O jornal Tribuna fez um comparativo entre a cidade de Serrana (que recebeu o ‘Projeto S’) e a cidade de Jardinópolis, que possui o número mais próximo da população
Para tentar entender os efeitos da vacinação coletiva contra o coronavírus e dar parâmetros de análise aos leitores que têm enviado muitos questionamentos sobre o assunto, o Tribuna resolveu fazer um levantamento comparativo entre dois municípios da região com perfis semelhantes: Serrana e Jardinópolis. A escolha das duas cidades foi feita levando-se em consideração que Serrana, objeto de um estudo inédito do Instituto Butantan já vacinou 95% de sua população adulta contra o coronavírus e que Jardinópolis, a exemplo das outras cidades brasileiras segue o Plano Nacional de Imunização e até o momento vacinou com as duas doses apenas 10,76% de sua população.
Outro dado considerado para a comparação é o fato de que tanto Jardinópolis, como Serrana tem população semelhante. Enquanto Jardinópolis, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui 44.970 moradores, Serrana tem 45.644. Também foi considerado o fato das duas cidades ficarem próximas de Ribeirão Preto: Jardinópolis a 22,7 Km e Serrana a 25,7 km.
Isso significa que as duas cidades estão da mesma forma ligadas a um grande polo regional, no caso Ribeirão Preto. Diariamente, parte da população dos dois municípios, se desloca para trabalhar por aqui. A estimativa é que cerca de dez mil pessoas de cada uma destas cidades trabalhem em Ribeirão Preto.
Como padrão comparativo sobre os efeitos da vacinação nos dois municípios, o Tribuna delimitou o período do levantamento dos casos confirmados, descartados e óbitos causados pelo coronavírus (covid-19) entre os meses de fevereiro e maio. A escolha se deu porque foi a partir de fevereiro que a população de Serrana começou a ser vacinada em massa no estudo do Instituto Butantan.
Entre 17 de fevereiro e abril deste ano, ao longo de oito semanas, 27.160 moradores daquele município receberam o esquema vacinal completo: duas doses da Coronavac com intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda. Isso representou uma cobertura próxima a 95% da população adulta, segundo censo de saúde feito previamente pelo Butantan.
No caso de Jardinópolis, a vacinação da população segue a definição dos planos Nacional e Estadual de Imunização e realiza a imunização a partir dos grupos prioritários definidos por eles. Até o momento foram vacinados com a primeira dose da vacina na cidade 12.211 pessoas. Ou seja, 26,64% da população. Já com a segunda dose foram imunizadas 4.839 pessoas, o que significa 10,76%.
O único fator não possível de ser analisado foi qual vacina foi aplicada majoritariamente em toda população de Jardinópolis, já que além da Coronavac os municípios brasileiros têm recebido doses da Astrazeneca. No caso de Serrana o estudo do Butantan foi feito com a Coronavac, imunizante produzido por ele.
Vale lembrar que segundo os especialistas, os efeitos da vacina só começam a ser verificados a partir, em média, de 14 dias do recebimento da primeira dose e que somente com a aplicação da segunda dose da Coronavac seria possível verificar todos os efeitos do imunizante.
Segundo o levantamento feito pelo Tribuna, nos meses de fevereiro e março, o número de casos confirmados, descartados e óbitos nas duas cidades são semelhantes. Em março, por exemplo, Jardinópolis registrou 334 casos do coronavírus, descartou 499 e registrou 16 óbitos. Já Serrana, confirmou 692 casos, descartou 1.376 e teve 19 óbitos.
A partir do avanço da vacinação em massa em Serrana, houve uma mudança significativa no número de casos e de mortes entre os dois municípios. Em abril Jardinópolis registrou 607 novos casos e teve 21 óbitos contra 235 casos e 6 mortes registrada em Serrana.
Em maio os números também continuaram diametralmente opostos: Jardinópolis teve 690 casos novos e 21 mortes enquanto Serrana teve somente 333 novos casos e apenas 6 óbitos.
Nos meses analisados pelo Tribuna Jardinópolis teve 1.868 casos confirmados contra 1744 de Serrana. Já o total de óbitos em Jardinópolis foi de 67 contra 33 de Serrana (ver dados nesta pagina).
Os números do Butantan
Segundo dados divulgados pelo Instituto Butantan a imunização de toda a população adulta do município de Serrana, também fez os casos sintomáticos de Covid-19 despencarem 80%, as internações, 86%, e as mortes, 95% após a segunda vacinação do último grupo.
A redução da incidência de casos foi constatada por meio da comparação dos dados desde o início do projeto – até completar a vacinação de todos os grupos – com o restante do trimestre avaliado (fevereiro, março e abril de 2021).
Divulgados em 31 de maio pelo governo paulista, os dados do chamado Projeto S, também teriam mostrado que a vacinação em massa protege não só aqueles que receberam os imunizantes, mas também os que eventualmente não possam ser vacinados. Em outras palavras, confirmaria a hipótese que, após ampla cobertura vacinal, a tal imunidade de rebanho possa ser atingida freando os avanços da covid-19.
Outra conclusão foi a avaliação da incidência da doença em Serrana na comparação com as cidades vizinhas. Serrana tem cerca de 10 mil moradores que trabalham em Ribeirão Preto diariamente. Porém, enquanto Ribeirão Preto e cidades da região vêm apresentando alta nos casos de Covid-19, Serrana manteve taxas de incidência baixas.
Ou seja, além da queda das infecções, os moradores que transitam em outras cidades não trouxeram um incremento relevante nos casos.
O Projeto S teria criado um “cinturão imunológico” em Serrana, uma barreira coletiva contra o vírus, reduzindo drasticamente a transmissão no município.
A pesquisa, pioneira no mundo, foi desenvolvida pelo Butantan, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi realizada em parceria com a Secretaria de Saúde e a Prefeitura Municipal de Serrana.