O Instituto Butantan encerrou no domingo, 11 de abril, a campanha de reforço da vacinação contra a covid-19 em Serrana. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (12), o “Projeto S” terminou com 27.160 pessoas imunizadas com as duas doses da Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida em parceria com a biofarmacêutica Sinovac.
Um dia após ter completado 72 anos de emancipação política, a cidade torna-se a primeira do Brasil com praticamente toda a população com mais de 18 anos vacinada com as duas doses. Entre os 28.380 voluntários que se cadastraram para receber o imunizante, 27.722 receberam a primeira dose da vacina. A desistência entre a primeira e a segunda aplicação foi de cerca de 2%, equivalente a 562 pessoas.
O total de moradores imunizados com as duas doses corresponde a 95% do público-alvo (28.380). Também corresponde a 59,5% do total de habitantes da cidade da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, de 45.644, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O público cadastrado, de 28.380 pessoas, equivale a 62,18% da população serranense.
Por terem ficado de fora dos testes nas fases anteriores dos estudos sobre a Coronavac, não puderam ser imunizadas menores de idade, mulheres grávidas ou em amamentação, pessoas com doenças graves e quem teve febre 72 horas antes da vacinação.
O “Projeto S” é um inédito estudo clínico no mundo. A cidade foi dividida em quatro regiões (verde, amarelo, cinza e azul), e a vacinação ocorreu em oito semanas. Segundo o Instituto Butantan, foram utilizadas cerca de 55 mil doses da Coronavac para esta pesquisa.
A estimativa é o resultado parcial da pesquisa seja divulgado em maio e que até junho (13 semanas) já seja possível obter as respostas necessárias para conhecer os efeitos da imunização em massa. O estudo clínico tem como principais objetivos analisar a eficiência da vacinação na redução de casos de covid-19 e no controle da epidemia e na queda na transmissão do vírus de uma pessoa para outra.
Também estuda o impacto na redução da carga de doença, por meio da ocupação de leitos hospitalares e número de consultas médicas, por exemplo. A adesão da população à vacinação, reações adversas e efeitos indiretos na economia e na circulação de pessoas também estão sendo analisados.
O Butantan pretende testar ferramentas de combate a epidemias, como um aplicativo de controle da vacinação, de acompanhamento de reações, de censo geolocalizado em tempo real, entre outros. Também avalia a interação da vacina com a variante P.1, de Manaus (AM). Os moradores vacinados serão monitorados por um ano.
“Temos uma cobertura vacinal que vai nos permitir uma avaliação muito fidedigna do efeito da vacinação na comunidade”, diz o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palácios. Segundo ele, ainda é preciso esperar até o início de maio para conhecer os resultados. Diz ainda que a aplicação das 54,8 mil doses no município foram verificados 46 eventos adversos graves. Nenhum dos casos estava ligado com a vacinação.
“A vacina só apresentará eficácia nas pessoas que tomaram as duas doses. É um desafio que foi atingido conseguir que a quase totalidade dos que tiveram a primeira dose tomassem a segunda”, explica Palácios. Entre as pessoas que não receberam a segunda dose, estão mulheres que tiveram gravidez após a primeira e pessoas que se mudaram da cidade.
Segundo ele, os resultados não serão imediatos. “Só vamos ter respostas definitivas depois que todos os grupos tiverem uma grande quantidade de anticorpos, na primeira semana de maio. Isso não quer dizer que não vamos ter resultados antes”, ressalta.
“O primeiro foi a aceitabilidade da vacina. Isso se conseguiu com diálogo, com um trabalho de convencimento para que a cidade se apropriasse de um projeto de pesquisa. Serrana já é um exemplo para o Brasil e para outros lugares do mundo. Que o Brasil aprenda essa lição e que as autoridades fiquem harmonizadas quando se trata de cuidar da saúde.”