O governador João Doria (PSDB) lançou nesta quarta-feira, 17 de fevereiro, em Serrana, o “Projeto S”, estudo encabeçado pelo Instituto Butantan para analisar a capacidade de redução da transmissão do novo coronavírus da vacina Coronavac, desenvolvida em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac.
“Serrana entra para a história da ciência mundial. Esse é o primeiro estudo no mundo de imunização plena de uma comunidade, de uma cidade com 30 mil pessoas que serão vacinadas. Foram separadas 60 mil doses para esse estudo, o que não implica em dedução do compromisso para entrega de 100 milhões de doses da vacina do Butantan ao governo federal”, disse o governador.
A solenidade foi realizada na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Maria Celina Walter de Assis, no Centro de Serrana. Só não participam do estudo os menores de 18 anos, grávidas, lactantes e os que não podem tomar a vacina por recomendação médica. Doria esteve acompanhado do secretário estadual de Saúde, Jean Carlo Gorinchteyn, e do diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas.
Conforme havia informado Covas na última semana, o município foi escolhido pelo número de habitantes, proximidade com centros de pesquisas e taxa de transmissão elevada do vírus. Serrana fica a menos de 25 quilômetros do Centro de Ribeirão Preto, município onde funcionam centro de pesquisa e hospitais estaduais.
O “Projeto S” pretende vacinar cerca de 30 mil moradores de Serrana, em caráter de pesquisa clínica, com a finalidade de testar a redução do contágio pelo novo coronavírus em uma população. O estudo foi desenvolvido pelo Instituto Butantan.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRPUSP) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e a prefeitura de Serrana.
Segundo Marcos Borges, pesquisador do projeto e professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto, no total 29 mil pessoas estão aptas a serem vacinados. A cidade tem 45.844 habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, 63,2% da população será imunizada. Somente moradores podem participar.
A vacinação começou na tarde de ontem com moradores da região verde. Esta etapa vai até dia 21. Por se tratar de estudo clínico, a imunização de cada pessoa leva, em média, uma hora. A segunda etapa, com moradores da região amarela, será de 24 a 28 de fevereiro. A região cinza será imunizada de 3 a 7 de março e , por fim, as pessoas que moram na região azul receberão a Coronavac de 10 a 14 de março.
A segunda dose começará a ser aplicada entre o 21º e o 30º dia após a primeira. Mulheres grávidas ou em amamentação, quem teve febre nas últimas 72 horas antes da vacinação e portadores de doenças graves não podem receber a dose e um médico orientará a população sobre isso nos locais das aplicações.
Para facilitar a imunização em massa, Serrana foi divida em 25 partes, que depois formaram quatro regiões separadas por cores. Segundo a prefeitura, os moradores só podem tomar a vacina no período correspondente à cor de sua região, por conta da metodologia da pesquisa.
A expectativa é a de que a vacinação seja concluída em dois meses. A estimativa é a de que em 13 semanas já seja possível obter as respostas necessárias para conhecer os efeitos da imunização em massa. Segundo Dimas Covas, a escolha da cidade para a pesquisa teve como um dos fatores o fato de no ano passado o município ter sido objeto de um inquérito sorológico para detectar a prevalência do novo coronavírus na população.
Os resultados apresentaram números elevados, que chamaram a atenção do Butantan. Em uma das fases, chegou a mostrar que 6,2% dos moradores estavam ativos para covid-19 e 10,6% tinham o coronavírus. O objetivo do projeto é verificar o impacto de uma vacina em uma população inteira. Por isso, a ideia é vacinar o maior número possível de pessoas adultas.
Com a iniciativa, que tem caráter de pesquisa clínica, será possível estudar a eficiência da vacina na diminuição da transmissibilidade do vírus. A eficácia e a segurança do imunizante já foram comprovadas por meio de testes de fase 3 com 12,5 mil voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros.
Serrana também foi escolhida por ter cerca de dez mil habitantes que se deslocam diariamente para a região por conta de trabalho, o que pode favorecer a propagação do novo coronavírus. Além disso, a cidade fica perto de Ribeirão Preto, considerado importante polo de saúde do país, que fornecerá estrutura de apoio para a pesquisa.