a quem a possui. Para que isso fique claro, primeiramente, Maria destaca a diferença entre a tristeza e a depressão.
“A tristeza é um sentimento humano. Na maior parte das vezes, normal e esperado ao longo da existência de qualquer um de nós. No entanto, um sentimento de tristeza que persiste a maior parte do tempo durante quase todos os dias, acompanhada por outros sintomas como perda de prazer em atividades que antes eram prazerosas, alterações no sono ou apetite, sensação de cansaço ou desânimo frequentes, problemas de concentração ou memória, ideias de morte ou suicídio, deve levantar a suspeita de adoecimento e ajuda profissional deve ser buscada”, explicou a psiquiatra.
Além disso, Maria destaca que, quando houver a suspeita de que algum familiar ou amigo está com depressão, a primeira medida é acolher a pessoa e colocar-se à disposição para ajudá-la e evitar julgamentos ou comentários que podem fazê-la se sentir ainda pior.
Como dito anteriormente, a pandemia pode ter sido um agravante em casos de pessoas que perderam entes queridos ou, até mesmo, seus empregos e sustentos. Infelizmente, a psiquiatra adverte que não há uma fórmula infalível para evitar a ocorrência de todos os casos de depressão. No entanto, manter uma rotina que inclua alimentação saudável, bons hábitos de sono, atividade física e contato frequente com pessoas queridas pode levar à diminuição do risco de desenvolvimento do transtorno.
“Tão importante quanto isso é buscar ajuda profissional o quanto antes caso sintomas depressivos comecem a surgir. A abordagem e o tratamento precoces são essenciais na prevenção do agravamento do quadro e eventuais complicações”, finalizou.
Sintomas da depressão
De acordo com o Ministério da Saúde, alguns sintomas da depressão são:
– Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir prazer ou alegria. Tudo parece vazio, o mundo é visto sem cores, sem matizes de alegria. Muitos se mostram mais apáticos do que tristes, referindo “sentimento de falta de sentimento”. Julgam-se um peso para os familiares e amigos, invocam a morte como forma de alívio para si e familiares. Fazem avaliação negativa acerca de si mesmo, do mundo e do futuro. Percebem as dificuldades como intransponíveis, tendo o desejo de colocar fim a um estado penoso. Os pensamentos suicidas variam desde o desejo de estar morto até planos detalhados de se matar. Esses pensamentos devem ser sistematicamente investigados;
– Retardo motor, falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo, lentificação do pensamento, falta de concentração, queixas de falta de memória, de vontade e de iniciativa;
– Insônia ou sonolência. A insônia geralmente é intermediária ou terminal. A sonolência está mais associada à depressão chamada Atípica;
– Apetite: geralmente diminuído, podendo ocorrer em algumas formas de depressão aumento do apetite, com maior interesse por carboidratos e doces;
– Redução do interesse sexual;
– Dores e sintomas físicos difusos como mal estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito, taquicardia, sudorese.
Setembro Amarelo
Por meio de seu portal, o Ministério da Saúde informa que a depressão é uma doença mental de elevada prevalência e é a mais associada ao suicídio. Segundo dados da OMS, cerca de um milhão de pessoas morrem por suicídio no mundo, número esse que equivale a uma morte a cada 40 segundos.
Além disso, a OMS afirma que 96,8% dos óbitos por suicídio tem como fator causal um transtorno mental não diagnosticado, não tratado ou tratado de forma inadequada. O trabalho que sustenta essa afirmação analisou os prontuários de pacientes que vieram a óbito por suicídio.
De acordo com informações da Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil, do Ministério da Saúde, ocorrem cerca de 10 mil mortes por suicídio anualmente no país. Ainda segundo esses dados, no Brasil, os homens são os mais afetados pelo suicídio, especialmente aqueles com 70 e mais anos de idade.
“Os suicídios masculinos são duas a quatro vezes mais frequentes dependendo da faixa etária, a partir dos 70 anos o risco do homem se suicidar é seis vezes o risco da mulher. Por outro lado, as tentativas de suicídio são 2,2 vezes mais frequentes entre mulheres comparadas aos homens”, completou o Ministério da Saúde por meio da cartilha.
Com o objetivo de prevenir e reduzir estes números, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo.
O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é, oficialmente, no dia 10 de setembro. Porém, a campanha não se limita somente a esta data. Durante o mês de setembro, as redes sociais da associação, assim como todos os seus meios de comunicação (publicações, ABPTV e site), transmitem informações sobre a campanha.
Em 2020, a ABP trabalha com o mote central “É preciso agir”, onde foca em orientar a população de que é necessário tomar atitudes para ajudar quem precisa.
Ribeirão Preto
Em Ribeirão Preto, por parte da Prefeitura Municipal, a campanha do Setembro Amarelo será realizada em três dias, com a presença de oito palestrantes diferentes. O evento será online e por meio de um link (https://meet.google.com/ usx-qias-gmo). Confira as datas e os profissionais envolvidos:
– Dia 10 de setembro, das 15h às 17h – O papel da atenção básica na prevenção do suicídio
– Profa. Kelly Vedana (aspectos gerais da prevenção do suicídio);
– Profa. Marina Lemos (a importância da gratidão na prevenção do suicídio);
– Marcus Vinicius Santos (protocolo de prevenção do suicídio na atenção básica);
– Enfa. Daniela Bittar (a importância da notificação da violência autoprovocada).
– Dia 17 de setembro, das 15h às 17h – Manejo da crise suicida nos serviços de urgência
– Dr. Gabriel Elias (epidemiologia das urgências psiquiátricas e a rede de urgência do município de Ribeirão Preto);
– Enf. Sinval Avelino dos Santos (manejo da enfermagem na crise suicida);
– Enfa. Daniela Bittar (a importância da notificação da violência autoprovocada).
– Dia 24 de setembro, das 15h às 17h – A importância da escuta e do acolhimento na prevenção do suicídio nos CAPS
– Profa. Kelly Vedana (plano de gestão de crise);
– Daniel Fernando Magrini (experiências grupais em suicídio e valorização da vida);
– Marcus Vinicius Santos (manejo da crise suicida nos CAPSs e a busca ativa dos casos de tentativas de suicídio).
Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde informou que, este ano, optou-se pelo foco na capacitação dos profissionais da rede para qualificar o atendimento à população e facilitar o acesso.