Todos os moradores de Serrana – cidade da Região Metropolitana de Ribeirão Preto – acima de 18 anos serão vacinados contra a covid-19, por fazerem parte de um projeto de pesquisa do Instituto Butantan, que enviará 30 mil doses da Coronavac, desenvolvida em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac, quantidade suficiente para vacinar todos os adultos.
A cidade tem 45.844 habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O projeto inédito no mundo está sendo conduzido pelo Butantan em parceria com o Hospital Estadual de Serrana, o governo do Estado e a prefeitura da cidade. O município fica a 24 quilômetros de Ribeirão Preto e a 314,9 quilômetros da capital.
Somente moradores podem participar. Para facilitar a imunização em massa, a cidade foi divida em 25 partes, que depois formaram quatro regiões separadas por cores. A vacinação será feita de quarta-feira a domingo, de acordo com o cronograma para cada cor, a partir de 17 de fevereiro.
Com a primeira dose serão imunizados os moradores de Serrana da região verde (de 17 a 20 de fevereiro), em seguida os da região amarela (de 24 a 27 de fevereiro), da região cinza (de 3 a 6 de março) e da região azul (10 a 13 de março).
Segundo a prefeitura, os moradores só podem tomar a vacina no período correspondente à cor de sua região, por conta da metodologia da pesquisa.
A expectativa é a de que a vacinação seja concluída em dois meses. A partir de quarta-feira (10) será feito um cadastro dos moradores, que serão orientados sobre qual região pertencem.
Mulheres grávidas ou em amamentação, quem teve febre nas últimas 72 horas antes da vacinação e portadores de doenças graves não podem receber a dose e um médico orientará a população sobre isso nos locais das aplicações. A prefeitura informou ainda que os postos de vacinação serão montados em oito escolas.
Segundo o diretor o Butantan, Dimas Covas, a escolha da cidade para a pesquisa teve como um dos fatores o fato de no ano passado o município ter sido objeto de um inquérito sorológico para detectar a prevalência do novo coronavírus na população.
Os resultados apresentaram números elevados, que chamaram a atenção do Butantan. Em uma das fases, chegou a mostrar que 5% dos moradores estavam ativos para c ovid-19. O objetivo do projeto é verificar o impacto de uma vacina em uma população inteira. Por isso, a ideia é vacinar o maior número possível de pessoas adultas.
Com a iniciativa, que tem caráter de pesquisa clínica, será possível estudar a eficiência da vacina na diminuição da transmissibilidade do vírus. A eficácia e a segurança do imunizante já foram comprovadas por meio de testes de fase 3 com 12,5 mil voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros.
“Foram feitos vários estudos clínicos para verificar qual a eficácia da vacina com relação à proteção. Nenhum foi desenhado para demonstrar o efeito sobre a epidemia e as graves condições que a epidemia determina”. Dimas Covas sclassificou a epidemia como “uma grande tragédia” que afeta todas as vidas de diversas maneiras, ultrapassando as barreiras do vírus, da doença e dos hospitais.
“É uma tragédia econômica social, que quebra laços e o funcionamento normal de uma sociedade. Isso não é avaliado pelos estudos clínicos por isso temos que ter uma visão mais global.” A meta é a de vacinar pelo menos 30 mil pessoas na cidade. A participação no estudo é opcional, mas Dimas reforçou que quanto maior for a adesão, maior será a contribuição do estudo para o mundo.
“Com isso a gente acompanha a evolução da epidemia, avaliando aspectos técnicos que permitirão fazer cálculos, projeções, calcular se a vacina é eficaz em diminuir a transmissão. Para a população importante é que ela estará sendo vacinada em massa.”
Serrana também foi escolhida por ter cerca de dez mil habitantes que se deslocam diariamente para a região por conta de trabalho, o que pode favorecer a propagação do novo coronavírus. Além disso, a cidade fica perto de Ribeirão Preto, considerado importante polo de saúde do país, que fornecerá estrutura de apoio para a pesquisa.
Uma das perguntas que a pesquisa quer responder é se com a Coronavac será possível o país sair da pandemia. A vacinação não será obrigatória, mas a meta do Butantan é vacinar o maior número possível de pessoas da população adulta. “Já sabemos que essa vacina é segura e eficaz, mas agora, quando pensamos no coletivo, na sociedade, será que nós vamos conter a pandemia com essa vacinação? Não estamos pensando em pessoas isoladas. Estamos pensando em comunidades”, diz.
“Estamos prevendo uma vacinação que pode chegar a 30 mil pessoas. E, com isso, a gente acompanha a evolução da epidemia. Tem aspectos técnicos que vão permitir fazer cálculos, fazer projeções, que vão calcular se a vacina é eficaz em diminuir a transmissão ou não, qual a porcentagem. Tem toda uma metodologia que vai permitir que isso seja feito”, explica Covas.